O mercado de baterias de íons de lítio, essencial para a produção de veículos elétricos (VE), tem visto um domínio crescente das empresas chinesas. Em 2023, as companhias do país foram responsáveis por mais de 80% das remessas globais de componentes-chave para esse tipo de bateria, consolidando sua presença nas cadeias de suprimentos globais. De acordo com o Yano Research Institute, sediado em Tóquio, a China lidera em todas as quatro partes principais que compõem essas baterias: cátodos, ânodos, eletrólitos e separadores.
A Supremacia Chinesa nas Cadeias de Suprimentos
Os números são impressionantes. As empresas chinesas dominaram 89,4% do mercado global de cátodos, 93,5% de ânodos, 87,4% de separadores e 85% de eletrólitos em 2023. Esse monopólio sobre os componentes de baterias se deu, em grande parte, devido à crescente demanda interna por veículos elétricos e híbridos plug-in. Mais de 30% dos veículos novos vendidos na China no ano passado eram movidos por eletricidade, o que impulsionou significativamente a produção local.
O avanço da participação chinesa no mercado global de baterias, especialmente nos separadores, é notável. Em apenas dois anos, essa fatia de mercado cresceu 13,1 pontos percentuais. Em contrapartida, o Japão, que já foi um dos principais players nesse setor, viu sua participação cair de 20% para 9,7%.
Demanda Crescente por VE’s Impulsiona Produção Chinesa
A China, maior mercado consumidor de veículos elétricos, também se destaca como a principal produtora de baterias automotivas, com cerca de dois terços da demanda global vindo de seu território. Segundo Tang Jin, pesquisador do Mizuho Bank, a indústria chinesa tem se beneficiado da demanda doméstica, mas também está expandindo seus horizontes para o exterior.
A Contemporary Amperex Technology (CATL), maior produtora de baterias automotivas do mundo, tem sido uma das líderes dessa expansão internacional. Outras empresas chinesas estão seguindo o exemplo, investindo pesadamente em novas instalações fora da China.
Expansão Global das Empresas Chinesas
O BTR New Material Group, por exemplo, está investindo US$ 700 milhões em novas fábricas de cátodos e ânodos no Marrocos, com previsão de entrada em operação até 2026. O país africano é estratégico para essa operação devido às suas vastas reservas de fosfato, um componente-chave dos cátodos. A planta será capaz de equipar cerca de 500 mil veículos elétricos anualmente e atenderá fábricas de baterias localizadas na Europa e nos Estados Unidos.
Outro exemplo é a Shenzhen Senior Technology Material, fornecedora de separadores, que está construindo uma planta de aproximadamente US$ 700 milhões na Malásia. Além disso, a empresa assinou recentemente um contrato de fornecimento com a fabricante de baterias sul-coreana Samsung SDI, válido até 2030, o que demonstra o compromisso das empresas chinesas com o crescimento no setor.
Desafios do Mercado de Baterias e a Queda na Demanda Global
Apesar do domínio chinês no mercado de baterias, o setor enfrenta alguns desafios. A redução de subsídios governamentais para veículos elétricos em diversos países tem enfraquecido a demanda por esses veículos. No segundo trimestre de 2024, a Tesla, uma das maiores fabricantes de VE, teve uma queda de 4,8% nas vendas em volume. Fabricantes japoneses, como a Toyota, estão mudando seu foco para veículos híbridos, o que pode reduzir ainda mais a demanda por baterias puramente elétricas.
Esse cenário desafiador levou algumas empresas a reverem suas estratégias. A LG Energy Solution, por exemplo, interrompeu a construção de uma nova fábrica de baterias no Arizona, enquanto a Panasonic Holdings abandonou sua meta de vendas de baterias para o ano fiscal de 2030.
Mudanças Geopolíticas e os Efeitos nas Cadeias de Suprimentos
A crescente dependência global de componentes de baterias fabricados na China também tem gerado preocupações geopolíticas. Em uma tentativa de reduzir essa dependência, a administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, impôs exigências de que os veículos elétricos qualificados para créditos fiscais utilizem baterias e componentes fabricados na América do Norte.
Além disso, os Estados Unidos têm restringido a entrada de empresas chinesas em seu mercado, criando uma oportunidade para fabricantes de componentes de outros países, como o Japão, expandirem sua atuação na América do Norte. A Asahi Kasei, um dos maiores fornecedores de separadores, está construindo uma fábrica de US$ 1,38 bilhão no Canadá em parceria com a Honda, que deve começar a operar em 2027.
Outras empresas, como a Sumitomo Metal Mining, estão buscando expandir sua produção de cátodos de fosfato de ferro-lítio (LFP), em resposta ao aumento da demanda fora da China. Embora as empresas chinesas ainda dominem grande parte do mercado, montadoras nos Estados Unidos e na Europa têm demonstrado maior interesse em diversificar suas cadeias de suprimentos, buscando fornecedores fora da China.
Preocupações com a Segurança das Baterias Chinesas
Além das questões de dependência econômica e geopolítica, a segurança das baterias fabricadas na China também tem sido motivo de preocupação. Em agosto de 2024, diversos veículos elétricos equipados com baterias chinesas pegaram fogo espontaneamente na Coreia do Sul, levantando dúvidas sobre a segurança desses componentes. Esse incidente destacou a necessidade de maior rigor e controle de qualidade na produção de baterias, especialmente à medida que sua presença global se expande.
Futuro das Baterias e o Papel da China
A indústria de baterias de íons de lítio está em constante evolução, e a China, com seu domínio nas cadeias de suprimentos e capacidade de produção, continua a desempenhar um papel central. No entanto, o cenário global está mudando rapidamente, e outros players estão buscando alternativas para reduzir sua dependência de componentes chineses. Com governos de países ocidentais impondo restrições e montadoras diversificando seus fornecedores, o domínio da China no setor de baterias pode enfrentar desafios nos próximos anos.