A Concert Technologies, fornecedora de equipamentos e sistemas para os setores de energia e aeroespacial, decidiu diversificar sua atuação para explorar serviços no espaço. Até agora, a Concert fornecia equipamentos e sistemas para companhias que atuam na área espacial, mas trabalhando apenas em instalações terrestres. Sua estratégia mudou ao fazer uma cisão.
Nesse processo, foram criadas as unidades de negócios Concert Engenharia e Concert Lab, de pesquisa e desenvolvimento; e a startup Thingable!, para internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). O spin-off da Concert Space veio na esteira da criação da SpaceX de Elon Musk, que abriu oportunidades para a indústria de satélites artificiais versáteis, como os nanossatélites, conta Ângelo Fares, fundador e diretor-presidente da Concert.
Com 200 funcionários, o grupo registrou receita operacional líquida de R$ 37 milhões e faturamento de R$ 40 milhões no ano passado. Para 2023, o faturamento previsto é de R$ 55 milhões. O plano de Fares é começar a operação da Space com o lançamento de uma constelação de três nanossatélites de órbita terrestre baixa (LEO, na sigla em inglês), a 400 km de altitude, para cobrir o Brasil e vender serviços de dados.
O investimento é de R$ 150 milhões nessa frota inicial da empresa com sede em São Paulo, embora sua maior operação seja em Belo Horizonte (MG), diz o executivo. Será feito um teste piloto a pedido de um fundo interessado em investir no projeto e participar da primeira missão, prevista para 2025, com custo de US$ 100 mil, segundo Fares. A operação comercial está projetada para 2027.
Sem um contrato âncora nem recursos de instituições de fomento para dar a largada na Concert Space, Fares diz que “o desafio é implantar a constelação de satélites mesmo sem dinheiro da Finep”. Ele se refere a uma chamada pública, no valor de R$ 200 milhões, que a Financiadora de Estudos e Projetos fez para desenvolver um modelo de voo de satélite de observação terrestre. A Concert participou da licitação com um grupo, mas não foram selecionados. Agora, concorrem em outro projeto. A Visiona Tecnologia Espacial, joint venture entre a Embraer Defesa & Segurança e a Telebras, venceu o projeto de satélite de observação, um projeto de mais de R$ 231,4 milhões, dos quais pouco mais de R$ 11 milhões serão a contrapartida da Visiona.
Mas no caso da reestruturação da Concert, Fares destaca o fornecimento de “software-defined satellite”, ou satélite definido por software. Isso significa oferecer a possibilidade de modificar dinamicamente os feixes de cobertura e a distribuição de capacidade do satélite. Com a estratégia, o executivo espera atender simultaneamente demandas em diferentes partes do país com os mesmos satélites, apenas dando os comandos por software.
“É como se fosse uma plataforma de sensoriamento e processamento. Posso mudar a tarefa do satélite em voo, direcionar para onde [os clientes] quiserem. É multimissão definida pelo mercado”, diz o executivo. “É uma dinâmica nova de mercado.”
Com o satélite definido por software, a Concert Space pretende processar em tempo real imagens captadas da Terra. Atualmente, a Space compra imagens de outras empresas intermediárias que possuem contratos com donas de satélites. Mas Fares diz que essas imagens têm alto custo e baixa taxa de atualização. “Por isso, queremos fazer uma experiência limitada com a gente mesmo processando nossas imagens. Vamos testar o valor disso e pivotar nosso negocio.” Voando em constelação, os satélites devem passar pelo mesmo lugar a cada 40 minutos.
Essa experiência faz parte da primeira missão, da Concert Space, programada para 2025, em que processará seu próprio sistema em um projeto de satélite definido por software de outra empresa. Vai captar as imagens, executá-las em seu programa. O objetivo é ver se tem vegetação nas linhas de transmissão de concessionárias de energia. O trabalho será feito com dois gestores de portfólios de tecnologia, que analisam o que os investidores potenciais desejam, diz Fares.