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Daniel Vorcaro: ascensão e queda do criador do Banco Master

24/11/2025
em Gente, Destaque, Economia, News
Dossiê Daniel Vorcaro: A Ascensão, O Império E A Queda Do Banco Master - Gazeta Mercantil

Daniel Vorcaro: os bastidores da ascensão, do império financeiro e da queda do criador do Banco Master

A construção de um personagem improvável no sistema financeiro brasileiro

A história de Daniel Vorcaro sintetiza uma das trajetórias mais rápidas, controversas e impactantes do mercado financeiro recente. Em menos de duas décadas, o empresário mineiro saiu da administração de pequenos negócios familiares para ocupar espaço central na Avenida Faria Lima e tornar-se controlador do Banco Master, instituição que multiplicou de forma acelerada seu patrimônio, ganhou notoriedade no mercado de crédito e, posteriormente, levou seu principal dirigente à prisão em uma das operações mais sensíveis do sistema financeiro nacional.

O dossiê a seguir reconstitui, com rigor jornalístico e estilo analítico, os principais marcos da vida social, familiar e empresarial de Daniel Vorcaro, destacando os elementos que moldaram sua personalidade, suas escolhas estratégicas, seu avanço sobre segmentos de risco elevado e os fatores que contribuíram para o colapso de sua instituição financeira.

Origem, família e o ambiente que moldou um futuro banqueiro

A biografia de Daniel Vorcaro começa em Belo Horizonte, em uma família marcada pela combinação de juventude precoce, forte religiosidade e presença intensa do patriarca em momentos decisivos da vida dos filhos. O pai, Henrique Vorcaro, casou-se aos 20 anos; a mãe, aos 16. A diferença de idade reduzida entre pais e filhos levou a uma convivência familiar atípica, em que tios, primos e o próprio Daniel cresceram em ciclos próximos.

A trajetória familiar passou por uma inflexão significativa após o avô, Serafim Vorcaro, de origem italiana, abandonar o catolicismo tradicional e direcionar a família para o protestantismo. Pastor e líder comunitário, Serafim acreditava que o filho Henrique precisava de orientação moral mais rígida. Inseriu-o na Igreja Batista da Lagoinha, instituição religiosa que se tornaria central na estrutura de apoio e relações da família Vorcaro.

Esse ambiente religioso contribuiu para uma guinada na vida de Henrique, que deixou hábitos boêmios e passou a atuar intensamente no setor imobiliário como corretor e incorporador. O sucesso nos negócios imobiliários, somado à proximidade com os líderes da igreja, abriu portas importantes para a família e forneceu capital financeiro para iniciativas que marcariam o início da vida profissional de Daniel.

Mídia, elite religiosa e os primeiros sinais de ambição

O redesenho patrimonial da família viabilizou a compra de uma emissora de televisão que acabou abrindo espaço para Daniel apresentar um programa musical. Embora a atração fosse modesta, ela colocou o jovem empresário em contato com influenciadores religiosos e figuras importantes da elite evangélica mineira.

Com o tempo, os laços entre os Vorcaro e a liderança da Igreja Batista da Lagoinha se intensificaram. A família passou a apoiar financeiramente diversos projetos, incluindo iniciativas pessoais de integrantes proeminentes da instituição religiosa. Eventos sociais luxuosos, como a festa de 15 anos da filha de Daniel — com show de Alok — simbolizam o nível de capital social que o empresário alcançou ao longo dos anos.

Essa primeira fase revela um elemento essencial do perfil de Daniel Vorcaro: sua habilidade de transitar entre diferentes grupos de poder, integrando religião, elite social e negócios financeiros. Esse traço seria crucial na etapa seguinte, quando ele deixaria a esfera familiar para estruturar um projeto individual de ambição inédita.

A entrada de Daniel Vorcaro no universo empresarial

O primeiro negócio formal administrado por Daniel Vorcaro ocorreu quando ele tinha cerca de 19 anos: um curso de ensino médio adquirido pelo pai, junto com uma empresa de livros didáticos. Daniel considerava esse empreendimento um sucesso, destacado como símbolo de sua capacidade de gestão precoce.

Ex-funcionários e pessoas envolvidas com o setor, porém, ofereceram versões divergentes. A integração de operações distintas teria sido mal planejada, gerando conflitos e dificuldades organizacionais. O negócio acabou sendo encerrado e repassado a outra empresa de educação.

Mesmo com dificuldades, essa experiência serviu como laboratório de aprendizagem para Daniel Vorcaro, que passou a assumir papel mais estruturado nos negócios da família. Em 2004, ele ingressou nas incorporadoras gerenciadas pelo pai — Multipar e Mercatto — e na empresa de locação Pacific Realty.

Essas companhias formariam a base da rede empresarial que, mais tarde, possibilitaria sua entrada no universo financeiro em escala nacional.

Os irmãos Conte e a primeira grande aposta: o hotel Golden Tulip

A partir de 2011, Daniel Vorcaro aproximou-se dos irmãos Antonio Augusto e Vicente Conte Neto, herdeiros de uma tradicional administradora de cemitérios e sócios da gestora Blackwood. O encontro com os Conte marca o início do ciclo que, anos mais tarde, moldaria a ascensão meteórica do empresário.

O projeto que uniu o trio pela primeira vez foi ambicioso: a construção de um hotel de padrão internacional, o Golden Tulip, em uma área decadente de Belo Horizonte. A cidade concedera incentivos para empreendimentos hoteleiros visando à Copa do Mundo de 2014.

O investimento superou a marca dos 200 milhões de reais, mas a obra foi paralisada. Sem capital suficiente para concluir a estrutura de 37 andares, heliponto e centro de convenções, o complexo tornou-se um símbolo frustrado de uma aposta arquitetônica que não se sustentou economicamente.

Apesar do fracasso, a parceria entre Daniel Vorcaro e os Conte evoluiu, e o relacionamento empresarial seria retomado anos depois, no movimento que redefiniria o futuro de todos eles: a compra de um banco.

O encontro com o Banco Máxima e a porta de entrada para o mercado financeiro

Em 2016, a trajetória de Daniel Vorcaro mudou radicalmente quando ele se aproximou do controlador do Banco Máxima, Paul Saul Sabbá. A instituição estava fragilizada por irregularidades e rombo financeiro, tendo sido inabilitada pelo Banco Central.

A oportunidade surgiu porque Sabbá ofereceu a Vorcaro a possibilidade de adquirir o banco. A transação, vista por muitos como um movimento entre conhecidos, abriu caminho para que o jovem empresário entrasse no setor financeiro de forma estruturada. Embora Daniel afirmasse ter conhecido Sabbá apenas naquele ano, transações entre empresas da família e o Banco Máxima já eram frequentes.

Essa coincidência revela um padrão: Daniel Vorcaro frequentemente encontrava brechas entre relacionamentos pessoais e oportunidades de negócio, adotando estratégias de risco que fugiam ao padrão tradicional do sistema financeiro nacional.

A longa espera pela autorização do Banco Central

Após assumir a opção de compra do Máxima, Daniel Vorcaro buscou os irmãos Conte como parceiros. Apesar da situação desfavorável do banco, o trio estava disposto a investir para viabilizar um novo projeto financeiro.

Em 2017, os empresários encaminharam a solicitação ao Banco Central para assumir formalmente a instituição. A autorização foi concedida apenas em 2019, após dois anos de diligências intensas, pedidos de complementação de informações e análises detalhadas da capacidade financeira e técnica dos controladores.

Para Daniel Vorcaro, esse período foi marcado por idas frequentes a Brasília e pela elaboração detalhada de um plano de reestruturação que sustentaria a nova fase da instituição.

Em 2021, já no comando, o empresário rebatizou o banco como Banco Master. Nascia ali uma marca que rapidamente se tornaria conhecida, tanto pelo crescimento acelerado quanto pela estratégia ousada de captação e alocação de recursos.

A estratégia agressiva que transformou o Banco Master em um gigante relâmpago

Com a marca consolidada, Daniel Vorcaro implementou um modelo de negócios baseado em três pilares principais:

  1. Captação elevada via CDBs
    O banco passou a oferecer remunerações muito superiores à média de mercado — chegando a 130% do CDI. Essa taxa atraiu milhares de investidores e impulsionou rapidamente o volume de depósitos.

  2. Alavancagem máxima
    O Banco Master operava no limite permitido pelo Banco Central, chegando a alavancar até dez vezes o capital investido pelos controladores.

  3. Apostas concentradas em empresas de alto risco
    A carteira de ativos incluía companhias como Light, Oi, CVC, Ambipar e Gafisa — todas enfrentando dificuldades financeiras.

Esse conjunto é frequentemente citado como exemplo de operação fora do padrão comum do sistema financeiro brasileiro. Analistas e gestores viam no modelo uma combinação explosiva: captação cara, investimentos arriscados e alavancagem elevada.

Ainda assim, a velocidade de crescimento impressionava. O patrimônio líquido saltou de pouco mais de 200 milhões para cerca de 5 bilhões de reais em cinco anos, transformando o Banco Master em protagonista entre as instituições independentes.

O início da pressão institucional e as exigências do Banco Central

Em dezembro de 2024, diante de sinais crescentes de desequilíbrio, o Banco Central convocou a alta cúpula do Banco Master para uma reunião de emergência. O órgão regulador exigiu imediatamente:

  • a interrupção de operações consideradas abusivas,

  • a redução da emissão desenfreada de CDBs com taxas fora do padrão,

  • um aporte de capital de 2 bilhões de reais pelos controladores,

  • ajustes internos para reduzir o nível de risco estrutural.

O prazo para cumprimento dessa determinação expirava em março do ano seguinte. Caso não houvesse regularização, o banco seria liquidado e o patrimônio dos controladores congelado.

Essa etapa representou o primeiro grande sinal externo de que a estratégia de Daniel Vorcaro estava em rota de colisão com a regulação do sistema financeiro nacional.

A tentativa de salvamento via BRB e a posterior negativa do Banco Central

Com o prazo quase encerrado, em março, o Banco de Brasília (BRB) anunciou a intenção de comprar o Banco Master por 2 bilhões de reais — exatamente o valor que o Banco Central exigia de capitalização. A operação surpreendeu o mercado por envolver um banco público regional com patrimônio menor do que o passivo do Master.

A transação gerou intenso debate no setor financeiro. O acúmulo de CDBs emitidos pelo Master, que ultrapassava 50 bilhões de reais, somado à incapacidade de honrar cerca de 12 bilhões com vencimento iminente, levantava temores sobre o impacto sistêmico da operação.

Após meses de estudos, o Banco Central vetou o negócio. Era o prenúncio de um desfecho ainda mais duro.

A Operação Compliance Zero e o colapso definitivo

A fase final da trajetória de Daniel Vorcaro se deu com a deflagração da Operação Compliance Zero. O objetivo da investigação era combater a emissão de títulos financeiros fraudulentos por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.

Durante o avanço das investigações, foram identificados elementos que levaram à decretação da prisão de Daniel Vorcaro, detido no Aeroporto Internacional de Guarulhos quando embarcaria em um jato particular para o exterior.

A prisão coincidiu com a liquidação do Banco Master e com o anúncio de que uma holding havia aportado 3 bilhões de reais para tentar estruturar a instituição — aporte que perdeu significado diante da intervenção estatal.

O episódio marcou a queda vertiginosa de um empresário que, poucos meses antes, era descrito como um dos nomes mais comentados da Faria Lima.

O impacto sistêmico da queda do Banco Master

A liquidação do Banco Master representou um choque para o mercado financeiro por diversos fatores:

  1. Volume extraordinário de CDBs emitidos
    A instituição concentrava valores incompatíveis com seu tamanho estrutural.

  2. Risco de contaminação de investidores
    Com milhares de investidores alocados em produtos da instituição, temia-se efeito dominó.

  3. Carteira de ativos altamente problemática
    A exposição a empresas fragilizadas tornava difícil a recomposição de garantias.

  4. Desafios regulatórios
    O episódio reforçou debates sobre a necessidade de modernização das ferramentas de supervisão do Banco Central.

O caso reforçou, dentro do sistema financeiro, a percepção de que a ascensão de Daniel Vorcaro estava apoiada em um modelo que, embora legal, carregava níveis de risco que poucos agentes consideravam aceitáveis.

A construção do mito e a desconstrução do banqueiro relâmpago

O nome Daniel Vorcaro tornou-se sinônimo de ousadia e velocidade extrema. Seu discurso recorrente sobre fé, coragem e obstinação serviu para sustentar a imagem de um empresário que desafiava as narrativas tradicionais do mercado financeiro.

Mas, ao mesmo tempo, gerava desconfiança entre analistas e gestores tradicionais, que viam nas estratégias do Banco Master um conjunto de aposta elevado, dependente de performance futura de empresas que enfrentavam dificuldades estruturais profundas.

Favorecido por um ambiente de capital abundante e por um ecossistema financeiro mais agressivo, o empresário conseguiu criar uma instituição de porte significativo em tempo recorde. Da mesma forma, assistiu à derrocada de seu império financeiro em velocidade igualmente impressionante.

A trajetória social: ostentação, eventos de luxo e símbolos de status

Ao longo do período de maior ascensão, Daniel Vorcaro se projetou publicamente em eventos sociais, festas luxuosas e relações com figuras proeminentes da elite evangélica e empresarial. A festa de 15 anos da filha, com produção milionária, tornou-se referência de sua vida social.

Esse estilo de vida sempre funcionou como uma espécie de extensão da narrativa de sucesso, reforçando o ecossistema que o cercava e alimentando a percepção de que o Banco Master era mais do que um banco: era o centro de um projeto de expansão pessoal.

Uma análise sobre o perfil que definiu sua ascensão e queda

O dossiê revela um conjunto de características que ajudam a explicar o fenômeno de Daniel Vorcaro:

  • Ambição incomum desde muito jovem

  • Capacidade de articulação social entre diferentes grupos

  • Forte presença familiar e religiosa em momentos estratégicos

  • Busca obstinada por protagonismo no mercado financeiro

  • Aversão ao conservadorismo tradicional de instituições bancárias

  • Estratégia centrada em risco extremo

  • Aposta em alavancagem máxima para gerar escala rápida

  • Propensão a operações fora do padrão

  • Criação de narrativa pessoal de superação

  • Dependência de projeções otimistas sobre ativos problemáticos

Esses elementos, quando combinados, explicam tanto o meteoro ascendente quanto o colapso abrupto.

O futuro de Daniel Vorcaro

O futuro de Daniel Vorcaro permanece incerto. Com a liquidação do Banco Master e o avanço das investigações da Operação Compliance Zero, o empresário deve enfrentar um longo processo para esclarecer sua participação nas operações investigadas.

Ao mesmo tempo, sua trajetória oferece ao sistema financeiro lições sobre:

  • a importância da supervisão regulatória,

  • os riscos de modelos agressivos de captação,

  • a necessidade de limites prudenciais mais rígidos,

  • a relevância do controle sobre concentração em ativos problemáticos,

  • e o impacto sistêmico de bancos de médio porte operando com alavancagem elevada.

Independente do desfecho jurídico, Daniel Vorcaro se tornou um dos personagens mais emblemáticos do mercado financeiro brasileiro recente, símbolo de como a ascensão meteórica pode se transformar rapidamente em queda devastadora.

A construção psicológica de um banqueiro improvável

Compreender Daniel Vorcaro exige olhar para além dos grandes números e das estruturas societárias. É necessário analisar o conjunto de valores, crenças e dinâmicas familiares que ajudaram a moldar um empresário dotado de rara autoconfiança, avesso ao medo e fidelizado a uma visão de mundo profundamente marcada por religiosidade, senso de missão e ambição pessoal.

Desde cedo, o ambiente doméstico de Daniel encapsulava contrastes marcantes:

  • austeridade religiosa de um avô convertido ao protestantismo;

  • impulsividade de um pai que alternava fases boêmias e períodos de disciplina rígida;

  • pressão econômica e social decorrente das expectativas da família;

  • exposição ao universo da comunicação e da influência pastoral;

  • convívio com elites religiosas e políticas de Belo Horizonte.

Esse mosaico familiar produziu marcas psicológicas importantes:

  1. Busca por validação externa através de conquistas grandiosas.

  2. Forte resistência à frustração, que se transforma em obstinação.

  3. Narrativa interna de superação, reforçada por círculos religiosos.

  4. Confiança na própria capacidade de multiplicar recursos, mesmo sob risco elevado.

  5. Tendência a operar fora da média, característica essencial de banqueiros agressivos.

A ascensão meteórica de Daniel Vorcaro não foi obra do acaso, mas sim resultado de uma formação emocional que premiava ousadia, velocidade e convicção absoluta — elementos que funcionam tanto como propulsores quanto como gatilhos de queda em sistemas financeiros altamente regulados.


A anatomia do Banco Master: como funcionava o modelo Vorcaro

Para expandir a compreensão sobre Daniel Vorcaro, é necessário detalhar o modelo financeiro que sustentou o crescimento do Banco Master.

1. Captação agressiva

O Banco Master adotou práticas incomuns no mercado:

  • Emissão elevada de CDBs

  • Taxas muito acima das oferecidas por bancos tradicionais

  • Campanhas para captar investidores dispostos a trocar segurança por rentabilidade

O resultado foi uma explosão no volume de depósitos, permitindo que a instituição ampliasse rapidamente seu poder de fogo para adquirir ativos e financiar operações.

Esse movimento, por mais ousado que fosse, criou um dilema estrutural:
📌 o custo da captação crescia mais rápido do que o retorno dos investimentos.

2. A carteira de ativos: o coração do risco

A carteira do Banco Master concentrava empresas:

  • excessivamente alavancadas,

  • enfrentando recuperação judicial,

  • em setores com forte volatilidade,

  • dependentes de ciclos positivos da economia.

Dados revelam participação significativa em ativos de empresas como:

  • Oi

  • Gafisa

  • CVC

  • Light

  • Ambipar

Essas companhias, fragilizadas antes mesmo de entrarem no radar do Master, raramente conseguiam entregar retorno rápido. A estratégia, portanto, era baseada em uma aposta: comprar barato, esperar anos e multiplicar capital.

Era o tipo de raciocínio que poderia render fortuna — ou implodir uma instituição inteira.

3. A alavancagem máxima como regra

Enquanto bancos tradicionais se alavancam em média seis vezes, o Banco Master operava constantemente no limite legal de dez vezes.

Isso significa:

  • maior rentabilidade em cenários positivos;

  • risco exponencial em cenários adversos;

  • volatilidade extrema na margem de segurança;

  • dependência de previsões extremamente otimistas.

A combinação de captação cara, ativos arriscados e alavancagem máxima era inédita no Brasil contemporâneo.

A relação entre Daniel Vorcaro e a Faria Lima

O ambiente da Avenida Faria Lima — centro nervoso do mercado financeiro nacional — reagiu à ascensão de Daniel Vorcaro com misto de fascínio e estranhamento.

1. O banqueiro que não vinha do sistema

Analistas, gestores e operadores do mercado percebiam que Vorcaro não seguia o “manual” dos fundos tradicionais.

Ele não era egresso de:

  • bancos de investimento,

  • consultorias,

  • gestoras de patrimônio,

  • carreira técnica do SFN.

Sua formação era empírica, moldada por:

  • incorporadoras familiares,

  • projetos imobiliários,

  • negócios de educação,

  • empreendimentos de risco.

Esse background não convencional gerava curiosidade, mas também desconfiança. Sua figura se tornou frequente nos corredores do mercado, mas raramente compreendida em profundidade.

2. A estratégia que contraria modelos clássicos

Enquanto bancos tradicionais se movem com cautela, Daniel Vorcaro navegava em direções opostas:

  • investia fortemente em empresas problemáticas;

  • ignorava recomendações técnicas conservadoras;

  • fazia movimentos ousados em velocidade incomum;

  • apostava em recuperação futura como núcleo estratégico.

Para analistas experientes, a operação do Master se parecia mais com um fundo agressivo do que com um banco tradicional.

3. O impacto da figura social de Daniel Vorcaro

Sua ascensão foi acompanhada de:

  • festas grandiosas,

  • eventos milionários,

  • proximidade com líderes evangélicos,

  • presença em círculos sociais influentes.

A ostentação contrastava com a sobriedade esperada de controladores bancários — e esse contraste alimentava ainda mais o interesse do mercado.

A reunião crítica em Brasília: o BC aperta o cerco

A convocação do Banco Central, no final de 2024, representa um momento crucial do dossiê.

Analistas do órgão regulador já identificavam:

  • incompatibilidade entre passivos de curto prazo e ativos de longo prazo;

  • emissão descontrolada de CDBs;

  • risco de descasamento estrutural;

  • deterioração da carteira de crédito;

  • falta de garantias suficientes para resgates de curto prazo.

Na reunião, foi deixado claro:

  • o modelo estava no limite do aceitável,

  • havia risco de contaminação sistêmica,

  • medidas drásticas eram necessárias,

  • a sobrevivência do banco dependia de um aporte imediato de capital.

O BC deu prazo de três meses.
Esse prazo se tornaria uma contagem regressiva para a derrocada do império financeiro de Daniel Vorcaro.

Por que o negócio com o BRB caiu?

A compra do Master pelo BRB era vista como improvável desde o início.

Motivos que levaram ao veto:

  • incompatibilidade entre o tamanho do passivo do Master e o patrimônio do BRB;

  • risco para cofres públicos do Distrito Federal;

  • pressão de entidades de mercado;

  • avaliação técnica de viabilidade comprometida;

  • dificuldade de equalização de riscos regulatórios;

  • inconsistências na estrutura financeira apresentada.

O Banco Central, após meses de análise, concluiu que a operação não resolvia o problema — apenas o transferia.

Essa decisão abriu caminho para a fase mais dramática do caso.

A prisão de Daniel Vorcaro e a Operação Compliance Zero

A detenção de Daniel Vorcaro no Aeroporto de Guarulhos marcou um capítulo central na história recente do sistema financeiro.

A investigação apurava:

  • emissão de títulos financeiros sem lastro;

  • movimentações incompatíveis com padrões regulatórios;

  • risco de lesão a investidores;

  • possível fraude sistêmica.

A prisão, somada à liquidação do Banco Master, consolidou um colapso que meses antes parecia impensável.

O impacto para investidores e para o Sistema Financeiro Nacional

A liquidação de um banco do porte do Master é um raro evento na história recente brasileira.

Consequências:

  • receio de desvalorização de depósitos;

  • pressão sobre o FGC;

  • temor de contaminação sistêmica;

  • debates sobre supervisão bancária;

  • repercussão internacional.

Economistas e reguladores passaram a discutir modelos de supervisão mais robustos, incluindo:

  • monitoramento contínuo de passivos de curto prazo,

  • limites diferenciados para bancos de nicho,

  • novos indicadores para medir risco de alavancagem,

  • revisão de instrumentos de captação a taxas acima do mercado.

O legado complexo de Daniel Vorcaro

A imagem de Daniel Vorcaro permanecerá como:

  • símbolo de ousadia ilimitada,

  • exemplo de velocidade extrema na criação de um banco,

  • alerta sobre riscos sistêmicos,

  • reflexo da tensão entre inovação e regulação,

  • caso de estudo para economistas e reguladores.

Para o Brasil, o episódio funciona como lição sobre as fronteiras da criatividade financeira e o papel vital da supervisão.

Para o mercado, é exemplo de como trajetórias impressionantes podem se desfazer tão rapidamente quanto surgiram.

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