O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados recomendou, por ampla maioria de 15 votos a 1, a cassação do mandato do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ). A medida seguiu o voto da relatora Jack Rocha (PT-ES), que apontou irregularidades graves e condutas incompatíveis com o decoro parlamentar, além de evidências que ligam Brazão ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) em 2018.
Relevância do Caso para o Decoro Parlamentar
O caso de Chiquinho Brazão ganhou destaque nacional após a investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que concluiu que o deputado e seu irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, foram os mandantes da execução de Marielle Franco. A vereadora e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados em uma emboscada no centro do Rio de Janeiro, em março de 2018.
Segundo a relatora Jack Rocha, as provas reunidas durante o processo sugerem fortemente que Chiquinho Brazão mantinha relações com milícias da Zona Oeste do Rio de Janeiro, região conhecida por ser dominada por grupos paramilitares. A atuação de Marielle Franco contra esses grupos, em particular, em esquemas de loteamentos ilegais, teria motivado o crime.
A Investigação e a Defesa de Chiquinho Brazão
Desde sua prisão pela PF, em março deste ano, Brazão tem enfrentado diversas acusações. Além de ser apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle, o deputado é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por homicídio qualificado e tentativa de homicídio. Sua defesa tem sustentado sua inocência, argumentando que o parlamentar não teve envolvimento com o crime e que a vereadora era sua amiga durante o período em que ambos atuaram na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
A defesa também questiona a legitimidade do julgamento no Conselho de Ética, argumentando que as supostas irregularidades ocorreram antes de Brazão tomar posse como deputado federal, em 2019. Contudo, a relatora Jack Rocha rebateu esse argumento, afirmando que um mandato parlamentar não pode ser utilizado como “perdão automático” para atos cometidos anteriormente.
O Voto de Jack Rocha e as Consequências Políticas
Em seu voto, Jack Rocha defendeu a cassação do mandato de Brazão como uma medida essencial para preservar a dignidade da Câmara dos Deputados e evitar que a Casa seja vista como um “centro de impunidade”. A deputada ressaltou que a manutenção do mandato de um parlamentar preso preventivamente compromete a imagem da instituição e mina a confiança pública no papel constitucional da Câmara.
A decisão do Conselho de Ética agora depende de aprovação no plenário da Câmara, onde será necessária uma maioria absoluta de 257 votos, em uma votação aberta e nominal. Caso a recomendação seja confirmada, Brazão perderá seu mandato e ficará inelegível, marcando um importante precedente na história política recente do Brasil.
Contexto Histórico e Desdobramentos Futuros
Este é um dos casos mais emblemáticos de cassação de mandato por envolvimento com atividades criminosas, especialmente pela gravidade das acusações. Desde a criação do Conselho de Ética, em 2001, apenas oito das 23 recomendações de perda de mandato foram acatadas pelo plenário da Câmara, o que demonstra a dificuldade de se obter consenso em casos tão sensíveis.
A decisão final sobre o mandato de Chiquinho Brazão poderá ter implicações significativas para a política brasileira, especialmente no contexto do combate à impunidade e à corrupção. O caso também destaca a importância da luta contra as milícias no Rio de Janeiro, um problema estrutural que continua a desafiar as autoridades e a sociedade civil.
A Continuação das Investigações
Além do julgamento no âmbito legislativo, as investigações criminais contra Chiquinho Brazão continuam em curso. O STF já o tornou réu, junto com seu irmão Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, que também é apontado como um dos mentores do crime. A expectativa é de que novos desdobramentos ocorram nos próximos meses, à medida que o caso avança nos tribunais.
Enquanto isso, a defesa de Brazão poderá recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, contestando os procedimentos do Conselho de Ética. Caso o recurso seja aceito, a CCJ terá até cinco dias úteis para analisá-lo e decidir se o processo segue para votação no plenário.
A morte de Marielle Franco se tornou um símbolo da luta contra a violência política e as milícias no Brasil. A resolução desse caso é vista como um passo crucial para a justiça e para a garantia dos direitos humanos no país. Independentemente do desfecho, o processo de cassação de Chiquinho Brazão reafirma a necessidade de rigor e transparência na vida pública.