Inflação IPCA-15 de Maio Surpreende para Baixo e Reforça Otimismo do Mercado
IBOV atinge novo recorde nominal enquanto investidores projetam manutenção da Selic
A divulgação do IPCA-15 de maio trouxe uma dose inesperada de alívio para o mercado financeiro brasileiro. O indicador, considerado uma prévia da inflação oficial, registrou alta de 0,36% no mês — abaixo das projeções do mercado, que giravam em torno de 0,44%, e do índice de abril, que ficou em 0,43%. Em termos acumulados em 12 meses, a inflação recuou para 5,40%, uma queda em relação aos 5,49% registrados no período anterior.
O resultado abaixo do esperado gerou efeitos imediatos nos ativos de risco. O Ibovespa (IBOV) subiu 1,02%, fechando o dia a 139.541 pontos, e bateu novo recorde nominal intradiário ao atingir 140.382 pontos. Paralelamente, o dólar recuou mais de 0,50%, sendo cotado a R$ 5,645.
Inflação IPCA-15: alívio no curto prazo, mas sem euforia
Apesar da desaceleração, o índice IPCA-15 ainda permanece acima do teto da meta inflacionária estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No entanto, o recuo de 0,90 ponto percentual no excedente inflacionário frente aos 0,99 p.p. do mês anterior é visto como um sinal de que a política monetária rigorosa começa a surtir efeito.
Entre os principais componentes que puxaram a inflação do mês, destaca-se o aumento de 1,68% na energia elétrica residencial, em razão da mudança na bandeira tarifária. Esse item isolado respondeu por 0,06 ponto percentual do IPCA-15 de maio. Por outro lado, os alimentos — que têm forte peso na cesta de consumo das famílias — apresentaram desaceleração, o que contribuiu para suavizar o índice geral.
Essa combinação de alta nos preços da energia com alívio nos alimentos é um reflexo típico de um cenário em transição. Ou seja, há pressões inflacionárias pontuais, mas o núcleo inflacionário parece mais comportado.
Reação do mercado: otimismo contido com a inflação IPCA-15
A leitura do mercado financeiro foi imediata e otimista. A Bolsa respondeu com valorização, especialmente nos setores mais sensíveis aos juros, como varejo e construção civil. O fato de a inflação IPCA-15 ter vindo abaixo das expectativas reforçou a percepção de que o Banco Central pode ter espaço para manter a taxa Selic estável em sua próxima reunião.
De acordo com dados da B3, a probabilidade de manutenção da Selic em 14,75% subiu para 83% nesta quarta-feira, contra 74% no dia anterior e apenas 55% duas semanas atrás. Isso mostra que os agentes econômicos estão revendo suas apostas sobre a política monetária após o novo dado inflacionário.
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) já havia indicado que decisões futuras dependeriam do comportamento dos principais indicadores — e a inflação IPCA-15 de maio vem justamente reforçar esse caminho.
Selic em xeque: estabilidade ganha força
Ainda que o cenário inflacionário melhore gradualmente, o Banco Central deve adotar uma postura cautelosa. Afinal, mesmo com a desaceleração, a inflação IPCA-15 de maio ainda está longe da meta central de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Além disso, o núcleo da inflação — que desconsidera itens voláteis como alimentos e energia — também precisa confirmar uma trajetória de queda sustentada. Nesse sentido, o IPCA-15 de maio é um alívio, mas não uma vitória final contra a inflação.
Impacto fiscal e IOF: cenário incerto segue no radar
Paralelamente ao alívio inflacionário, outro fator observado pelos investidores é o anúncio de um contingenciamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento federal. A medida, se concretizada, pode contribuir para um cenário fiscal mais equilibrado e, indiretamente, ajudar no controle da inflação.
No entanto, incertezas ainda pairam sobre a proposta de alteração no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Caso as mudanças não sejam aprovadas, a economia prevista pode ser reduzida. Apesar disso, o contingenciamento atual já representa um avanço frente ao quadro fiscal anterior.
A expectativa do mercado é que o ajuste fiscal, combinado com o arrefecimento da inflação IPCA-15, proporcione um ambiente mais favorável para investimentos e manutenção dos juros. Mas o cenário ainda exige cautela.
Azul pede recuperação judicial e mercado reage com atenção
Apesar do bom humor provocado pelo dado da inflação IPCA-15, o mercado também foi impactado por notícias corporativas de peso. A companhia aérea Azul (AZUL4) entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, em meio a dificuldades financeiras.
O episódio reacendeu preocupações sobre a saúde do setor aéreo, que ainda enfrenta os efeitos de altas taxas de juros e custos operacionais elevados. A notícia impôs uma certa moderação ao otimismo geral, mas não foi suficiente para anular o efeito positivo do dado inflacionário.
Emprego e perspectivas: dados do Caged no radar
Outro dado relevante para esta semana é o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), referente a abril. A expectativa do mercado é de criação de 175 mil postos formais, contra 71,58 mil no mês anterior. Um número acima do previsto pode reforçar o argumento de que a economia brasileira está se recuperando gradualmente, mesmo com os juros altos.
Combinando inflação IPCA-15 em desaceleração, expectativas de manutenção da Selic, ajustes fiscais e possíveis sinais de recuperação no mercado de trabalho, os analistas projetam um segundo semestre mais equilibrado — embora ainda repleto de desafios.
Inflação IPCA-15 pode marcar ponto de inflexão
A divulgação da inflação IPCA-15 de maio pode ser um ponto de inflexão na condução da política econômica. Ao sinalizar uma desaceleração mais firme, o dado reacende o debate sobre os próximos passos do Copom, mesmo que um corte na Selic ainda esteja distante.
O mercado reagiu positivamente ao dado, e a valorização do Ibovespa e a queda do dólar refletem esse otimismo. No entanto, os fundamentos seguem frágeis, e o cenário externo, assim como as incertezas fiscais e políticas, continuam a exigir atenção.
Para os investidores e observadores da economia, a inflação IPCA-15 representa mais que um número: é um termômetro da eficácia das medidas adotadas e um indicativo do caminho que pode ser trilhado a partir de agora.