Ibovespa hoje volta aos 130 mil pontos com impulso externo e recompra de ações
Recuperação do Ibovespa reflete alívio no cenário global e estratégias de empresas listadas na B3
O Ibovespa hoje, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, encerrou o pregão desta terça-feira (22) com alta de 0,63%, atingindo 130.464,38 pontos. Este desempenho marca a volta do índice ao patamar dos 130 mil pontos, algo que não acontecia desde 3 de abril. A recuperação é atribuída a fatores externos, como sinais de distensão na tensão comercial entre Estados Unidos e China, além de movimentos internos como programas de recompra de ações e ajustes técnicos por parte dos investidores.
Essa alta ocorre em um momento de instabilidade e saída de capital estrangeiro da B3, o que reforça a importância dos fatores técnicos e estratégicos adotados pelas empresas brasileiras e a influência do cenário macroeconômico global na valorização dos ativos locais.
Tensões entre EUA e China perdem força e trazem alívio aos mercados
A valorização do Ibovespa hoje foi impulsionada por declarações do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que classificou o atual impasse comercial com a China como “insustentável. Ele ainda expressou otimismo quanto à possibilidade de uma redução nas tensões, o que foi interpretado pelo mercado como um sinal de trégua nos conflitos econômicos entre as duas maiores potências mundiais.
Esse alívio foi sentido nas bolsas internacionais, em especial nos Estados Unidos. Os principais índices de Nova York, como o S&P 500 e o Nasdaq, registraram altas superiores a 2% em um movimento de recuperação. O otimismo internacional teve reflexos imediatos na B3, que seguiu o direcional de alta, mesmo em um dia de volume de negociação mais fraco devido ao feriado e ao posicionamento prévio de grandes gestores.
Ajustes técnicos também influenciam o desempenho do Ibovespa
Segundo Isabel Lemos, gestora de renda variável do banco Fator, parte da valorização do Ibovespa hoje pode ser atribuída a um movimento técnico. “Estamos seguindo o direcional de alta lá de fora, mas com volume fraco, por conta do feriado e porque muitos gestores já ajustaram suas carteiras na semana passada”, declarou em entrevista.
Esse tipo de comportamento é típico de momentos em que o mercado busca alinhar-se a tendências externas, especialmente quando há uma mudança de humor significativa no cenário global. Com a expectativa de uma possível resolução parcial do conflito comercial entre EUA e China, muitos investidores viram a oportunidade de reequilibrar suas posições.
Destaques do pregão: MRV lidera altas, enquanto Embraer recua
Entre os principais papéis que compõem o Ibovespa hoje, a MRV se destacou com uma impressionante valorização de 8,26%. A construtora foi seguida por Braskem (+7,5%) e Grupo Pão de Açúcar (+6,4%). Essas altas refletem a recuperação de setores que vinham sendo penalizados nas últimas semanas.
Por outro lado, algumas empresas registraram perdas relevantes. A Embraer caiu 3,45%, sendo a maior queda do dia. Localiza e RD Saúde também apresentaram recuos de 2,73% e 2,61%, respectivamente. Esse movimento reflete uma seletividade maior por parte dos investidores, que buscam se posicionar em papéis com maior potencial de valorização diante do novo cenário.
Vale e Itaú sustentam o índice, enquanto Petrobras tem desempenho misto
Entre os “blue chips”, destaque para a Vale, que subiu 1,78% e continua sendo um dos principais suportes do Ibovespa hoje. O Itaú, maior banco privado do país, avançou 1,95% e também contribuiu significativamente para a performance do índice.
Já as ações da Petrobras tiveram desempenho misto. Os papéis ordinários (PETR3) recuaram 0,54%, enquanto as ações preferenciais (PETR4) caíram 0,23%. A oscilação reflete incertezas quanto à política de preços da companhia e a volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional.
Recompra de ações sustenta o mercado diante da saída de capital estrangeiro
De acordo com relatório recente do Itaú BBA, 109 empresas listadas na B3 estão com programas ativos de recompra de ações, somando um total estimado de R$ 89 bilhões. Esse movimento tem sido fundamental para dar sustentação aos preços dos ativos negociados na bolsa brasileira.
A recompra de ações é uma estratégia utilizada por companhias para aumentar o valor de mercado dos papéis em circulação, além de sinalizar confiança na própria operação. Em um momento de saída expressiva de capital estrangeiro da bolsa — R$ 10,885 bilhões até o dia 16 de abril —, esse tipo de ação ganha ainda mais relevância.
Saída de investidores estrangeiros pressiona o mercado
Apesar da valorização do Ibovespa hoje, o cenário ainda é de cautela. Dados do Broadcast apontam que, em abril, a B3 registrou uma saída líquida de R$ 10,885 bilhões em capital estrangeiro. Esse número supera a entrada de R$ 10,642 bilhões observada durante todo o primeiro trimestre de 2025, anulando os ganhos anteriores.
A fuga de capital externo é atribuída principalmente ao receio de uma elevação das tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos, medida promovida pela administração de Donald Trump. O mercado teme que essas políticas possam acelerar a inflação global e, consequentemente, forçar os bancos centrais a adotar posturas mais restritivas, o que tende a reduzir o apetite por risco em mercados emergentes como o Brasil.
Expectativas para os próximos dias: cenário ainda incerto
Apesar da retomada dos 130 mil pontos, analistas recomendam cautela. A manutenção do otimismo dependerá da evolução do cenário internacional, especialmente da postura do governo norte-americano frente às tarifas comerciais e da resposta chinesa a eventuais sanções.
Internamente, o foco continua nas medidas econômicas do governo brasileiro e na temporada de balanços, que poderá trazer novo fôlego ao mercado ou acentuar as incertezas. A continuidade da recompra de ações pelas empresas também será um fator de sustentação importante, sobretudo diante da persistente saída de capital estrangeiro.