A dieta mediterrânea – rica em alimentos que contêm ácidos graxos ômega 3, como sementes de linhaça, nozes e peixes – acaba de ganhar mais um estudo sobre benefícios de médio e longo prazo. Desta vez, uma pesquisa descobriu que a perda de peso devido a uma nova versão do regime pode ajudar a reduzir o envelhecimento do cérebro.
De acordo com os dados apresentados, a “idade” do cérebro dos participantes do experimento pareceu quase nove meses mais jovem, para cada redução de 1% de peso corporal.
A pesquisa, publicada no “eLife”, veículo global de divulgação científica, envolveu a observação clínica de 102 pessoas, durante 18 meses, por especialistas do departamento de ciências cognitivas e do cérebro da Universidade Ben-Gurion do Neguev, em Israel.
Versão “verde” da dieta mediterrânea, com mais polifenóis e menos carne vermelha, foi responsável por diminuir a gordura no fígado, apontaram pesquisadores — Foto: Unsplash
Os participantes, escolhidos por critérios de presença de obesidade entre um grupo de 300 voluntários já monitorados pelos pesquisadores, passaram por exames cerebrais no início e no final do programa, além de testes para analisar processos biológicos afetados pelo excesso de peso, como a saúde do fígado.
A redução do envelhecimento cerebral, segundo os estudiosos, foi associada a alterações como a diminuição da gordura no órgão e de enzimas hepáticas.
“O estudo destaca a importância de um estilo de vida saudável, incluindo o menor consumo de alimentos processados, doces e bebidas, na manutenção da saúde do cérebro”, disse Gidon Levakov, ex-aluno de pós-graduação da universidade e coautor do relatório, durante a apresentação dos resultados.
Para o experimento, os pesquisadores introduziram uma versão “verde” da dieta mediterrânea, diferente da tradicional, por causa da presença mais abundante de polifenóis e menor quantidade de carne vermelha. Os polifenóis são compostos orgânicos encontrados principalmente em plantas e frutas.
Nos 18 meses do estudo, que recebeu fundos do governo alemão e de Israel, os participantes consumiram, diariamente, 28 gramas de nozes, três a quatro xícaras de chá verde e uma xícara de chá de mankai, planta aquática verde, rica em ferro e proteínas.
O aumento na gordura do fígado mostrou afetar negativamente a saúde neurológica dos voluntários, com reflexos associados à doença de Alzheimer, explicou. A boa notícia, segundo o cientista, é que não é preciso muito esforço para manter-se longe do perigo.
“Descobrimos que mesmo uma perda de peso de 1% pode ser suficiente para levar a uma redução de nove meses na ‘idade’ cognitiva”, garantiu.
No Brasil, a obesidade, que também pode levar ao surgimento de doenças crônicas como câncer e diabetes, atingiu 26% da população adulta brasileira em 2019, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com profissionais da saúde, as causas para o problema incluem alimentação de alta densidade calórica e o sedentarismo, além de fatores genéticos e psicológicos. A tendência é de alta de casos.
Um relatório divulgado na revista científica “Scientific Reports” estima que, em 2030, sete em cada dez brasileiros estarão com excesso de peso. A expectativa, a partir do conjunto de casos de obesidade registrados entre 2006 e 2019, é baseada em dados da plataforma Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do governo federal.
Cuidar da saúde mental e adotar um estilo de vida saudável, orientado por profissionais multidisciplinares, pode mudar essa realidade, segundo especialistas. A orientação básica, dizem dois nutricionistas ouvidos pelo Valor, é praticar atividades físicas e evitar o excesso de refrigerantes e alimentos calóricos, principalmente os processados.