Bolsonaro preso? Maioria dos brasileiros quer ex-presidente na cadeia, revela Datafolha
Clamor por Justiça: 52% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro deve ser preso após investigações sobre tentativa de golpe
Uma nova pesquisa do Datafolha, divulgada em abril de 2025, lança luz sobre um dos assuntos mais polarizadores da política brasileira contemporânea: Bolsonaro preso. O levantamento mostra que mais da metade dos brasileiros — 52% — acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveria estar atrás das grades, em decorrência das revelações envolvendo uma suposta trama golpista para mantê-lo no poder após a derrota nas eleições de 2022. O número reflete um forte desejo por justiça em meio a uma crise institucional que abalou o país.
Com base em dados coletados entre 1º e 3 de abril, a pesquisa ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios, e a margem de erro é de dois pontos percentuais. Os resultados colocam em destaque não apenas o desgaste da imagem de Bolsonaro, mas também o aprofundamento da divisão social e política em torno de seu legado.
Investigação e julgamento: o que pesa contra Bolsonaro?
A pressão pela prisão de Bolsonaro vem na esteira da recente decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que o tornou réu em um processo envolvendo tentativa de abolição do Estado democrático de Direito. A acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR), sustentada por investigações da Polícia Federal, aponta o ex-presidente como um dos articuladores de um plano para manter-se no poder de forma ilegítima — o que incluiria reuniões com aliados militares, elaboração de minutas de golpe e incentivo a atos antidemocráticos.
O caso ganhou mais força após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília. De acordo com a PGR, esse episódio foi consequência direta do fracasso da tentativa de golpe no fim de 2022. Bolsonaro nega participação, mas já modificou sua narrativa: inicialmente negava qualquer envolvimento, agora admite que “avaliou cenários constitucionais” sem colocá-los em prática.
Polarização e opinião pública: quem quer Bolsonaro preso?
O desejo de ver Bolsonaro preso varia entre diferentes regiões e segmentos da população, revelando um retrato das fraturas sociopolíticas do país. No Nordeste, reduto tradicional do PT, 59% defendem a prisão do ex-presidente. No Sul, a situação se inverte: 49% acreditam que ele deve permanecer livre, contra 46% que querem vê-lo na cadeia.
A análise por religião também revela contrastes marcantes. Entre os católicos, 55% são favoráveis à prisão de Bolsonaro. Já entre os evangélicos — uma base importante do bolsonarismo —, 54% são contra a prisão e apenas 38% apoiam a medida.
A classe social e o grau de instrução também influenciam a percepção. Pessoas com ensino superior (50%) e renda acima de 10 salários mínimos (47%) acreditam mais na possibilidade de prisão. Por outro lado, jovens de 16 a 24 anos são mais céticos: 57% acham que Bolsonaro não será preso. Entre quem tem escolaridade média ou renda de 2 a 5 salários mínimos, esse índice se mantém alto, em torno de 56%.
Anistia ou punição? A nova cruzada de Bolsonaro
Mesmo com seu futuro político selado pela inelegibilidade até 2030, Bolsonaro permanece ativo no debate público. Recentemente, ele passou a liderar manifestações em favor da anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro — um movimento interpretado como tentativa de reconstruir seu capital político e reforçar sua base mais fiel.
Na manifestação mais recente, no domingo (6), Bolsonaro contou com a presença de aliados de peso, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Ex-ministro do ex-presidente, Tarcísio tenta equilibrar-se entre manter uma imagem moderada e não ser visto como traidor do bolsonarismo.
Segundo o Datafolha, 79% dos eleitores que dizem votar em Tarcísio acreditam que Bolsonaro não deveria ser preso. Além disso, 62% desses eleitores também acham que ele não será condenado à prisão, refletindo a força da influência de Bolsonaro mesmo fora do cargo.
Prisão de Bolsonaro: apenas desejo popular ou real possibilidade?
Além da percepção popular sobre o que deveria acontecer, a pesquisa Datafolha também investigou o que os brasileiros acham que vai acontecer. A resposta foi equilibrada: 52% dizem que Bolsonaro não será preso, contra 41% que acreditam que ele acabará na cadeia.
Essa desconfiança na aplicação da justiça reflete o histórico de impunidade em casos envolvendo figuras públicas no Brasil. Ainda assim, o avanço do processo no STF e a contundência das provas apresentadas pela Polícia Federal e pela PGR mantêm o caso sob os holofotes.
Impacto político: o bolsonarismo sem Bolsonaro
Com o ex-presidente inelegível, o futuro do bolsonarismo está em jogo. A figura de Tarcísio de Freitas desponta como herdeiro político natural, mas sua estratégia de moderação e aproximação institucional pode esvaziar parte da base mais radical do movimento. O apoio incondicional ao ex-presidente, demonstrado nas manifestações e em falas públicas, tem um custo: manter-se preso ao passado de Bolsonaro ou renovar a imagem do conservadorismo no Brasil?
Seja qual for o caminho, a possibilidade de Bolsonaro preso tem potencial de moldar os rumos da direita brasileira nos próximos anos. Para seus adversários, sua prisão significaria um marco na luta contra o autoritarismo. Para seus apoiadores, seria a consagração de uma perseguição política.
A democracia diante de um divisor de águas
A polarização em torno do futuro de Jair Bolsonaro transcende o aspecto jurídico. A possibilidade de vê-lo atrás das grades é vista por muitos como um divisor de águas na história democrática recente do Brasil. A justiça brasileira, pressionada por uma sociedade dividida, enfrenta o desafio de manter sua credibilidade e aplicar a lei com rigor, independentemente do nome envolvido.
Enquanto isso, o tema “Bolsonaro preso” continuará sendo uma das pautas mais buscadas, debatidas e exploradas politicamente nos próximos meses. A cobertura midiática, as decisões do STF e a movimentação de seus aliados e adversários serão decisivos para os desdobramentos que ainda estão por vir.