OPA da Gol: companhia avança na saída da B3, mas pendências ainda travam o fechamento de capital
A Gol Linhas Aéreas Inteligentes (GOLL54) deu mais um passo decisivo no processo de fechamento de capital na B3, com a aprovação da incorporação da companhia e da Gol Investment Brasil (GIB) pela Gol Linhas Aéreas (GLA). O movimento faz parte de uma reorganização societária que deve culminar na OPA da Gol, processo que permitirá a saída da aérea do mercado de capitais.
Apesar do avanço, ainda há pendências jurídicas e operacionais que impedem a conclusão imediata da operação, especialmente em relação à escolha do avaliador independente responsável por definir o preço justo das ações na oferta pública.
Reorganização societária marca etapa crucial da OPA da Gol
Em assembleias realizadas no início de novembro, os acionistas aprovaram a incorporação da Gol e da Gol Investment Brasil pela GLA, estrutura que passará a concentrar os ativos e passivos da companhia aérea.
A medida integra o plano de reorganização interna iniciado em outubro, que visa simplificar a estrutura societária e preparar o terreno para a OPA da Gol, conforme comunicado ao mercado.
Com a conclusão da incorporação, a GLA — que será a única empresa remanescente — passará a deter 100% dos ativos operacionais e financeiros da Gol, unificando as operações sob uma só razão social.
Pendência sobre o laudo de avaliação adia o processo
O passo seguinte na OPA da Gol depende da definição da instituição responsável pela elaboração do laudo de avaliação independente, documento essencial para estabelecer o valor por ação a ser ofertado aos acionistas minoritários.
A assembleia especial de preferencialistas convocada para deliberar sobre o tema não alcançou quórum mínimo de participação, o que impediu a escolha do avaliador. Uma nova convocação foi marcada para 13 de novembro de 2025, com opção de voto à distância para facilitar a adesão dos acionistas.
Os boletins de voto já enviados permanecerão válidos, salvo manifestação em contrário. Após a definição do avaliador, a Gol Investment Brasil (GIB) — que lidera o processo — dará início à contratação e à elaboração do laudo técnico, que servirá de base para o cálculo do preço da OPA da Gol.
Controladora não pretende pagar mais que R$ 47,25 milhões aos minoritários
Em documento encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia antecipou que não deve desembolsar mais que R$ 47,25 milhões para adquirir os papéis remanescentes dos acionistas minoritários.
A cifra considera a baixa liquidez atual das ações e o fato de a GIB deter, atualmente, 99,97% das ações ordinárias e 99,22% das preferenciais da Gol.
Com esse cenário, o free float da Gol — ou seja, a parcela de ações em livre negociação — despencou para apenas 0,78%, índice muito inferior ao mínimo de 25% exigido pela B3 para manutenção do registro de companhia aberta no Nível 2 de governança corporativa.
Entenda o impacto da OPA da Gol no mercado
A OPA (Oferta Pública de Aquisição) é o instrumento pelo qual uma companhia recompra suas ações em circulação na bolsa com o objetivo de fechar capital ou reorganizar o controle societário.
No caso da OPA da Gol, a operação tem como meta simplificar a estrutura corporativa, reduzir custos regulatórios e fortalecer a posição financeira da empresa, que vem passando por um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos e de reestruturação operacional no Brasil.
Ao consolidar as empresas do grupo sob a GLA, a Gol pretende aumentar a eficiência administrativa e eliminar sobreposições societárias, mantendo foco nas operações de transporte aéreo.
B3 havia concedido prazo até 2027 para adequação do free float
A B3 (Bolsa de Valores de São Paulo) havia concedido à Gol um prazo até janeiro de 2027 para recompor o percentual mínimo de 25% de ações em circulação, conforme as regras do Nível 2 de governança.
No entanto, a empresa optou por não realizar novas emissões ou vendas secundárias e decidiu lançar a OPA da Gol para retirar completamente seus papéis do mercado.
Segundo analistas, o movimento sinaliza foco total na reestruturação interna e redução da exposição regulatória, especialmente em um momento em que a empresa busca recuperar margens financeiras e estabilizar custos operacionais após o aumento de capital de R$ 12 bilhões realizado em 2025.
Como funcionará a incorporação e troca de ações
Com a reorganização, os acionistas da Gol e da GIB passarão a deter ações ordinárias da nova GLA, de acordo com as seguintes proporções:
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1 ação ordinária da GLA para cada ação ordinária da Gol;
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35 ações ordinárias da GLA para cada ação preferencial da Gol;
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O único acionista da GIB, detentor das ações da antiga controladora, receberá a totalidade das ações ordinárias da GLA originalmente destinadas à GIB.
Na prática, a operação não altera o controle efetivo do grupo, mas alinha a estrutura societária para que o fechamento de capital ocorra de forma juridicamente correta após a conclusão da OPA da Gol.
Por que a Gol optou pela OPA e não por ajuste de capital?
Ao escolher o caminho da OPA da Gol, a companhia evita os custos e as exigências de compliance de manter um free float artificial.
Para analistas de mercado, a opção por retirar as ações da B3 é coerente com o momento financeiro da aérea, que ainda enfrenta pressões de caixa, alta do dólar e custos com combustíveis em patamar elevado.
Além disso, ao encerrar o capital, a empresa reduz a exposição pública de seus demonstrativos e ganha flexibilidade para implementar medidas internas sem necessidade de constantes aprovações de acionistas minoritários.
Próximos passos: cronograma e etapas pendentes da OPA da Gol
A concretização da OPA da Gol ainda depende de uma série de marcos procedimentais e regulatórios. O cronograma previsto inclui:
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Assembleia especial de preferencialistas (13/11/2025): definição do avaliador responsável pelo laudo;
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Elaboração do laudo de avaliação: estabelecimento do preço justo das ações com base em critérios técnicos e fluxos de caixa projetados;
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Divulgação do edital da OPA: especificando condições, prazos e procedimentos para adesão;
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Período de aceite pelos acionistas minoritários: prazo durante o qual investidores poderão vender suas ações;
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Liquidação financeira e exclusão da listagem na B3.
Somente após a conclusão dessas etapas a OPA da Gol será finalizada e a empresa deixará oficialmente de ser listada na bolsa brasileira.
Consequências para os investidores minoritários
Com o domínio quase total do capital pela GIB, os acionistas minoritários da Gol possuem pouca margem de negociação. O preço final da OPA da Gol será determinado pelo laudo de avaliação e, posteriormente, revisado pela CVM, caso haja questionamentos sobre a metodologia.
Especialistas destacam que, diante do pequeno número de papéis em circulação, o poder de barganha dos minoritários é reduzido, o que limita o potencial de valorização do preço da oferta.
No entanto, investidores ainda podem recorrer à CVM ou manifestar discordância formal, pedindo reavaliação do preço por arbitragem, conforme previsto na Lei das S.A.
Perspectivas para a Gol após o fechamento de capital
Com a OPA da Gol e a consolidação sob a GLA, a expectativa é de que a companhia concentre esforços em recompor margens operacionais e reorganizar passivos financeiros.
A aérea ainda enfrenta desafios ligados à demanda doméstica oscilante, custos elevados de combustível e pressão cambial sobre contratos de leasing de aeronaves.
Analistas acreditam que, sem a exigência de divulgação pública trimestral, a Gol poderá atuar de forma mais ágil na implementação de medidas de eficiência e focar em rotas rentáveis, preservando a imagem da marca em meio à concorrência acirrada no setor aéreo.
Repercussão entre investidores e analistas
A notícia sobre o avanço da OPA da Gol repercutiu no mercado como mais um capítulo esperado de uma reestruturação que já vinha sendo precificada há meses.
Embora o movimento seja visto como natural, alguns investidores lamentam a perda de acesso a um dos principais papéis do setor aéreo brasileiro, que historicamente figurava entre os mais negociados na B3.
Por outro lado, analistas ressaltam que o fechamento de capital pode ser benéfico para a companhia, permitindo revisão de estratégias sem a pressão de curto prazo típica do mercado acionário.
O que esperar da assembleia de novembro
A assembleia de 13 de novembro será decisiva para destravar o processo da OPA da Gol. A eleição do avaliador independente permitirá o início da fase técnica e poderá definir os rumos do cronograma.
Caso a nova reunião volte a enfrentar falta de quórum, o processo poderá sofrer atrasos adicionais, prolongando a permanência da Gol na B3 e ampliando custos administrativos.
A expectativa é de que, com o avanço da OPA, a Gol finalize o processo de fechamento de capital em 2026, consolidando definitivamente sua nova estrutura societária sob a GLA.






