Os meandros da política brasileira têm se transformado, exigindo dos líderes uma sofisticação na adaptação às novas dinâmicas. O cenário atual difere significativamente da época em que as disputas eram predominantemente entre o PT e o PSDB, marcadas por uma certa civilidade democrática. Hoje, enfrentamos um embate entre petistas e bolsonaristas de extrema direita, dispersos por vários partidos e que abertamente defendem a ideia de um golpe de estado.
A percepção dessa mudança tornou-se clara quando o senador Jaques Wagner, líder do governo no Senado, declarou seu voto a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2023. Essa PEC limita o voto individual dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outros tribunais superiores. A votação, ocorrida em dois turnos, teve um placar consistente de 52 a favor e 18 contra, com outros senadores da base do governo, como Otto Alencar e Ângelo Coronel, seguindo a mesma posição.
A decisão de Wagner gerou críticas, especialmente porque o governo se posicionava contra a PEC. No entanto, a relação entre Wagner e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é marcada por uma sintonia que vai além das aparências. Em um contexto político onde a oposição não é mais representada pela direita democrática, mas sim pela extrema direita liderada por Jair Bolsonaro, a rapidez nas decisões e a compreensão mútua entre líderes são cruciais.
A origem bolsonarista da PEC do STF evidencia a intensidade das tensões entre os dois polos políticos. As críticas à atuação do STF, desde as orientações sobre a pandemia até os eventos de 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro tentaram um golpe, contribuíram para o surgimento dessa proposta. Wagner, ao votar a favor, colocou-se no centro das atenções, destacando a complexidade do cenário político atual.
Outro episódio que ilustra essa nova dinâmica política ocorreu quando, aconselhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Lula vetou a desoneração da folha de pagamento de empresas de 17 setores, aprovada pelo Congresso. Esse veto gerou intensos debates, refletindo a polarização entre empresários, sindicalistas e comentaristas econômicos. A estratégia de Haddad inclui apresentar um plano alternativo após a COP-28, confiando na possível aprovação da PEC da Reforma Tributária.
A política contemporânea, tanto no Brasil quanto em outros lugares, é marcada por líderes que se orgulham de suas posturas golpistas e conseguem eleições expressivas defendendo ideias exóticas. A ascensão de figuras como Javier Milei na Argentina e a contínua influência de Donald Trump nos Estados Unidos são sintomas desse “novo normal” político que alguns comentaristas ainda não assimilaram.
Neste contexto, a agilidade e a compreensão mútua entre os líderes no Congresso tornam-se ainda mais cruciais. A votação da PEC do STF é apenas um capítulo dessa complexa narrativa política, onde a velocidade dos acontecimentos requer líderes com autonomia para navegar nas águas turbulentas da atualidade.