Ibovespa cai ao menor nível em 4 meses com impasse Brasil-EUA; entenda o que está por trás da turbulência no mercado
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, encerrou a segunda-feira (28) com uma nova retração, acumulando três sessões consecutivas de queda. A baixa de 1,04%, que levou o índice aos 132.129 pontos, representa o menor patamar em quatro meses e reforça a influência negativa dos impasses comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
O cenário tenso no front diplomático, aliado à expectativa com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e dados econômicos domésticos, elevou a aversão ao risco entre os investidores. O resultado foi um movimento de fuga da renda variável brasileira, mesmo com os índices americanos renovando recordes.
Dólar sobe e pressiona mercado brasileiro
Enquanto o Ibovespa recuava, o dólar comercial registrava alta de 0,50%, fechando cotado a R$ 5,5899. A valorização da moeda americana é reflexo direto do aumento das tensões geopolíticas, especialmente após a nova rodada de imposições tarifárias anunciadas pelo governo dos Estados Unidos, agora com impactos potenciais sobre o Brasil.
O impasse comercial tem sido alimentado por declarações firmes da Casa Branca, que pressiona por mudanças nas políticas de comércio exterior dos seus parceiros estratégicos. Essa instabilidade contribui para o enfraquecimento do real e amplia a volatilidade no mercado financeiro brasileiro.
Ibovespa pressionado por juros e queda no crédito
Internamente, outro fator que pesou sobre o Ibovespa foi a expectativa com a decisão do Copom. O mercado majoritariamente aposta na manutenção da Selic em 15% ao ano, conforme sinalizado pela precificação das opções de juros na B3.
Além disso, o Boletim Focus trouxe revisões para baixo nas estimativas de inflação (de 5,10% para 4,45% em 2025) e no câmbio, cuja projeção caiu de R$ 5,65 para R$ 5,60 até o fim do ano.
Apesar da melhora nas projeções inflacionárias, o mercado de crédito mostra sinais de desaquecimento. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, as concessões de crédito caíram 3,1% em junho em relação a maio, com destaque para o tombo de 7,5% no segmento de empresas, contrastando com a leve alta de 1,4% para pessoas físicas.
Análise setorial: Varejo lidera perdas no Ibovespa
Dentro da composição do Ibovespa, o setor de varejo foi o mais impactado, devido à queda na oferta de crédito e à pressão sobre os juros futuros. A Vivara (VIVA3) teve a pior performance do pregão, com recuo superior a 5%.
Já entre os papéis de maior peso no índice, o desempenho foi misto. A Petrobras (PETR3; PETR4) avançou, impulsionada pela valorização de 2,45% no preço do petróleo Brent, reflexo de tensões internacionais envolvendo Rússia e Ucrânia. Em contrapartida, Vale (VALE3) recuou quase 1%, acompanhando a baixa do minério de ferro nos mercados internacionais.
Destaques positivos no Ibovespa: São Martinho reage a proventos
Na ponta positiva do Ibovespa, os papéis da São Martinho (SMTO3) se destacaram após o anúncio de pagamento de juros sobre capital próprio (JCP). A distribuição de R$ 150 milhões, correspondente a R$ 0,4565 por ação, agradou os investidores e impulsionou a valorização da empresa no pregão.
essa movimentação mostra que, mesmo em um cenário adverso, companhias com histórico de boa governança e retorno aos acionistas continuam atraentes.
Cenário externo: recordes nos EUA e tensão global
Enquanto o Ibovespa recuava, os principais índices dos Estados Unidos avançavam ou se mantinham estáveis. O S&P 500 e a Nasdaq encerraram o dia renovando recordes nominais, mesmo com o ambiente tenso das negociações comerciais.
O presidente norte-americano Donald Trump anunciou um novo acordo com a União Europeia, impondo tarifas de 15% sobre produtos do bloco e exigindo contrapartidas em compras militares e energéticas. Ao mesmo tempo, reafirmou que não pretende adiar novas tarifas para demais parceiros comerciais.
Com isso, as bolsas europeias reagiram com queda — o Stoxx 600, por exemplo, caiu 0,22%. Na Ásia, o movimento foi misto, com o Nikkei recuando 1,10% e o Hang Seng subindo 0,68%, refletindo a reabertura das negociações entre China e Estados Unidos.
Impasses tarifários geram incerteza no curto prazo
O principal fator de instabilidade que afeta o Ibovespa no momento é a indefinição sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Embora ainda não haja uma decisão concreta, o clima é de incerteza, especialmente após declarações duras da Casa Branca e a falta de progresso nas negociações diplomáticas.
A pressão para que o Brasil adote contrapartidas em troca da isenção tarifária é vista com cautela pelos agentes do mercado, que temem o impacto sobre a competitividade das exportações brasileiras.
Expectativas para o Copom e projeções futuras
A próxima reunião do Copom ganha ainda mais relevância nesse cenário de incerteza. Embora o consenso seja de manutenção da Selic, parte do mercado ainda teme uma eventual alta nos juros, o que poderia impactar ainda mais o consumo e o investimento.
A leitura mais recente do Boletim Focus traz algum alívio em relação à inflação e ao câmbio, mas os desafios fiscais e a desaceleração do crédito seguem no radar.
O que esperar do Ibovespa nos próximos dias?
A tendência de curto prazo para o Ibovespa continuará sendo moldada por três grandes fatores: o desdobramento das negociações comerciais com os Estados Unidos, a decisão do Copom e o comportamento dos mercados globais.
Enquanto os indicadores macroeconômicos não oferecerem maior previsibilidade, os investidores devem manter postura defensiva, priorizando ativos de menor risco ou com alto potencial de distribuição de lucros.
Ibovespa sob pressão, mas ainda com oportunidades
A recente queda do Ibovespa é reflexo direto da combinação entre fatores externos — como o impasse tarifário com os EUA — e internos, como o aperto no crédito e a política monetária restritiva. Mesmo assim, o mercado brasileiro ainda oferece oportunidades seletivas, sobretudo entre empresas com fundamentos sólidos e visão de longo prazo.
Com atenção redobrada ao noticiário econômico e geopolítico, investidores devem manter cautela, mas também olhar com atenção para potenciais momentos de entrada em ativos descontados.






