Na quarta-feira, o dólar fechou em queda de 0,47%, cotado a R$ 5,4626, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, recuou 0,90%, atingindo 133.748 pontos. A volatilidade dos mercados tem sido alimentada pela “Superquarta”, um termo utilizado para descrever o dia em que ocorrem reuniões simultâneas de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, com impactos diretos sobre as taxas de juros.
Cortes de Juros nos EUA e Aumento no Brasil
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) deu início a um ciclo de cortes nas taxas de juros, reduzindo em 0,50 ponto percentual (p.p.), levando a faixa dos juros a 4,75% a 5% ao ano. Já no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a taxa Selic em 0,25 p.p., alcançando 10,75% ao ano. Esta é a primeira elevação da Selic durante o mandato atual de Luiz Inácio Lula da Silva e reflete as preocupações crescentes com o aumento da inflação e os desafios fiscais do país.
Mercado Internacional e Nacional em Foco
Além dos anúncios dos bancos centrais dos EUA e Brasil, as atenções também se voltaram para as decisões de política monetária no Reino Unido, Japão e China. O Banco da Inglaterra manteve sua taxa básica de 5%, enquanto o Banco do Japão e o Banco Popular da China também adotaram medidas de manutenção e estímulo econômico, com impactos esperados nas economias globais e nas relações comerciais.
Queda do Dólar e Oscilações do Ibovespa
Na manhã desta quinta-feira, o dólar seguiu em queda, recuando 1,04% às 09h01, cotado a R$ 5,4058. O movimento reflete a percepção de que o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos pode prolongar o alívio sobre a moeda norte-americana, tornando o real mais atrativo para investidores estrangeiros. Com isso, o dólar acumula uma queda de 1,88% na semana e de 3,02% no mês, embora ainda registre uma alta significativa de 12,57% no ano.
Por outro lado, o Ibovespa tem mostrado maior volatilidade. O índice, que é um termômetro do mercado de ações brasileiro, encerrou a última sessão em queda de 0,90%. No acumulado da semana, a retração foi de 0,84%, e no mês, o índice já apresenta uma queda de 1,66%. No ano, a queda é mais branda, de 0,33%, mas o comportamento oscilante sinaliza a incerteza que ainda permeia o mercado.
Impactos das Decisões dos Bancos Centrais
A decisão do Fed de cortar os juros, embora esperada, surpreendeu pelo tamanho do corte, que não tinha consenso entre os especialistas. Dos 12 integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), 11 votaram a favor do corte de 0,50 p.p., incluindo o presidente do Fed, Jerome Powell. O único voto divergente foi pela redução de 0,25 p.p.
O corte de juros nos EUA reflete a preocupação com o mercado de trabalho, uma vez que as projeções de desemprego foram elevadas, apesar das expectativas de crescimento econômico estável. De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a decisão de um corte mais agressivo pelo Fed parece derivar das projeções de taxa de desemprego, que foram elevadas, apesar da manutenção na projeção do crescimento do PIB”.
No Brasil, o aumento da Selic sinaliza a intenção do Banco Central de conter a inflação, que continua a ser uma preocupação, especialmente devido à atividade econômica resiliente e às incertezas fiscais. O aumento de 0,25 p.p. já era esperado pelos mercados, que antecipavam um ajuste nas expectativas de inflação após a divulgação do boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne as projeções de economistas. O boletim indicou que a inflação deve continuar acima da meta em 2024, com um crescimento do PIB estimado em 3%.
As decisões tomadas tanto pelo Fed quanto pelo Copom sugerem que o cenário econômico global permanecerá volátil nos próximos meses. Nos Estados Unidos, o Fed indicou que continuará monitorando de perto as condições econômicas, sem dar sinais claros sobre futuras ações de política monetária. Já no Brasil, as projeções de inflação e as questões fiscais devem continuar sendo fatores de pressão sobre o Banco Central, que pode adotar novas medidas para ajustar a Selic no futuro.
A combinação de uma política monetária mais expansionista nos EUA e restritiva no Brasil gera um ambiente de incerteza para investidores, que devem continuar atentos aos movimentos dos bancos centrais. As próximas semanas prometem ser decisivas para definir o rumo dos mercados, tanto em termos de câmbio quanto de ações.