Justiça decreta falência da Oi e mantém serviços essenciais sob controle judicial
A Justiça do Rio de Janeiro decretou a falência da Oi nesta segunda-feira (10), pondo fim ao que foi o maior processo de recuperação judicial da história do Brasil. A decisão, assinada pela juíza Simone Gastesi Chevrand, da 7ª Vara Empresarial do Rio, reconhece a insolvência patrimonial do Grupo Oi e determina a continuidade provisória dos serviços essenciais sob supervisão judicial, para evitar prejuízos à infraestrutura nacional.
O processo abrange as empresas Oi S.A., Portugal Telecom International Finance (PTIF) e Oi Brasil Holdings Coöperatief U.A., que compõem o conglomerado. Segundo o despacho, a companhia atingiu uma “situação de liquidação substancial”, com receita mensal de R$ 200 milhões frente a uma dívida extraconcursal de R$ 1,7 bilhão, além de ter alienado seus principais ativos operacionais, o que inviabilizou o cumprimento do plano de recuperação aprovado em 2024.
Falência da Oi: uma decisão inevitável após descumprimento do plano de recuperação
O pedido de falência do Grupo Oi foi motivado pelo descumprimento das obrigações assumidas durante o plano de recuperação judicial. A magistrada destacou que a empresa deixou de pagar credores, não manteve garantias contratuais e vendeu ativos estratégicos, como Oi Fibra, Oi TV e parte da infraestrutura de rede.
Essas operações, segundo o relatório judicial, configuraram esvaziamento patrimonial, tornando a Oi incapaz de honrar compromissos financeiros e de sustentar suas operações. O conjunto de fatores levou à conclusão de que a companhia havia perdido a viabilidade empresarial, encerrando assim o segundo processo de recuperação em menos de uma década.
A juíza Simone Chevrand foi categórica ao afirmar que não há mais atividade econômica capaz de justificar a manutenção da empresa em recuperação judicial, determinando a conversão imediata do processo em falência.
Continuidade provisória dos serviços essenciais da Oi Soluções
Apesar da decretação da falência da Oi, a Justiça determinou que a unidade Oi Soluções — responsável por contratos de conectividade e infraestrutura de comunicação com órgãos públicos — continue operando de forma provisória.
A Oi Soluções atende clientes estratégicos, como:
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CINDACTA (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo);
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Bancos e instituições financeiras;
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Órgãos federais, estaduais e municipais;
A decisão visa evitar o colapso de serviços essenciais e garantir a transição ordenada para novos operadores. A gestão provisória ficará a cargo do administrador judicial Bruno Rezende, agora nomeado administrador da massa falida.
Bloqueio de bens e afastamento da diretoria
Com a falência da Oi, a Justiça determinou o afastamento imediato da atual diretoria e do conselho de administração. Todos os bens e valores obtidos com a venda de ativos permanecem bloqueados, incluindo os recursos vinculados ao “caixa restrito V.Tal”, que abrigava parte do capital levantado com a venda da rede de fibra óptica.
O termo legal da falência foi fixado em 90 dias antes do pedido de recuperação judicial cautelar, delimitando o período que será analisado para possíveis atos de dilapidação patrimonial.
O administrador judicial Bruno Rezende passa a ser o responsável pela gestão da massa falida, coordenação dos contratos públicos ainda ativos e liquidação dos bens da companhia.
Falência da Oi encerra ciclo iniciado em 2016
A decisão marca o encerramento definitivo da trajetória judicial da Oi, que iniciou seu primeiro processo de recuperação judicial em 2016, com dívida superior a R$ 65 bilhões — a maior já registrada no país.
Após anos de renegociações, a empresa chegou a sair formalmente da recuperação em 2023, mas voltou a enfrentar desequilíbrio financeiro em menos de um ano. O segundo pedido de recuperação judicial, homologado em 2024, não conseguiu conter o avanço da crise.
A juíza apontou que a Oi chegou a uma situação de liquidação substancial, esvaziando seu patrimônio e perdendo capacidade operacional. Entre os ativos alienados estavam:
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Oi Móvel, vendida para Claro, TIM e Vivo;
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Oi Fibra, transferida à empresa V.Tal;
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Participações em torres e datacenters;
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E ativos internacionais da antiga Portugal Telecom.
Sem geração de caixa suficiente e com passivos crescentes, a empresa se tornou insolvente e inviável economicamente.
Impactos da falência da Oi no mercado e nos serviços públicos
A falência da Oi tem repercussões amplas no mercado de telecomunicações, já que a companhia ainda detém participações relevantes em contratos públicos e corporativos.
Segundo analistas do setor, a decisão da Justiça reforça a necessidade de reestruturação urgente da infraestrutura crítica de comunicações no Brasil. A Oi, ao longo das décadas, foi responsável por uma rede de fibra e cabos que atendia desde empresas privadas até órgãos governamentais estratégicos, incluindo sistemas de defesa e controle aéreo.
Mesmo falida, a Justiça determinou que os serviços essenciais não sejam interrompidos até a conclusão de uma transição segura. O administrador judicial deverá coordenar o repasse dos contratos e assegurar continuidade sem interrupções de conectividade, dados e comunicação crítica.
O colapso financeiro da Oi: de gigante à insolvência
A Oi S.A. foi criada a partir da antiga Telemar e, durante anos, figurou entre as maiores operadoras do país. O grupo expandiu-se agressivamente, incluindo a fusão com a Brasil Telecom e a compra da Portugal Telecom, operação que acabou agravando o endividamento da empresa.
O modelo de negócios baseado em alavancagem, aliado à queda de receita nos serviços de telefonia fixa e à mudança tecnológica acelerada, levou a empresa a uma trajetória de deterioração.
Mesmo após o primeiro processo de recuperação judicial, a Oi não conseguiu adaptar-se à nova realidade do setor. As sucessivas vendas de ativos, que buscavam aliviar o endividamento, acabaram esvaziando a estrutura operacional e comprometendo o fluxo de receita.
Quando ingressou com o segundo pedido de recuperação em 2024, o grupo já operava em situação de liquidez crítica, sem condições de cumprir o plano acordado com credores.
O papel do administrador judicial na falência da Oi
O administrador judicial Bruno Rezende passa a ser a figura central no processo de liquidação da massa falida da Oi. Caberá a ele:
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Preservar a continuidade temporária dos serviços essenciais;
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Gerir o patrimônio remanescente e evitar dispersão de ativos;
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Garantir a transparência na prestação de contas ao juízo;
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Articular a negociação com eventuais compradores dos contratos operacionais;
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Apresentar relatório de liquidação e mapear passivos e credores.
O processo é considerado complexo e de alta relevância econômica, dada a dimensão da Oi e sua presença em setores críticos.
Consequências jurídicas e econômicas para credores e investidores
Com a falência da Oi, credores nacionais e estrangeiros passam a integrar a massa falida, seguindo a ordem de prioridade estabelecida pela Lei de Falências (Lei nº 11.101/2005).
Entre os principais grupos de credores estão:
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Bancos nacionais e internacionais;
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Fornecedores de equipamentos de telecomunicação;
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Empresas de infraestrutura e tecnologia;
Os ativos bloqueados e eventuais bens remanescentes serão utilizados para liquidar dívidas, seguindo critérios de proporcionalidade e prioridade.
O impacto da decisão também se estende ao mercado de capitais: as ações da Oi, listadas sob o ticker OIBR3, tendem a sofrer forte desvalorização, refletindo o encerramento formal das operações e a conversão em massa falida.
Perspectivas para o setor de telecomunicações
A falência da Oi encerra um ciclo de reestruturação do setor de telecomunicações brasileiro, que agora se concentra em três grandes grupos — Vivo, TIM e Claro.
A ausência da Oi como operadora competitiva reforça a concentração de mercado e abre espaço para discussões sobre regulação, concorrência e universalização de serviços.
Especialistas destacam que, apesar da falência, a base tecnológica da Oi Soluções ainda é estratégica e poderá ser absorvida por empresas ou consórcios interessados em assumir contratos públicos de grande porte.
O fim de uma era nas telecomunicações brasileiras
A falência da Oi simboliza o encerramento definitivo de um ciclo de 25 anos de tentativas de reestruturação financeira, marcada por endividamento excessivo, mudanças tecnológicas e decisões corporativas equivocadas.
A decisão judicial de manter serviços essenciais operando temporariamente busca proteger a infraestrutura nacional e evitar impactos sobre comunicações críticas, como o controle do tráfego aéreo.
O caso da Oi passa a ser um marco jurídico e econômico, servindo de alerta sobre os riscos de má gestão, endividamento em larga escala e falta de inovação em setores estratégicos da economia.






