Gripe aviária no Brasil: impacto bilionário ameaça exportações e abala setor de carnes
O avanço da gripe aviária no Brasil levanta um alerta vermelho para a economia, principalmente no setor de carnes. A recente detecção de casos em granjas comerciais acendeu o sinal de alerta entre produtores, exportadores e investidores. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estima prejuízos que podem chegar a até US$ 300 milhões por mês, enquanto frigoríficos enfrentam desvalorização na Bolsa e parceiros internacionais suspenderam temporariamente as importações de carne de frango brasileira.
Neste cenário de instabilidade, o país busca conter os danos e preservar seu status de país livre da influenza aviária. No entanto, os efeitos já começam a ser sentidos de forma intensa no mercado.
Gripe aviária no Brasil: entenda o que está acontecendo
A gripe aviária no Brasil foi confirmada em granjas comerciais nos estados do Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, marcando uma mudança de cenário, já que os casos anteriores estavam restritos a aves silvestres. A repercussão foi imediata, com países como Japão, Coreia do Sul e África do Sul suspendendo temporariamente as importações dos estados afetados.
Segundo o Mapa, os focos foram identificados em granjas de postura comercial, voltadas para a produção de ovos, e não para abate. Mesmo assim, o alerta sanitário internacional e os embargos aplicados por diversos países começaram a gerar impacto direto nas exportações brasileiras de carne de frango.
Prejuízos estimados: US$ 300 milhões por mês
O Brasil, líder global em exportação de carne de frango, já contabiliza perdas bilionárias. Estimativas do próprio governo federal e do BTG Pactual apontam que a gripe aviária no Brasil pode causar prejuízos mensais entre US$ 100 milhões e US$ 300 milhões. Isso representa uma queda de até 150 mil toneladas mensais no volume exportado.
Os países que anunciaram restrições correspondem a aproximadamente 42% das exportações brasileiras de carne de frango, totalizando US$ 3,9 bilhões apenas em 2024. Caso os bloqueios sejam mantidos, o impacto econômico será ainda mais devastador.
Impacto direto nas ações de frigoríficos brasileiros
A repercussão da gripe aviária no Brasil também chegou com força ao mercado financeiro. No dia 19 de maio, as ações de grandes empresas do setor de proteína animal registraram quedas expressivas:
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BRF (BRFS3): chegou a cair 6,26% e fechou o dia em baixa de 2,5%.
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Marfrig (MRFG3): queda de 5,46%.
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Minerva (BEEF3): oscilou com queda inicial de 3,91%, mas encerrou com leve alta.
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JBS (JBSS3): contrariando a tendência, subiu 3,57%, impulsionada por recomendação de compra e preço-alvo elevado por grandes bancos.
Entre as mais vulneráveis está a BRF, por sua grande dependência da produção de frango no Brasil e exposição ao mercado externo.
O que diz o Ministério da Agricultura sobre a gripe aviária no Brasil
Mesmo diante da crise, o Ministério da Agricultura reforça que o país ainda mantém o status de livre de gripe aviária perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Isso porque os casos, até agora, são considerados isolados e, em sua maioria, ocorreram em aves silvestres.
O protocolo sanitário brasileiro permite a suspensão regionalizada das exportações, o que evita um bloqueio em escala nacional. Segundo o ministro Carlos Fávaro, as detecções foram rápidas e as medidas de contenção foram imediatamente implementadas.
Embargos internacionais: países que suspenderam compras do Brasil
Desde a confirmação dos casos de gripe aviária no Brasil, diversos países anunciaram embargos, total ou parcialmente, aos produtos avícolas brasileiros. Entre os que suspenderam totalmente as importações estão:
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Chile
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Argentina
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Uruguai
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México
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Coreia do Sul
Já as suspensões regionais, com foco nos estados afetados, foram adotadas por:
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Japão
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Emirados Árabes Unidos
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Arábia Saudita
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Filipinas
A China, por sua vez, suspendeu a habilitação de 51 frigoríficos desde o último sábado (17).
Medidas para conter os danos e evitar colapso
Diante do cenário alarmante, empresas do setor estão reforçando suas medidas de biossegurança e colaborando com o governo federal para mitigar os impactos da gripe aviária no Brasil. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) atua em parceria com o Mapa para manter as exportações dentro das áreas não afetadas.
O presidente da ABPA, Ricardo Santin, reforçou que não há risco ao consumo de carne de frango no Brasil, e que o sistema de defesa sanitária brasileiro é altamente eficaz e rigoroso.
Reação do mercado: entre o pânico e a racionalidade
Especialistas alertam que a reação do mercado pode ter sido exacerbada. Felipe Vasconcellos, economista da Equus Capital, ressalta que é preciso “calma e racionalidade” para entender a real dimensão dos impactos.
Embora empresas como a BRF possam sofrer mais no curto prazo, a perspectiva de longo prazo ainda dependerá do controle rápido dos focos da doença e da transparência nas negociações diplomáticas.
Oportunidade ou ameaça?
A gripe aviária no Brasil representa não apenas uma ameaça à balança comercial, mas também pode influenciar os preços internos da carne de frango. A sobreoferta no mercado doméstico pode pressionar os preços para baixo, beneficiando o consumidor brasileiro momentaneamente.
No entanto, para o setor produtivo, a necessidade de recuperar mercados e restabelecer a confiança dos parceiros internacionais exigirá ações coordenadas entre setor público e privado.
Estratégias para preservar exportações
Diante dos embargos, o Brasil aposta na regionalização e em intensas ações diplomáticas para retomar as exportações rapidamente. O Ministério da Agricultura já negocia com os países parceiros a redução dos prazos de embargo e trabalha na certificação de novas áreas livres da doença.
Outro ponto estratégico é o uso da inteligência sanitária para monitorar aves migratórias e prevenir novos focos, além de investimento em capacitação e protocolos de segurança nas granjas.
Vigilância e ação rápida são essenciais
A gripe aviária no Brasil exige uma resposta firme, coordenada e transparente. O setor agroexportador é um dos pilares da economia brasileira e o impacto gerado por restrições comerciais pode afetar não apenas o PIB, mas o emprego e a renda em diversas regiões do país.
Embora os embargos tragam prejuízos imediatos, o Brasil ainda pode se posicionar como um referência mundial em segurança sanitária se agir com rapidez e eficiência.
A vigilância contínua, o fortalecimento da biossegurança e o diálogo com os parceiros internacionais serão fundamentais para conter os danos e garantir a sustentabilidade do agronegócio nacional.