O Ministério de Minas e Energia está avaliando a possível reimplementação do horário de verão como uma estratégia para mitigar os efeitos da crise hídrica sobre o setor elétrico brasileiro. A discussão foi abordada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante um evento internacional sobre gás natural nesta quarta-feira (11). O retorno do horário de verão está sendo considerado em um contexto crítico de seca e aumento do consumo de energia, mas a decisão final dependerá de fatores políticos e técnicos.
O Papel do Horário de Verão na Economia de Energia
O horário de verão, instituído pela primeira vez em 1931 durante o governo de Getúlio Vargas, foi amplamente adotado a partir de 1985. A principal intenção dessa medida é aproveitar a iluminação natural durante o período de verão, quando os dias são mais longos e as noites mais curtas. Esse ajuste permite uma redução no consumo de energia e diminui o risco de apagões, aproveitando a luz do dia para reduzir a necessidade de iluminação artificial à noite.
O ministro Alexandre Silveira destacou que a medida poderia ter um impacto positivo no setor elétrico, principalmente em um “momento realmente crítico” causado pela combinação de seca, calor intenso e alto consumo de energia durante o horário de pico. Segundo Silveira, o horário de verão ajuda a distribuir a demanda de energia de maneira mais equilibrada ao longo do dia, reduzindo a pressão sobre o sistema elétrico durante os picos de consumo.
Desafios e Considerações Técnicas
No entanto, o horário de verão é visto por alguns especialistas como uma decisão política mais do que técnica. Apesar de poder ajudar a redistribuir o consumo de energia, a economia real gerada pela medida não é necessariamente significativa. O horário de verão atua em um período em que o consumo de energia tende a ser maior, particularmente no final da tarde e início da noite, quando muitos brasileiros ligam ar-condicionado, ventiladores e outros aparelhos.
Durante esse horário, a produção de energia solar diminui devido à falta de sol, enquanto a geração eólica tende a aumentar à noite, quando os ventos são mais fortes. Esse intervalo entre a queda da energia solar e o aumento da energia eólica pode criar picos de demanda que precisam ser supridos por fontes de energia hidrelétrica ou térmica. Com a redução dos níveis de água nos reservatórios e menor geração de energia hidrelétrica devido à seca, há uma necessidade crescente de acionamento de termelétricas, que são mais caras e poluentes.
Silveira afirmou que “se pudermos diluir o consumo com o horário de verão, talvez seja um ganho que possa dar robustez ao sistema”. A ideia é que ao antecipar o horário de pico de consumo, seria possível suavizar a demanda e reduzir a necessidade de utilizar termelétricas para cobrir os períodos críticos.
Suspensão do Horário de Verão e Contexto Atual
O horário de verão foi suspenso em 2019 durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), uma medida que havia sido avaliada anteriormente pelo governo de Michel Temer (MDB). Na época, o governo justificou a suspensão afirmando que o adiantamento dos relógios havia perdido sua eficácia devido a mudanças no padrão de consumo de energia e avanços tecnológicos. A crise hídrica de 2021 também não foi suficiente para reverter a decisão, embora o governo tenha estudado a retomada da política, solicitando um parecer do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Perspectivas e Decisões Futuras
O debate sobre a reintrodução do horário de verão está longe de ser resolvido. A decisão final dependerá não apenas de considerações técnicas, mas também de decisões políticas que levarão em conta o impacto potencial da medida na economia de energia e na operação do sistema elétrico. A discussão sobre o horário de verão se insere em um contexto mais amplo de desafios relacionados à crise hídrica e à necessidade de garantir a estabilidade do fornecimento de energia em um momento de alta demanda e capacidade reduzida.
A reimplementação do horário de verão pode ser uma ferramenta útil para ajudar a mitigar os efeitos da crise hídrica sobre o setor elétrico, mas a sua eficácia e viabilidade ainda estão em discussão. A medida visa redistribuir o consumo de energia e aliviar a pressão sobre o sistema elétrico durante os horários críticos. No entanto, a decisão final dependerá de uma análise cuidadosa dos impactos potenciais e da aprovação das autoridades competentes.