Jorge Messias intensifica articulação após cancelamento de encontro com PL e Novo e busca apoio na bancada evangélica
A corrida política em torno da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) entrou em uma nova fase nesta terça-feira. Em meio ao acirramento das resistências no Senado e ao cancelamento de um almoço com o bloco Vanguarda — composto por parlamentares do PL e do Novo —, o advogado-geral da União voltou-se para um dos grupos mais influentes e estratégicos do Congresso: a bancada evangélica.
Da articulação discreta nos bastidores à exposição pública de apoios pontuais, o movimento evidencia a aceleração do Planalto para assegurar a aprovação do nome de Jorge Messias em uma Casa onde cresce o desgaste político em torno de sua indicação.
O gesto do senador Mecias de Jesus, uma das principais lideranças evangélicas da oposição, foi o primeiro sinal concreto de apoio vindo de um setor historicamente alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A visita cordial e estratégica ao gabinete do parlamentar, poucas horas após o cancelamento do encontro com o Vanguarda, representou mais do que um gesto de cortesia: tornou-se o novo eixo de sustentação política num cenário em que o Planalto ainda não converteu votos suficientes para garantir a aprovação no plenário.
Tensões ampliam desafios para Jorge Messias no Senado
Desde o anúncio da indicação, a relação entre o governo e o Senado atravessa uma fase de tensão. A escolha de Jorge Messias contrariou parte da cúpula da Casa, que defendia o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como sucessor no STF. A decisão de Lula abriu uma fissura institucional e intensificou pressões cruzadas entre lideranças partidárias.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tornou-se um dos principais protagonistas desse atrito. Ele vinha conduzindo negociações internas para viabilizar a escolha de Pacheco para o Supremo. Ao ser contrariado, reagiu alinhando sua base ao discurso de que o governo teria se precipitado, criando desnecessariamente um desconforto político.
Mesmo assim, Alcolumbre marcou a sabatina de Jorge Messias para 10 de dezembro, decisão que chamou a atenção pela brevidade do prazo. Para aliados do governo, a data tão próxima reduz o tempo hábil de articulação. Para oposicionistas, representa apenas o cumprimento do rito institucional. Nos bastidores, contudo, parlamentares admitem que o gesto aumenta a pressão sobre o Planalto.
Cancelamento de encontro com PL e Novo intensifica desgaste
O cancelamento do almoço com o bloco Vanguarda, composto por PL e Novo, marcou um dos episódios mais simbólicos do desgaste político. O grupo justificou o recuo alegando “incompatibilidade de agendas”, mas interlocutores próximos afirmam que houve resistência crescente entre parlamentares alinhados ao bolsonarismo e setores economicamente liberais, que enxergam em Jorge Messias um perfil excessivamente identificado com pautas governistas e com interpretações jurídicas que desagradaram parte da oposição.
O episódio sinalizou que a resistência à indicação está menos ligada ao currículo e mais relacionada ao simbolismo político que a nomeação carrega. Em diversas votações e disputas no STF, o nome de Messias foi visto como alinhado às teses do governo Lula, o que aumenta o incômodo de parlamentares que defendem maior independência do Judiciário — ou, em alguns casos, maior alinhamento ao campo conservador.
Bancada evangélica: peça-chave na articulação
A visita de Jorge Messias ao gabinete de Mecias de Jesus foi interpretada nos corredores do Senado como um gesto claro de reconciliação com parte da oposição. O senador, filiado ao Republicanos e integrante ativo da bancada evangélica, é um dos poucos oposicionistas que já se manifestaram publicamente a favor da indicação.
O apoio de Mecias tem peso político relevante por três fatores:
1. Liderança sobre um grupo coeso
A bancada evangélica é uma das mais articuladas do Congresso e frequentemente vota de forma coordenada, o que pode definir votações apertadas.
2. Capilaridade entre oposição e centro
Mesmo com divergências internas, o grupo consegue dialogar tanto com partidos governistas quanto com aqueles ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
3. Sensibilidade a pautas morais
Indicações ao STF sempre passam pelo filtro das “pautas de costumes”. Nesse aspecto, declarações de Messias e sua trajetória serão analisadas com lupa pelo grupo.
A aproximação do AGU com parlamentares evangélicos tenta reduzir resistências que se formaram após sua atuação em temas sensíveis e próximas a decisões que dividiram o país, como discussões sobre liberdade religiosa, direitos fundamentais e políticas do governo federal relacionadas ao combate à desinformação.
Clima tenso entre Poderes marca a indicação de Jorge Messias
O próprio Davi Alcolumbre, que vinha sendo criticado por aliados do Palácio do Planalto por supostamente dificultar o andamento da indicação, acusou o governo de construir uma “falsa narrativa” sobre interferências no processo. Para ele, a responsabilidade por qualquer atraso na tramitação é do Executivo, que não teria enviado formalmente a mensagem de indicação no prazo esperado.
Essa troca de acusações expôs um cenário de tensão entre Executivo e Legislativo, reforçando a percepção de isolamento de Jorge Messias. O ambiente político indicando que a sabatina marcada para 10 de dezembro não será apenas um ritual formal, mas um teste de força e habilidade política.
Sabatina será decisiva para virar votos
A sabatina no Senado assume, portanto, papel central na reconfiguração do cenário. Messias terá de apresentar uma postura que concilie firmeza jurídica com sensibilidade política. Os senadores querem ouvir posicionamentos sobre:
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independência em relação ao Executivo;
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respeito às liberdades individuais;
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papel do STF diante de crises institucionais;
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limites da atuação do Judiciário em temas sensíveis;
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posições sobre decisões polêmicas da Corte nos últimos anos;
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entendimento sobre a competência do Supremo em casos envolvendo fake news e liberdade de expressão.
Para o governo, a expectativa é que a performance de Jorge Messias consiga reduzir resistências e conquistar parlamentares indecisos — um grupo considerado decisivo para a aprovação final.
A força simbólica da indicação
Para o presidente Lula, nomear Jorge Messias para o STF não representa apenas preencher uma vaga. É também uma demonstração de confiança em um jurista que esteve ao seu lado em momentos cruciais, incluindo sua defesa em processos de grande repercussão nacional.
Essa proximidade, porém, é justamente um dos pontos que alimentam a resistência de parte do Senado. Parlamentares cobram maior distanciamento entre Judiciário e Executivo e temem que a escolha reflita interesses políticos. Messias precisará demonstrar, durante a sabatina, seu compromisso com a independência e a imparcialidade — elementos essenciais para garantir votos de senadores que mantêm postura crítica em relação ao governo.
Caminho ainda é incerto
Com a aproximação da sabatina, o governo intensifica a articulação envolvendo líderes partidários, ministros e assessores responsáveis por mapear votos e identificar pontos de resistência. Nas últimas 48 horas, o tabuleiro político evoluiu para um cenário em que:
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apoios explícitos ainda são escassos;
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parte da oposição endureceu o discurso;
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a bancada evangélica tornou-se peça decisiva;
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o Planalto busca frear a percepção de isolamento;
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Alcolumbre mantém controle sobre o ritmo do processo.
Nos bastidores, integrantes do governo avaliam que a indicação tem condições de ser aprovada, mas admitem que o cenário está longe de ser confortável. A avaliação predominante é que a articulação dependerá, mais do que nunca, da habilidade de Jorge Messias em demonstrar serenidade, preparo técnico e capacidade de diálogo.






