Hermès ultrapassa LVMH em valor de mercado e assume liderança no setor de luxo global
Paris, abril de 2025 — A indústria global de luxo assistiu a uma reviravolta histórica. Após décadas de domínio inquestionável da LVMH, conglomerado liderado por Bernard Arnault, o mercado testemunhou a ascensão da Hermès ao topo. Com uma valorização impressionante e desempenho sólido mesmo em um cenário econômico desafiador, a Hermès tornou-se a empresa de luxo mais valiosa do mundo, superando a rival LVMH e consolidando-se como símbolo do chamado quiet luxury.
A ultrapassagem histórica: Hermès à frente da LVMH
O anúncio dos resultados trimestrais da LVMH, divulgado em 14 de abril de 2025, desencadeou uma reação em cadeia. As ações do grupo despencaram 7% na Bolsa de Paris após a revelação de que as vendas no primeiro trimestre caíram 3%. A queda resultou em uma perda de US$ 25 bilhões no valor de mercado da companhia em menos de 24 horas. Na manhã seguinte, a Hermès registrava uma avaliação de € 243,65 bilhões (R$ 1,6 trilhão), ultrapassando os € 243,44 bilhões da LVMH.
Esse marco reforça uma tendência que já vinha se desenhando: o consumidor de alto padrão busca cada vez mais autenticidade, exclusividade e tradição, pilares nos quais a Hermès sempre fundamentou sua estratégia de crescimento.
O poder da escassez e do artesanal
Diferentemente de outras casas de moda que apostam em colaborações e estratégias de marketing de massa, a Hermès segue um caminho singular. O foco em produtos feitos à mão, com couro artesanal e produção limitada, cria um senso de exclusividade que sustenta sua aura de prestígio.
A emblemática Birkin Bag, com listas de espera que podem ultrapassar anos, é mais do que um acessório: tornou-se um símbolo de status silencioso e poder econômico. Em tempos em que o chamado “quiet luxury” dita tendência, a Hermès encontrou o equilíbrio perfeito entre tradição e desejo.
Queda da LVMH e impacto no mercado de luxo
O tropeço da LVMH não foi isolado. O grupo enfrentou um cenário global desafiador, com desaceleração no mercado chinês, aumento da concorrência europeia e mudanças no comportamento do consumidor de alto padrão.
Mesmo com iniciativas como o retorno de Takashi Murakami à Louis Vuitton e exposições itinerantes da Dior e Loro Piana na Ásia, a empresa não conseguiu frear a perda de valor. A única divisão que apresentou crescimento no trimestre foi a de relógios e joias (Bvlgari, TAG Heuer e Tiffany), com alta tímida de 1%.
A combinação de um mercado mais cauteloso e a pressão de novas alianças no setor — como a compra da Versace pela Prada, sugerindo uma “unione italiana” — reforça que a hegemonia da LVMH está, ao menos temporariamente, abalada.
Hermès: um caso de consistência e resiliência
Especialistas de mercado, como a analista Jelena Sokolova da Morningstar, destacam que os números não são apenas reflexo de desempenho financeiro, mas também de sentimento dos investidores. E o mercado parece confiar mais na abordagem conservadora da Hermès do que nas estratégias agressivas da LVMH.
Ao contrário da LVMH, que diversifica constantemente seus produtos e aposta em campanhas massivas, a Hermès mantém um ritmo de crescimento controlado e estratégico, sem abrir mão da identidade que construiu ao longo de quase dois séculos.
Os desafios e oportunidades à frente
Apesar do cenário favorável, a Hermès não está livre de desafios. A pressão para manter margens elevadas em um ambiente global mais competitivo e em desaceleração é real. No entanto, o foco em produtos de altíssima qualidade e a manutenção de uma imagem discreta e coerente com seus valores podem ser os diferenciais decisivos para sustentar essa nova liderança.
Além disso, o apelo crescente do “quiet luxury” entre consumidores jovens e ricos — especialmente na Ásia e no Oriente Médio — cria oportunidades únicas para a marca expandir com solidez.
Luxo silencioso vs. euforia do branding
A LVMH, por sua vez, ainda é uma potência global com marcas icônicas. Mas o modelo baseado em logomania, colaborações extravagantes e marketing de grande escala pode não ressoar com o novo perfil de consumidor. O “luxo silencioso”, que valoriza discrição, herança e exclusividade, está se impondo como o novo padrão do setor.
Enquanto a LVMH busca reviver fórmulas antigas, como a logomania de Murakami, a Hermès continua a conquistar o mercado com silêncio e sofisticação.
A supremacia europeia e o papel da Hermès
Com a ultrapassagem da LVMH, a Hermès torna-se o terceiro grupo mais valioso da Europa, atrás apenas da SAP e da Novo Nordisk. Esse feito mostra que o setor de luxo, longe de estar em crise, está em transformação — e que o mercado valoriza consistência, autenticidade e propósito acima de tendências passageiras.
O trono do luxo mudou de mãos, mas a verdadeira disputa agora é por relevância no longo prazo. A Hermès parece estar mais preparada para essa nova era.