Impeachment de ministro do STF: entenda como funciona o processo no Senado
O impeachment de ministro do STF voltou ao centro do debate político brasileiro após a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Alexandre de Moraes. A medida provocou uma reação imediata da oposição, que busca emplacar um pedido de afastamento do magistrado.
Segundo líderes oposicionistas, 41 senadores já declararam apoio à proposta, número suficiente para aprovar a abertura do processo. No entanto, o avanço depende exclusivamente da decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tem reiterado publicamente que não pretende pautar o tema, independentemente da quantidade de assinaturas obtidas.
Base legal para o impeachment de ministro do STF
O artigo 52 da Constituição Federal estabelece que compete ao Senado processar e julgar ministros do Supremo Tribunal Federal em casos de crimes de responsabilidade. Esses crimes têm caráter político-administrativo e não criminal, sendo regidos pela Lei 1.079/1950.
De acordo com essa lei, são consideradas condutas passíveis de impeachment:
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Alterar decisão judicial já proferida sem base legal.
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Exercer atividade político-partidária.
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Agir de modo incompatível com a honra e o decoro do cargo.
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Ser desidioso no cumprimento de suas obrigações.
Caso seja condenado, o ministro pode perder o cargo e tornar-se inelegível por um período determinado.
Como é iniciado o processo de impeachment de ministro do STF
Qualquer cidadão brasileiro pode apresentar uma denúncia contra um ministro do STF, desde que comprove a prática de crime de responsabilidade. O pedido é encaminhado à Mesa Diretora do Senado, que decide pelo arquivamento ou pela tramitação.
No entanto, mesmo que o pedido tenha respaldo técnico e apoio político, a palavra final sobre seu andamento pertence ao presidente do Senado. É ele quem decide se o caso será levado adiante, fator que atualmente trava o pedido contra Alexandre de Moraes.
Etapas do rito de impeachment
Caso o presidente do Senado aceite a denúncia, o processo segue um rito estabelecido:
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Formação de comissão especial – Um grupo de senadores é designado para analisar a denúncia e emitir um parecer no prazo de até 10 dias.
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Primeira votação em plenário – O parecer é submetido ao plenário do Senado. Se aprovado por maioria simples (41 votos), o ministro é afastado do cargo por até 180 dias.
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Julgamento político-jurídico – O Senado passa a funcionar como tribunal, com julgamento presidido pelo presidente da Casa.
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Votação final – Para cassar definitivamente o ministro, é necessária a aprovação por dois terços dos senadores (54 votos).
Durante o afastamento, o ministro mantém seus direitos e remuneração até o julgamento final.
Precedentes na história brasileira
Na história recente do Brasil, nenhum ministro do STF foi afastado por impeachment desde a promulgação da Constituição de 1988. O único caso semelhante ocorreu ainda no período republicano inicial, em 1894, quando o Senado barrou a nomeação do ministro Barata Ribeiro por considerar que ele não possuía o “notável saber jurídico” exigido para o cargo.
O cenário político atual
Apesar da pressão da oposição e do número de assinaturas obtidas, o clima político não favorece o avanço do impeachment de Alexandre de Moraes.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), declarou recentemente que não há possibilidade de que o processo prospere no Senado, uma vez que a decisão cabe exclusivamente ao presidente da Casa, que já afirmou que não abrirá o processo “mesmo que tenha 80 senadores apoiando”.
Além disso, líderes governistas e parte do chamado “centrão” têm se posicionado contra pautas que possam gerar instabilidade institucional, o que torna o cenário ainda mais desfavorável para a iniciativa.
Por que o impeachment de ministro do STF é raro?
O impeachment de ministros do Supremo é raro porque depende de uma combinação de fatores:
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Forte embasamento jurídico para sustentar a acusação.
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Vontade política do presidente do Senado.
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Maioria qualificada para aprovar a cassação.
Essas exigências tornam o processo altamente complexo e politicamente delicado, já que afeta diretamente a relação entre os Poderes Legislativo e Judiciário.
O que esperar nos próximos meses
A tendência é que o pedido atual contra Alexandre de Moraes siga sem avanços concretos, a menos que haja uma mudança de postura por parte do presidente do Senado ou uma alteração significativa no ambiente político.
A oposição deve continuar usando o tema como bandeira política, mas, na prática, o rito processual e o cenário institucional tornam a concretização do impeachment pouco provável no curto prazo.






