Ibovespa sobe 7,6% no ano; Itaú BBA destaca sete lições e traça recomendações para investidores
O Ibovespa registra um desempenho sólido no acumulado do ano, com alta de 7,6%, encerrando a última segunda-feira aos 129.454 pontos. Essa valorização vem sendo impulsionada por uma combinação de fatores econômicos, entre eles a queda na curva nominal dos juros de longo prazo e a valorização do real frente ao dólar. A moeda brasileira passou de R$ 6,18 no final do ano passado para R$ 5,86 atualmente, o que ajudou a reforçar a atratividade dos ativos locais.
Segundo o Itaú BBA, o avanço dos índices acionários brasileiros, como o próprio Ibovespa, o índice de small caps (SMLL) e o índice de dividendos (IDIV), reflete uma melhora nas condições macroeconômicas e o reposicionamento dos investidores diante das incertezas globais.
Temas preferenciais de alocação
Em termos de estratégia de investimentos, o Itaú BBA segue priorizando ações com bom “carry”, ou seja, papéis que oferecem elevado dividend yield (dividendo em relação ao preço) e taxas internas de retorno (TIR) acima de dois dígitos, além de proteção contra a inflação. Os analistas agrupam suas recomendações em quatro temas principais:
1. Ações com perfil de infraestrutura e TIRs reais atrativas – foco em concessionárias de serviços públicos bem geridas, empresas do setor de infraestrutura e shoppings centers. Esses ativos tendem a ter receitas mais estáveis e são beneficiados em cenários de queda de juros reais.
2. Cíclicos de qualidade com bom rendimento – empresas financeiras e construtoras voltadas à baixa renda compõem essa categoria, especialmente aquelas com fundamentos sólidos e boa gestão de capital.
3. Líderes com potencial de reinvestimento (calls seculares) – o BBA identifica oportunidades de longo prazo nos setores de saúde e consumo, buscando empresas que reúnem qualidade e valuation ainda razoável.
4. Exportadoras e commodities com bom valor – apesar da recente volatilidade gerada pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA, os analistas seguem com posição “overweight” em papéis de celulose, petróleo, gás e proteína animal, destacando que esses ativos ainda oferecem potencial interessante.
As sete lições do mercado até agora
No relatório divulgado, o Itaú BBA compartilhou sete observações sobre o comportamento do mercado de ações no ano:
1. A recuperação das ações locais foi liderada por small caps e o Ibovespa, que apresentaram os melhores desempenhos, sinalizando apetite ao risco por parte dos investidores.
2. Setores líderes e retardatários – bancos e utilities (como energia elétrica e saneamento) se destacaram positivamente, enquanto empresas exportadoras figuraram entre as mais penalizadas. Entre os papéis com maior contribuição positiva no índice estão Itaú (ITUB4), Eletrobras (ELET3), Sabesp (SBSP3), Banco do Brasil (BBAS3) e B3 (B3SA3).
3. Desempenho setorial favorável – dos 16 setores avaliados, 13 estão em território positivo. A exceção foi o setor de commodities, que apresentou a pior difusão. Das 106 ações analisadas, 73,6% acumularam alta no período.
4. Características das ações com melhor desempenho – os papéis com beta elevado (maior volatilidade), revisões negativas de lucro, dividendos elevados e alto nível de posições vendidas se destacaram. Esses ativos, frequentemente vistos como mais arriscados, foram beneficiados por movimentos de correção e realocação de portfólio.
5. Destaque entre mercados emergentes – o Brasil teve o segundo melhor desempenho entre os dez principais países que compõem o índice de mercados emergentes, ficando atrás apenas do México. A América Latina, que havia acumulado perdas de 30% em dólar no ano anterior, apresenta recuperação de 9,6%, puxada por Brasil, México, Chile e Colômbia.
6. Rotação de fatores – globalmente, há uma mudança de preferência de ações de crescimento para papéis com baixa volatilidade e maior valor. Na América Latina, os fatores locais, como small caps e ações ligadas ao crescimento, superaram outros mercados emergentes. No Brasil, small caps mostraram forte valorização, enquanto no México, as ações de crescimento lideraram os ganhos.
7. Ações de momentum e de valor lideram – o BBA destaca que papéis com forte momentum de lucros e características de valor (valuation atrativo) estão entre os principais motores da alta recente do mercado.
Impacto das tensões comerciais com os EUA
A recuperação recente do Ibovespa também foi influenciada pela redução das tensões comerciais entre os Estados Unidos e seus parceiros internacionais. Na véspera, o índice avançou 1,39%, chegando a 129.955 pontos na máxima do dia, após o governo dos EUA anunciar a suspensão de tarifas sobre produtos eletrônicos, como smartphones e laptops.
Apesar de o secretário de comércio norte-americano indicar que outras tarifas ainda podem ser aplicadas, a decisão foi bem recebida pelos mercados. Segundo o Itaú BBA, esse alívio momentâneo pode estender a alta do Ibovespa até o patamar de resistência técnica observado antes do anúncio das tarifas, que chegou a 131.190 pontos.