Senado discute liberação de jogos de azar no Brasil: entenda o projeto e seus impactos
O Senado Federal está prestes a analisar um dos temas mais polêmicos das últimas décadas: a liberação de jogos de azar no Brasil. A proposta, já aprovada pela Câmara dos Deputados em 2022, será votada no plenário do Senado nas próximas semanas, antes do início do recesso parlamentar em 23 de dezembro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sinalizou que a votação poderá ocorrer em 4 ou 10 de dezembro, dependendo da agenda legislativa.
O que prevê o projeto de lei?
Aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em junho, o texto regulamenta a exploração de diversas modalidades de jogos de azar, como cassinos, bingos, jogos de videobingo, jogo do bicho, jogos online e apostas em corridas de cavalos. A proposta põe fim a uma proibição que vigora desde 1946 e revoga trechos da Lei de Contravenções Penais, que criminaliza essas práticas.
Regras para operação e fiscalização
Se aprovado, a operação de jogos de azar no Brasil será restrita a empresas com sede no país, que deverão cumprir exigências rigorosas, como:
- Capital mínimo: R$ 10 milhões para bingos e jogo do bicho, e R$ 100 milhões para cassinos.
- Comprovação de origem lícita dos recursos.
- Licenças expedidas pelo Ministério da Fazenda, que poderá também criar uma agência reguladora para supervisionar o setor.
Os jogos só poderão ser oferecidos em estabelecimentos físicos ou plataformas online autorizadas. Haverá fiscalização rigorosa por meio de sistemas digitais e auditorias periódicas para evitar práticas ilegais, como lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
Impactos econômicos e sociais
O senador Irajá (PSD-TO), relator do projeto, destacou que a regulamentação pode transformar os jogos de azar em uma “atividade econômica relevante”, gerando receita para os cofres públicos e emprego para milhares de brasileiros. Parte da arrecadação será destinada ao combate ao vício em jogos, tratado como um problema de saúde pública.
Por outro lado, opositores argumentam que a liberação pode aumentar os casos de ludopatia (vício em jogos) e trazer impactos negativos às famílias. Para mitigar esses riscos, o projeto prevê:
- Proibição de participação de menores de idade, ludopatas registrados e pessoas com dívidas superiores ao patrimônio.
- Criação de um Registro Nacional de Proibidos (Renapro), que listará os impedidos de jogar.
Tributação: apostadores e casas de jogos
O texto estabelece a tributação dos prêmios e das empresas que explorarem os jogos:
- Apostadores: Prêmios acima de R$ 10 mil serão tributados em 20% no Imposto de Renda.
- Casas de jogos: Pagarão uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) de 17% sobre a receita bruta, além de taxas trimestrais que variam conforme o tipo de jogo.
Crimes e penalidades
A proposta endurece a legislação para coibir práticas ilegais relacionadas aos jogos de azar:
- Exploração sem licença poderá resultar em prisão de até quatro anos.
- Fraudes e dificuldade à fiscalização podem levar à reclusão de até sete anos e multas milionárias.
- Empresas poderão ter as licenças cassadas e serem impedidas de operar por até dez anos.
Desafios na aprovação dos jogos de azar no Brasil
Apesar de avanços, o projeto enfrenta resistência de parlamentares conservadores e movimentos sociais. Além disso, escândalos recentes envolvendo apostas esportivas online têm gerado pressão para que o Senado adote critérios ainda mais rígidos.
Se aprovado pelo Senado sem alterações, o texto seguirá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso contrário, precisará retornar ao Congresso para ajustes.
A liberação dos jogos de azar no Brasil é uma decisão que promete dividir opiniões, mas, acima de tudo, terá impactos profundos na economia, na sociedade e na regulamentação de um setor historicamente marginalizado.