Câncer Gástrico e Alimentação: Como Açúcar e Sal Influenciam o Risco da Doença
Uma pesquisa publicada na revista científica BMC Medicine revelou como os hábitos alimentares podem aumentar o risco de câncer gástrico. O estudo, realizado no Brasil, aponta que o açúcar adicionado aos alimentos é um dos principais vilões em padrões alimentares não saudáveis (PANS), enquanto o excesso de sal eleva o risco da doença mesmo entre aqueles que seguem um padrão alimentar saudável (PAS).
Com o câncer de estômago ocupando a sexta posição entre os mais comuns no Brasil, compreender os fatores alimentares relacionados à doença é crucial para a saúde pública. Estima-se que entre 2023 e 2025 haverá 21 mil novos casos no país, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A Relação Entre Alimentação e Câncer Gástrico
O estudo brasileiro classificou os padrões alimentares em dois grandes grupos:
- Padrão Alimentar Não Saudável (PANS): inclui alto consumo de carnes processadas, refrigerantes ricos em açúcar e fast-food.
- Padrão Alimentar Saudável (PAS): caracteriza-se pela ingestão elevada de vegetais, frutas e baixo teor de sódio.
Os resultados indicam que, no PANS, os açúcares adicionados contribuem significativamente para o aumento do risco de adenocarcinoma gástrico, com impacto variando entre 7% e 21%. Já no PAS, o sódio foi identificado como principal mediador no risco de desenvolvimento do câncer, mesmo em dietas consideradas saudáveis.
Fatores de Risco no Contexto Brasileiro
A pesquisa envolveu 1.751 participantes de quatro capitais brasileiras: São Paulo, Goiânia, Fortaleza e Belém. Essa última, inclusive, registra as maiores taxas de câncer gástrico no país. Os dados foram coletados utilizando um questionário alimentar adaptado com 130 itens, permitindo uma análise detalhada dos padrões de consumo alimentar e seus efeitos diretos e indiretos na saúde.
De acordo com os autores, cada região do Brasil apresenta hábitos alimentares únicos, mas que podem levar a riscos semelhantes. Essa perspectiva reforça a necessidade de estratégias locais adaptadas às realidades culturais e alimentares.
O Papel do Açúcar Adicionado
O açúcar adicionado, amplamente presente em refrigerantes, doces e alimentos processados, desempenha um papel crucial na relação entre alimentação e câncer gástrico. Estudos anteriores já associaram o consumo excessivo de açúcar a diversas doenças, incluindo obesidade, diabetes e condições inflamatórias, que são fatores de risco conhecidos para o câncer.
Em uma dieta de 2 mil calorias diárias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo de açúcar adicionado não ultrapasse 50 gramas por dia – o equivalente a dez colheres de chá. No entanto, uma única lata de refrigerante pode conter até 38 gramas de açúcar, evidenciando o desafio para os consumidores brasileiros.
O Excesso de Sódio e Seus Efeitos
O sódio também foi identificado como fator de risco significativo. Estudos apontam que 60% da população adulta brasileira consome mais sódio do que o recomendado. Os principais alimentos que contribuem para essa ingestão excessiva incluem pão branco, arroz, feijão, carnes bovinas e até produtos integrais, como cereais e biscoitos.
A OMS recomenda um limite diário de 2 gramas de sódio, o equivalente a cinco colheres de café de sal. No entanto, o consumo médio brasileiro é quase o dobro dessa recomendação, o que potencializa os riscos de gastrite atrófica, metaplasia e, eventualmente, câncer gástrico.
Impacto da Educação Alimentar e Rotulagem
Uma das soluções apontadas pelos pesquisadores é a ampliação da educação alimentar. Segundo Maria Paula Curado, líder do estudo, é necessário adotar uma abordagem prática e regionalmente adaptada para informar a população sobre os riscos associados à dieta. Isso inclui a capacitação de profissionais de saúde e a disseminação de informações em postos de atendimento.
Desde 2022, o Brasil implementou novas regras de rotulagem de alimentos, que incluem o símbolo de lupa para destacar produtos com alto teor de sódio ou açúcar. Apesar disso, os pesquisadores sugerem a implementação de estratégias adicionais para promover escolhas alimentares mais saudáveis.
A Importância de Estilos de Vida Saudáveis
O câncer gástrico tem um alto índice de mortalidade – 75% dos pacientes diagnosticados morrem em até cinco anos. Portanto, medidas de prevenção, como a adoção de padrões alimentares saudáveis, são essenciais para reduzir a incidência da doença. A introdução de campanhas educativas e políticas públicas voltadas à redução do consumo de sódio e açúcares pode ser um passo importante na luta contra o câncer gástrico.
A pesquisa reforça a importância de padrões alimentares adequados para a prevenção do câncer gástrico. O estudo pioneiro, que analisou dados de diferentes regiões brasileiras, oferece novas perspectivas sobre a relação entre alimentação e saúde pública. Reduzir o consumo de açúcar adicionado e sódio deve ser uma prioridade para indivíduos e governos, com foco na educação alimentar e na adoção de políticas públicas efetivas.