Dólar abre com investidores à espera do Comitê de Política Monetária (Copom) e dados dos EUA
O cenário financeiro deste início de sessão evidencia uma clara expectativa por parte dos investidores — o dólar abre em comportamento de atenção e estabilidade frente ao real, enquanto o mercado interno posa o foco no resultado da reunião do Copom e o exterior observa atentamente dados econômicos dos Estados Unidos. Neste contexto, a manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano pelo Banco Central do Brasil (BC) é assumida como provável, mas o real interesse recai no que a autoridade monetária dirá sobre os próximos passos. Complementarmente, no panorama internacional, os indicadores de emprego nos EUA e o prolongamento do shutdown norte-americano acendem um alerta entre os agentes econômicos.
Expectativa no Brasil: taxa Selic em foco
O Copom encerra nesta quarta-feira sua reunião iniciada ontem, e o consenso do mercado aponta para a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano. Apesar da inflação em trajetória de desaceleração e da atividade econômica mostrando sinais mais contidos, especialistas entendem que ainda não há margem para cortes nesta rodada. A análise se volta, portanto, ao tom do comunicado e à ata que acompanharão a decisão.
Entre os destaques: a atuação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e demais dirigentes da autoridade monetária, cujo discurso poderá indicar a janela de flexibilização futura ou a prolongação da manutenção da alta taxa de juros.
A produção industrial no Brasil, por exemplo, recuou 0,4% em setembro frente a agosto, eliminando parte da alta de 0,7% registrada no mês anterior — embora em comparação anual ainda apresente crescimento. Esse cenário reforça a cautela do BC em avançar para cortes imediatos.
Dólar abre em estabilidade — mercado digere o cenário externo e interno
Nesta manhã, o dólar circula em torno de R$ 5,40, mantendo-se praticamente estável frente ao real, enquanto o Ibovespa abre às 10 h. A expectativa pela decisão do Copom mantém a volatilidade reduzida, porém a condição externa está longe de ser pacífica.
Na véspera, o dólar encerrou com alta de +0,77%, cotado a R$ 5,399, reforçando a atenção dos mercados ao ambiente de juros elevados no Brasil. Para o acumulado da semana, o dólar registra ganho de +0,35%, repetindo a alta do mês até o momento. Internamente, o Ibovespa acumula alta de +0,78% no mês e +25,29% no ano.
Cenário externo: EUA, shutdown e tarifas comerciais
Fora do Brasil, o panorama complica e acrescenta incertezas. Nos EUA, será divulgado o relatório da Automatic Data Processing, Inc. (ADP), que mede a criação de vagas no setor privado — antecipa o relatório oficial de empregos (Payroll), que permanece suspenso em razão do shutdown norte-americano. Esse dado se tornou crucial para calibrar o humor dos investidores globais.
Além disso, o impasse orçamentário norte-americano completou mais de 35 dias, tornando-se a paralisação mais longa da história do país. Por fim, a Suprema Corte dos Estados Unidos analisa nesta quarta a legalidade das tarifas impostas durante o governo Donald Trump, que atingiram diversos parceiros comerciais, inclusive o Brasil — o que pode reabrir o debate sobre protecionismo e suas repercussões nas cadeias globais.
Impactos sobre o câmbio e o mercado brasileiro
A taxa de juros elevada e aguardada manutenção em 15% reforça dois vetores relevantes para o câmbio brasileiro:
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A atratividade dos juros elevados no Brasil tende a tornar o real mais valorizado, reduzindo pressões de alta para o dólar.
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Por outro lado, a atividade econômica ainda frágil e o cenário externo volátil impedem uma valorização exuberante da moeda brasileira.
Nesse ambiente, a estabilidade do dólar observada hoje configura-se como reflexo de dois fatores: uma parte dos investidores já precificou a manutenção da Selic e está ‘em modo de espera’, enquanto outra parte monitora os riscos externos, sobretudo americanos.
O real destaque, contudo, será como o Banco Central e o comunicado do Copom irão tratar de futuros cortes de juros ou de eventual manutenção de longo prazo da taxa. Caso haja sinalização de corte precoce, o dólar pode pressionar para cima frente ao real. Se o tom for de manutenção por período prolongado, o real pode ganhar respaldo adicional.
Produção industrial e efeito sobre expectativas
A retração de 0,4% da produção industrial em setembro, frente ao mês anterior, e a média móvel trimestral praticamente estagnada reforçam a premissa de um início de ciclo menos vigoroso. Ainda assim, na comparação anual, o setor teve crescimento de 2,0%.
Atividades como alimentos, fumo e madeira registraram crescimento, em contrapartida, segmentos como farmacêutica, extrativo e automotivo tiveram recuo.
Esse conjunto eleva a incerteza sobre o ritmo de crescimento futuro — e, por consequência, sobre a trajetória da inflação e dos juros. Tais variáveis têm impacto direto no câmbio, compostos no comportamento do dólar.
Cenários futuros e sinais para o câmbio
Duas hipóteses merecem atenção:
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Manutenção da Selic em 15% por período prolongado. Nesse caso, o real poderá se valorizar gradualmente, frente ao dólar, desde que o ambiente externo colabore e o fluxo de capitais permaneça favorável.
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Sinalização de cortes de juros antecipados. Isso poderia provocar um ajuste cambial, com o dólar pressionando para cima frente ao real.
Adicionalmente, fatores como novos choques externos (como aceleração de inflação nos EUA ou novo bloqueio orçamentário), turbulências no câmbio global ou mudanças bruscas no fluxo de capitais podem provocar elevação do dólar.
O que observar nas próximas horas
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O comunicado do Copom e a respectiva ata, especialmente o trecho sobre “viés” da política monetária.
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Dados americanos de emprego privado (ADP) e qualquer atualização do governo dos EUA sobre o shutdown.
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Movimentos no câmbio e no Ibovespa logo após a divulgação da decisão.
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Fluxos de capitais e leilão de contratos de swap cambial pelo Banco Central, que já está programado para rolar vencimento de 1º de dezembro.
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Reação dos mercados globais — Wall Street, Europa e Ásia — que também impactam indiretamente o dólar frente ao real.






