O mercado de trabalho global está em constante transformação, impulsionado por fatores como a tecnologia, o bem-estar dos funcionários e a diversidade. O CEO do Top Employers Institute, David Plink, trouxe uma visão abrangente sobre as tendências que moldam o futuro das relações de trabalho em sua recente visita ao Brasil. Durante o evento voltado para recursos humanos, Plink apresentou dados do relatório “World of Work Trends 2024”, destacando cinco pontos fundamentais que empresas ao redor do mundo estão adotando para se adaptar a um ambiente de trabalho em rápida evolução.
A Revolução da Inteligência Artificial no Ambiente Corporativo
Um dos tópicos mais discutidos no relatório foi a ascensão da inteligência artificial (IA) no ambiente de trabalho. Segundo David Plink, a IA tem o potencial de transformar não apenas a forma como as empresas operam, mas também a relação entre as corporações e seus colaboradores. A IA não substitui o trabalho humano por completo, mas muda a dinâmica ao permitir que as pessoas que dominam essa tecnologia assumam posições de destaque.
Plink destacou que “a IA sozinha não vai substituir seu trabalho. Seu trabalho será substituído por alguém usando a Inteligência Artificial.” Esse alerta sinaliza que, embora a IA traga grandes inovações, o componente humano continua sendo essencial, principalmente na forma como as empresas aplicam essas tecnologias.
Além disso, a preocupação ética com a IA está em alta. Muitas empresas têm estabelecido estruturas éticas para evitar o viés de gênero e de etnia que pode estar embutido nos algoritmos. Isso destaca a importância de um uso responsável e inclusivo da tecnologia, uma questão vital para o sucesso a longo prazo.
Empresas com Propósito: Uma Nova Forma de Engajamento
Outro tema central na apresentação de Plink foi o propósito empresarial. As corporações não apenas precisam se adaptar às mudanças tecnológicas, mas também alinhar seus valores e missão com os de seus funcionários. “As empresas estão se aprofundando em seu propósito e comunicando isso de forma mais autêntica”, afirmou Plink.
O propósito corporativo se tornou um critério-chave para muitos profissionais ao escolherem onde trabalhar. Empresas como a Apple foram pioneiras ao fazer com que seus propósitos fossem vividos internamente e externamente, inspirando seus funcionários e atraindo talentos que se identificam com esses valores. Segundo Plink, esse movimento não é uma moda passageira, mas algo que continuará a crescer e se fortalecer nos próximos anos.
Bem-Estar Integral: Além da Saúde Física
A terceira tendência apontada por Plink é o foco no bem-estar dos funcionários, que se estende além da saúde física. As empresas estão cada vez mais preocupadas com o bem-estar emocional, mental, financeiro e até espiritual de seus colaboradores. “O bem-estar é uma questão que está presente em praticamente todas as áreas do trabalho”, observou o executivo.
No entanto, as empresas estão sendo mais criteriosas ao implementar essas iniciativas, optando por programas de bem-estar que realmente fazem diferença e são utilizados pelos funcionários. Esse foco personalizado no bem-estar tem se mostrado essencial para reter talentos e aumentar a produtividade.
Diálogo e Inclusão: A Evolução da Comunicação Interna
A escuta ativa dos funcionários é uma tendência em alta, mas Plink ressalta que ela está evoluindo para um diálogo real entre corporação e colaborador. “Há uma mudança de escuta para o diálogo”, disse ele. As empresas estão indo além das pesquisas de satisfação e buscando uma interação mais direta, onde os funcionários participam ativamente da formulação das estratégias e dos valores da empresa.
Essa transformação também está relacionada à ampliação da diversidade, equidade e inclusão (DEI). O foco vai além dos aspectos demográficos tradicionais, como gênero e idade, e agora abrange também a neurodiversidade, atraindo indivíduos com diferentes formas de pensar e processar informações. Empresas que adotam essa visão mais ampla de inclusão estão na vanguarda de uma nova era corporativa.
A Nova Dinâmica do Trabalho Remoto e Presencial
Um dos impactos mais marcantes da pandemia de COVID-19 foi a massificação do trabalho remoto. Agora, com o retorno gradual ao trabalho presencial, muitas empresas estão buscando um equilíbrio entre os dois formatos. “Os benefícios do trabalho remoto não podem mais ser ignorados”, afirmou Plink, acrescentando que é necessário combinar essa flexibilidade com interações presenciais para fortalecer o senso de pertencimento.
Segundo ele, colaboradores que ingressaram nas empresas durante a pandemia e trabalharam exclusivamente de forma remota apresentaram uma maior taxa de rotatividade. Isso se deve, em parte, à falta de conexão com a equipe e a cultura corporativa, algo que só o contato humano pode proporcionar.
Desafios e Oportunidades do ESG nas Empresas
As práticas ESG (ambiental, social e governança) também foram mencionadas por Plink como um aspecto que está sendo revisado por grandes corporações. Muitas empresas têm enfrentado críticas por suas políticas de inclusão, sendo acusadas de “woke” por seus clientes mais tradicionais. Plink acredita que esse é um campo minado para as organizações, pois precisam equilibrar a necessidade de inclusão com a percepção pública.
A pressão para se adequar a expectativas sociais e ambientais pode gerar resultados contraditórios. De um lado, a inclusão genuína e o apoio à diversidade são fatores importantes para a retenção de talentos. Por outro, as empresas correm o risco de alienar parte de sua base de clientes se não adotarem uma abordagem cuidadosa e autêntica.
O Papel do Pertencimento no Mundo Corporativo
Por fim, Plink reforçou a importância do pertencimento no ambiente de trabalho. Para ele, reter talentos já não é suficiente; as empresas devem criar uma atmosfera em que os funcionários sintam que pertencem à organização. Esse senso de pertencimento, segundo ele, está diretamente ligado ao propósito corporativo e ao bem-estar integral.
A Geração Z, que está entrando no mercado de trabalho, tem expectativas diferentes em relação às gerações anteriores. Eles querem participar das decisões estratégicas das empresas e contribuir ativamente para a criação de um ambiente mais inclusivo e ético.
As tendências do mercado de trabalho em 2024 apontam para um futuro onde a tecnologia e o propósito caminham lado a lado. A inteligência artificial, o bem-estar integral e a inclusão são pilares que moldarão as relações corporativas nos próximos anos. As empresas que conseguirem equilibrar esses fatores estarão mais bem posicionadas para atrair e reter talentos, além de manterem uma cultura de pertencimento e inovação.