Europa deve investir na sua própria defesa: alerta dos EUA na cúpula da OTAN
EUA reforçam cobrança por maior protagonismo europeu na segurança internacional
Durante o Fórum Público da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), realizado nesta terça-feira (24), em Haia, o embaixador dos Estados Unidos na aliança, Matthew Whittaker, reiterou com veemência um posicionamento cada vez mais frequente no discurso norte-americano: a Europa deve investir na sua própria defesa. A declaração, embora conciliadora em tom, reforça a linha dura adotada por Washington sob influência do presidente Donald Trump, que frequentemente critica a dependência europeia da proteção militar dos Estados Unidos.
Whittaker destacou que os Estados Unidos seguem comprometidos com a OTAN, mas enfatizou que os aliados europeus precisam assumir mais responsabilidade e atuar como parceiros em pé de igualdade. Ele deixou claro que a presença americana não está em risco imediato, mas as pressões por maior autonomia europeia estão longe de cessar.
Investimento em defesa: os 5% do PIB como nova meta
Um dos pontos mais contundentes do discurso de Whittaker foi a proposta de que os países-membros da OTAN aumentem seus investimentos em defesa para 5% do Produto Interno Bruto (PIB), uma meta significativamente superior ao atual patamar mínimo de 2% acordado entre os membros. A proposta representa uma mudança radical no padrão de gastos militares do bloco e simboliza o novo posicionamento estratégico de Washington: a responsabilização progressiva dos parceiros.
Esse chamado reflete não apenas uma reconfiguração da geopolítica de segurança, mas também um estímulo ao renascimento das indústrias de defesa, tanto na América do Norte quanto na Europa. Segundo o diplomata, este é “um dos momentos mais importantes na história da OTAN”, e a robustez militar trará estabilidade para futuras gerações.
Europa deve assumir protagonismo militar
A declaração de que a Europa deve investir na sua própria defesa não é apenas retórica. Ela está inserida em um contexto em que a presença americana no cenário internacional, embora ainda dominante, mostra sinais de seletividade e pragmatismo. Whittaker reafirmou que “os Estados Unidos não vão a lugar nenhum”, mas enfatizou que os europeus precisam se tornar parceiros verdadeiramente autônomos.
Esse recado vai ao encontro do discurso de Trump, que em diversas ocasiões ameaçou retirar os EUA da OTAN e acusou os aliados de não contribuírem de forma proporcional. Embora Whittaker tenha buscado suavizar essa visão, o conteúdo das declarações indica claramente que a paciência americana tem limites.
Trump e a política de “paz através da força”
A retórica de Whittaker também ecoa o lema da administração Trump, “paz através da força”, especialmente ao comentar a recente ofensiva americana no Oriente Médio. Segundo ele, as ações diretas contra o Irã trouxeram estabilidade à região e tiveram reflexos positivos para a Europa, que há anos sofre com o fluxo de imigrantes e refugiados oriundos de zonas de conflito como Síria e Líbano.
Ainda que o cessar-fogo entre Israel e Irã permaneça envolto em incertezas, o embaixador americano afirmou que a postura enérgica de Trump “mudou o cálculo” da região. Essa avaliação sustenta a narrativa de que decisões militares firmes podem evitar confrontos mais graves e gerar equilíbrio geopolítico.
Desafios para a Europa: autonomia militar e pressão fiscal
Atender à recomendação de elevar os gastos com defesa para 5% do PIB impõe sérios desafios para os países europeus. Em um cenário de desaceleração econômica, inflação persistente e alta dívida pública, aumentar os orçamentos militares poderá gerar tensões sociais e políticas internas. Ainda assim, a pressão de Washington poderá forçar governos europeus a reavaliar suas prioridades estratégicas.
A ideia de que a Europa deve investir na sua própria defesa também está relacionada a ameaças emergentes, como os avanços tecnológicos de potências rivais, o crescimento da influência militar da China e a instabilidade crônica em áreas fronteiriças, como o Sahel africano e o Cáucaso.
O futuro da OTAN: dependência ou independência estratégica?
O futuro da OTAN passa obrigatoriamente por uma redefinição de papéis. A fala de Whittaker indica que os Estados Unidos não abandonarão seus aliados, mas também não querem mais carregar o peso da segurança coletiva sozinhos. Esse novo cenário exige uma Europa mais assertiva, com capacidade real de defesa e com autonomia estratégica.
Alguns países, como França e Alemanha, já vêm discutindo a criação de uma força militar europeia independente, mas as divergências internas e o receio de desagradar Washington ainda freiam iniciativas mais ousadas. No entanto, o alerta está dado: a Europa deve investir na sua própria defesa ou correrá o risco de ver sua segurança nacional comprometida.
Estabilidade no Oriente Médio influencia segurança europeia
O embaixador americano também fez uma conexão direta entre a estabilidade no Oriente Médio e a segurança europeia. O aumento dos gastos militares, segundo ele, também deve ser visto como uma forma de proteger o continente contra as consequências dos conflitos externos, especialmente no que diz respeito à imigração em massa.
Whittaker mencionou que a situação na Síria parece mais controlada, e que o Irã está mais contido do que em momentos anteriores. Essa relativa calmaria oferece uma “janela de oportunidade” para que a Europa invista na própria segurança de maneira mais assertiva e estratégica.
Nova era para a segurança europeia
A declaração de que a Europa deve investir na sua própria defesa marca um ponto de virada nas relações transatlânticas. Com os Estados Unidos pressionando por mais equilíbrio na aliança e demonstrando fadiga estratégica, cabe aos líderes europeus responder com iniciativas concretas e compromissos reais.
O Fórum da OTAN em Haia mostrou que, embora os laços históricos com os EUA permaneçam fortes, o tempo da dependência incondicional está chegando ao fim. A urgência de rever estratégias, aumentar os orçamentos militares e fortalecer as capacidades autônomas é mais do que um desejo de Washington — é uma necessidade estratégica para toda a Europa.






