A inflação na zona do euro recuou para 1,8% em ritmo anual no mês de setembro de 2024, representando o menor índice desde junho de 2021, de acordo com dados divulgados pela Eurostat. A principal razão para essa queda foi o recuo dos preços da energia, que ajudou a baixar a inflação para um nível inferior à meta de 2% estabelecida pelo Banco Central Europeu (BCE). Esse novo cenário coloca pressão sobre o BCE para continuar reduzindo as taxas de juros, um movimento iniciado em junho deste ano.
Redução da Inflação Energética e Impactos no BCE
A queda acentuada nos preços da energia foi o principal fator por trás da redução da inflação na zona do euro. Segundo a Eurostat, os preços de energia caíram 6% em ritmo anual em setembro. Esse recuo não só ajudou a puxar o índice geral de inflação para baixo, como também aumentou as expectativas de que o BCE possa realizar novos cortes nas taxas de juros nos próximos meses.
Essa situação ocorre após o BCE já ter implementado duas reduções nas taxas de juros desde o início de 2024, com a taxa principal sendo mantida em 3,5% na última reunião de setembro. A redução anterior, ocorrida em junho, foi a primeira em cinco anos e representou uma resposta direta à diminuição da inflação, após o aumento significativo que ocorreu no contexto da invasão russa da Ucrânia em 2022.
A Meta do Banco Central Europeu e o Papel da Energia
O BCE tem como objetivo manter a inflação perto, mas abaixo, de 2% a médio prazo. Com a inflação anual agora abaixo dessa meta, surge uma oportunidade para a autoridade monetária ajustar sua política de juros. A principal preocupação do BCE nos últimos anos foi o aumento descontrolado dos preços, especialmente no setor de energia, causado em grande parte pelo choque geopolítico da guerra na Ucrânia. No entanto, com a recente estabilização dos preços, o cenário inflacionário começa a apresentar sinais mais favoráveis.
Ainda que o recuo nos preços da energia tenha sido determinante para a queda da inflação geral, outros setores da economia continuam a pressionar os índices. Os preços dos alimentos, bebidas alcoólicas e tabaco, por exemplo, registraram um aumento de 2,4% em setembro. No setor de serviços, a alta foi de 4,0%, ainda que levemente inferior à registrada em agosto, que foi de 4,1%.
Inflação Subjacente: O Foco dos Analistas
Outro dado importante é a chamada inflação subjacente, que exclui os preços de energia e alimentos, por serem considerados mais voláteis. Esse índice é acompanhado de perto pelos economistas e analistas para medir a tendência de longo prazo da inflação. Em setembro, a inflação subjacente na zona do euro foi de 2,7%, uma leve queda em relação ao mês anterior, quando foi registrada em 2,8%. Isso sugere que, apesar do alívio proporcionado pela queda dos preços da energia, os demais componentes da economia continuam a apresentar pressões inflacionárias, ainda que moderadas.
Essa desaceleração gradual da inflação subjacente reforça a expectativa de que o BCE continuará a monitorar de perto a evolução dos preços para ajustar sua política monetária de acordo com o comportamento dos índices ao longo dos próximos meses.
Panorama nos Países da Zona do Euro
O cenário inflacionário não foi uniforme entre os países da zona do euro. Entre as principais economias do bloco, a Alemanha, maior potência econômica da União Europeia, registrou uma inflação de 1,8% em setembro, exatamente em linha com a média do bloco. Na França, o índice foi ainda menor, atingindo 1,5%. A Itália e a Espanha apresentaram resultados mais baixos, com 0,8% e 1,7%, respectivamente.
Entretanto, algumas nações apresentaram índices significativamente mais elevados do que a média da zona do euro. A Bélgica, por exemplo, registrou uma inflação de 4,5%, enquanto a Holanda ficou com 3,3%. Outros países, como Portugal (2,6%), Estônia (3,2%), Grécia (3,0%) e Croácia (3,0%), também ficaram acima da média, refletindo realidades econômicas mais pressionadas por questões internas, como variações de preços locais e políticas fiscais distintas.
Expectativas para o Futuro
A expectativa para os próximos meses é de que o BCE continue com sua política de cortes de juros, em uma tentativa de garantir que a inflação permaneça controlada e próxima de sua meta. O principal desafio, no entanto, será equilibrar as pressões vindas de diferentes setores econômicos, como alimentos e serviços, que continuam a mostrar sinais de elevação.
As projeções de consultorias financeiras para setembro eram de que a inflação ficasse em 1,9%, levemente superior ao índice real de 1,8%. Isso demonstra que o cenário inflacionário na zona do euro está sob controle, mas ainda há desafios pela frente, especialmente em relação à inflação subjacente, que continua acima do nível desejado pelo BCE.
Além disso, a política de juros terá que ser calibrada de acordo com a evolução da economia global e o impacto de fatores externos, como a continuidade da guerra na Ucrânia e suas repercussões nos mercados de energia e alimentos. A recuperação econômica global e o comportamento das cadeias de abastecimento também serão fundamentais para determinar os próximos passos do BCE.
A queda da inflação na zona do euro para 1,8% em setembro de 2024 é um indicativo de que a política monetária do BCE está começando a surtir efeito, especialmente com a queda nos preços da energia. No entanto, setores como alimentos e serviços ainda representam um desafio para a estabilidade de preços no longo prazo. Com a inflação subjacente ainda acima de 2%, o Banco Central Europeu deverá continuar monitorando de perto o cenário econômico e ajustar sua estratégia de taxas de juros conforme necessário para garantir que a inflação permaneça dentro da meta estabelecida.