Tarifa de Trump pode impactar bilhões nas exportações brasileiras
A recente proposta de tarifa de Trump sobre produtos brasileiros acendeu um alerta vermelho para os estados exportadores, principalmente no Sudeste. Com uma sobretaxa de 50% prevista para entrar em vigor em agosto, setores estratégicos como aeronáutico, alimentício, siderúrgico e petrolífero estão sob risco. A medida, anunciada pelo ex-presidente e atual pré-candidato Donald Trump, representa uma ameaça direta ao fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos, especialmente para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que concentram mais de 70% das exportações brasileiras para o mercado norte-americano.
A seguir, uma análise sobre os impactos regionais, os produtos mais afetados, os desdobramentos políticos e econômicos da tarifa de Trump e como o Brasil pode reagir diante dessa reconfiguração comercial.
Sudeste lidera exportações e será o mais afetado pela tarifa de Trump
Exportações por estado: São Paulo à frente
De acordo com dados da Amcham e do Mdic, o estado de São Paulo liderou as exportações brasileiras aos Estados Unidos em 2024, com R$ 13,6 bilhões — representando 33,6% do total. O Rio de Janeiro veio em seguida com R$ 7,4 bilhões, e Minas Gerais, com R$ 4,6 bilhões. Juntos, os três estados responderam por 71% das vendas externas ao mercado americano.
No primeiro semestre de 2025, São Paulo já acumula R$ 6,4 bilhões em exportações, o Rio de Janeiro, R$ 3,2 bilhões, e Minas Gerais, R$ 2,4 bilhões, mantendo a mesma configuração dominante. Essa forte concentração no Sudeste indica que qualquer mudança nas relações comerciais entre Brasil e EUA impactará desproporcionalmente a economia dessa região.
Quais setores serão mais afetados pela tarifa de Trump?
Setor aeronáutico paulista: Embraer no foco
A indústria aeronáutica é uma das mais ameaçadas pela tarifa de Trump. As aeronaves da Embraer, produzidas no Vale do Paraíba, são atualmente o principal item da pauta de exportações paulistas para os Estados Unidos. A aplicação da sobretaxa comprometeria diretamente a competitividade da empresa frente aos concorrentes internacionais.
Além das aeronaves, o estado de São Paulo também exporta em grandes volumes sucos de frutas e equipamentos de engenharia — ambos produtos com margens apertadas e sensíveis a variações tributárias.
Petróleo e siderurgia no Rio de Janeiro
O óleo bruto de petróleo é o principal produto fluminense exportado aos EUA. Em um mercado volátil e altamente competitivo, um acréscimo de 50% no custo final para o importador norte-americano pode deslocar fornecedores brasileiros do ranking de preferência. Produtos como óleos combustíveis e itens siderúrgicos semiacabados, como ferro e aço, também serão penalizados com o aumento da tarifa.
Minas Gerais: café e ferro-gusa na mira
No caso de Minas Gerais, o café não torrado lidera as exportações para o mercado norte-americano, seguido por ferro-gusa e máquinas de geração elétrica. Esses produtos, especialmente o café, têm forte dependência do mercado externo. Qualquer variação de competitividade imposta pela nova tarifa de Trump pode comprometer fortemente as receitas estaduais e o equilíbrio da balança comercial mineira.
Crescimento das exportações em 2025 pode ser revertido
Mesmo diante da instabilidade política e econômica global, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram no primeiro semestre de 2025. A indústria de transformação teve um aumento de 3,2%, e o setor agropecuário, 1,3%. Dos dez principais produtos exportados ao mercado norte-americano, seis apresentaram crescimento em valor.
Entre os produtos que ampliaram sua presença estão o café não torrado, produtos siderúrgicos semiacabados e aeronaves. No entanto, esse avanço pode ser revertido caso a tarifa de Trump entre em vigor em agosto, como previsto.
Exportações industriais batem recorde e EUA lidera como destino
Um relatório da Amcham revelou que as exportações industriais do Brasil aos Estados Unidos chegaram a US$ 16 bilhões em 2025, recorde histórico. Isso posiciona os EUA como o principal parceiro comercial da indústria brasileira, à frente de blocos importantes como Mercosul (US$ 11,5 bilhões), União Europeia (US$ 10,8 bilhões) e China (US$ 9,7 bilhões).
A possível imposição da tarifa de Trump, nesse contexto, ameaça reverter esse avanço. Com margens reduzidas e pressão concorrencial global, setores industriais brasileiros podem perder participação de mercado, resultando em retração na produção, demissões e queda no PIB estadual e nacional.
Repercussões políticas e articulações diplomáticas
Governadores reagem ao tarifaço
A proposta de Trump causou forte desconforto político, especialmente entre governadores aliados ao ex-presidente norte-americano e a lideranças da oposição no Brasil.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reconheceu publicamente o impacto negativo da medida para o estado. Como líder do maior polo exportador do país, ele vem atuando nos bastidores para reverter a taxação. Recentemente, encontrou-se com o embaixador dos Estados Unidos no Brasil para debater alternativas e buscar flexibilizações.
Já Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, também criticou a medida e a classificou como injusta. Embora inicialmente tenha atribuído o problema a fatores internos da política nacional, Zema passou a defender publicamente uma revisão da tarifa de Trump, diante da pressão do setor produtivo mineiro.
Impactos econômicos esperados com a tarifa de Trump
A adoção da tarifa de Trump representa uma ameaça direta ao fluxo de exportações, com desdobramentos amplos para a economia brasileira:
1. Queda nas exportações totais
Setores fortemente dependentes do mercado norte-americano — como aeronáutico, alimentos processados, siderúrgico e energético — podem sofrer perdas expressivas, afetando diretamente a balança comercial brasileira.
2. Redução da produção industrial
A perda de mercado pode obrigar empresas a reduzir turnos, cortar investimentos e adiar expansões planejadas, prejudicando a geração de empregos.
3. Desvalorização de empresas brasileiras
Com a queda na receita externa, empresas com ações listadas em bolsa podem ver seus papéis desvalorizarem, impactando o mercado financeiro local.
4. Reação em cadeia nos estados
Estados com maior exposição ao comércio com os EUA, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, poderão sentir os efeitos da tarifa de Trump de forma mais aguda, com impactos sobre arrecadação, empregos e crescimento econômico.
Caminhos possíveis para mitigar os efeitos da tarifa
Diante do cenário de risco, o Brasil pode adotar uma série de medidas para minimizar os impactos da tarifa de Trump:
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Reforçar negociações diplomáticas bilaterais, buscando flexibilizações ou compensações comerciais;
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Diversificar mercados compradores, fortalecendo relações com Europa, Ásia e América Latina;
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Investir em competitividade industrial, com foco em tecnologia e eficiência;
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Apoiar financeiramente os setores mais vulneráveis, através de linhas de crédito específicas para exportação.
A proposta de tarifa de Trump expõe a vulnerabilidade do Brasil diante de mudanças unilaterais na política comercial de seus principais parceiros. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — estados que lideram as exportações para os EUA — podem sofrer impactos severos com a medida.
Mais do que uma questão pontual de tributação, o episódio destaca a importância de uma estratégia comercial robusta, diversificada e menos dependente de um único mercado. A reação do setor produtivo, dos governos estaduais e da diplomacia brasileira nas próximas semanas será determinante para definir o grau de dano que essa tarifa poderá causar à economia nacional.






