COP-30: eliminação dos combustíveis fósseis é “questão de tempo”, afirma coordenadora científica
A discussão sobre a eliminação dos combustíveis fósseis ganhou novo fôlego após a participação da cientista brasileira Thelma Krug no Congresso de Iniciação Científica da Unesp, evento que ocorreu poucos dias depois do encerramento da COP-30, em Belém. Reconhecida internacionalmente por sua atuação no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e como coordenadora científica da conferência climática, ela apresentou uma avaliação otimista sobre os avanços multilaterais, reforçando que a transição para sistemas energéticos de baixo carbono já está em curso e tende a acelerar na próxima década.
A visão da pesquisadora ecoa debates ocorridos durante a conferência, marcada por intensas negociações envolvendo países desenvolvidos e em desenvolvimento. Na avaliação da especialista, ainda que o encontro não tenha produzido um roteiro definitivo para a eliminação dos combustíveis fósseis, o movimento torna-se cada vez mais inevitável à medida que tecnologias renováveis se tornam mais acessíveis e competitivas. Segundo ela, a queda gradual da demanda global criará um cenário em que a substituição total dos combustíveis altamente poluentes ocorrerá de forma natural e irreversível.
O posicionamento da coordenadora científica reflete o ambiente observado na COP-30, que reuniu governantes, cientistas, representantes empresariais e organizações da sociedade civil em um dos encontros mais estratégicos do calendário internacional. O evento reforçou a necessidade de acelerar medidas de mitigação, ampliar mecanismos de adaptação e financiar países vulneráveis diante das mudanças climáticas.
Uma nova geração de cientistas e o papel da pesquisa acadêmica

O Congresso de Iniciação Científica da Unesp, realizado em Águas de Lindoia, reuniu 460 participantes, entre eles mais de 350 graduandos de diversas instituições brasileiras. Para essa plateia majoritariamente jovem, Krug destacou a importância de compreender o momento de inflexão pelo qual passa o planeta. A apresentação, marcada por dados científicos detalhados, abordou desde projeções de aquecimento global até os impactos socioeconômicos decorrentes da continuidade de modelos energéticos baseados em combustíveis fósseis.
A pesquisadora enfatizou que, embora a eliminação completa dos combustíveis poluentes ainda demande tempo, a transição já está em andamento. Países desenvolvidos têm acelerado a substituição de fontes altamente emissoras por alternativas como energia nuclear e gás natural, considerado menos poluente. Esse movimento evidencia a busca global por reduzir emissões e diversificar matrizes energéticas.
A mensagem transmitida aos estudantes foi recebida como parte de uma agenda que valoriza a ciência, o pensamento crítico e a autonomia intelectual para enfrentar desafios climáticos crescentes. Segundo Krug, a nova geração deve desempenhar papel essencial na formulação de soluções, na pesquisa acadêmica e na defesa de políticas públicas alinhadas à sustentabilidade.
Mudanças climáticas em cenário global de extremos
Ao discutir o estado atual das mudanças climáticas, Thelma Krug apresentou um panorama abrangente. O planeta vive uma era de extremos, marcada por ondas de calor severas, secas prolongadas, eventos climáticos intensos e perda acelerada de biodiversidade. Esses fenômenos refletem a urgência em reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, responsáveis por parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa.
A pesquisadora destacou que o ritmo de aquecimento atual supera projeções iniciais e que a janela de oportunidade para limitar o aumento da temperatura global está se estreitando. Países vulneráveis, especialmente em regiões tropicais, enfrentam desafios desproporcionais, com impactos diretos sobre agricultura, segurança hídrica, saúde pública e infraestrutura.
Durante sua exposição, ela ressaltou que as medidas de mitigação devem ser complementadas por políticas robustas de adaptação. Essa combinação será crucial para garantir resiliência diante de eventos climáticos extremos que tendem a se intensificar caso o uso de combustíveis fósseis não seja drasticamente reduzido nos próximos anos.
COP-30: avanços, negociações e expectativas para o futuro
A COP-30, sediada em Belém, alcançou avanços significativos, mesmo sem apresentar o roteiro final para a eliminação dos combustíveis fósseis. Entre os resultados mais relevantes, destacam-se a ampliação do financiamento climático e a incorporação de novos mecanismos de transparência para monitoramento de emissões.
A participação ativa do Brasil reforçou o protagonismo do país no debate ambiental internacional. Ao sediar a conferência, o país buscou evidenciar sua capacidade de liderar iniciativas de preservação e demonstrar o potencial da bioeconomia amazônica como alternativa econômica sustentável.
Thelma Krug enfatizou que, apesar das lacunas ainda existentes, o caminho para a eliminação dos combustíveis fósseis já está traçado. A transição depende de financiamento adequado, cooperação internacional e compromisso político. Nos bastidores da conferência, delegações sinalizaram disposição para fortalecer metas climáticas, embora divergências persistam sobre prazos e responsabilidades.
Alternativas ao uso de combustíveis fósseis e os desafios da transição energética
A substituição dos combustíveis fósseis passa por múltiplas frentes tecnológicas. Energias solar e eólica continuam liderando o crescimento global, impulsionadas por inovadoras técnicas de captação, armazenamento e distribuição. A queda no custo de produção dessas fontes tem acelerado sua adoção por países desenvolvidos e emergentes.
Além disso, investimentos em tecnologia de hidrogênio verde conquistam apoio de governos e empresas, representando potencial disruptivo na substituição de combustíveis intensivos em carbono. A energia nuclear, considerada por alguns especialistas como solução de transição, também integra o debate por ser uma fonte livre de emissões diretas.
Entretanto, a transição não ocorre sem desafios. Países dependentes da exportação de combustíveis fósseis enfrentam riscos econômicos; setores intensivos em carbono precisarão se adaptar; e populações vulneráveis exigem políticas que garantam justiça climática e acesso justo a novas tecnologias.
Educação, ciência e comunicação em tempos de desinformação
A fala de Thelma Krug ocorreu em um congresso que abordou também temas como desinformação, saúde mental no ensino superior, inteligência artificial na pesquisa, guerras culturais e comunicação científica. O contexto reforça a necessidade de fortalecer a educação científica em um momento em que discursos negacionistas e informações falsas dificultam o avanço das políticas ambientais.
Pesquisadores convidados destacaram que, em uma era de extremos, a defesa da ciência precisa ser acompanhada de estratégias eficazes de comunicação. A sociedade demanda informações claras e confiáveis sobre os impactos dos combustíveis fósseis, as consequências da inação climática e as possibilidades de construção de um futuro sustentável.
A nova geração e os desafios da descarbonização
A presença de jovens pesquisadores no CIC Unesp revela interesse crescente por temas ambientais e pelo papel da ciência na formulação de políticas públicas. Segundo a organização do congresso, a nova geração está mais sensível às urgências climáticas e mais disposta a se engajar em projetos que dialogam com sustentabilidade, inovação e justiça social.
Essa mobilização é essencial, sobretudo quando a eliminação dos combustíveis fósseis exige abordagens interdisciplinares e coordenação entre governos, empresas, universidades e sociedade civil. A transição energética precisa ser inclusiva, equilibrada e estrategicamente planejada para evitar desequilíbrios sociais.
A responsabilidade dos países desenvolvidos e o papel do Brasil
Thelma Krug destacou que países desenvolvidos já iniciaram seu processo de substituição, migrando para fontes menos intensivas em carbono. Ainda assim, essas nações têm responsabilidade histórica e capacidade financeira para liderar ações mais contundentes.
O Brasil, por sua vez, possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e potencial extraordinário para expandir energias renováveis. Com vastos recursos naturais, capacidade científica e crescente protagonismo internacional, o país pode se posicionar como referência em transição energética, bioeconomia e redução do uso de combustíveis fósseis.
A afirmação de que a eliminação dos combustíveis fósseis é “questão de tempo” revela confiança no avanço tecnológico e no compromisso global com a redução das emissões. Embora desafios geopolíticos, econômicos e regulatórios persistam, o movimento rumo à descarbonização é irreversível. O futuro dependerá da capacidade dos países de conciliar desenvolvimento, sustentabilidade e justiça climática.
A participação de Thelma Krug em um congresso voltado à formação de novos cientistas reforça o papel da educação na construção de soluções. A transição energética, inevitável e urgente, será moldada por essa geração que cresce em meio a transformações aceleradas e desafios complexos.






