Depois de tocarem o piso de cerca de US$ 450 por tonelada na China, os preços da celulose de fibra curta voltaram a subir em maio e os produtores, liderados pela brasileira Suzano, a maior em celulose de mercado do mundo, encontraram espaço para anunciar o primeiro reajuste em quase um ano para as entregas na Ásia.
Na última semana, o preço da fibra curta (BHKP) negociada na China estava em US$ 507,70 por tonelada, com alta de US$ 1,70 em uma semana e de US$ 32,70 em um mês, indicando que o primeiro aumento de US$ 30 por tonelada, anunciado para junho, foi integralmente implementado.
Com essa valorização, os preços da fibra importada superaram os valores praticados na revenda, equivalentes a cerca de US$ 494,34 por tonelada, segundo relatório de sexta-feira do BTG Pactual. Na semana, os preços na revenda chinesa recuaram US$ 12,34 por tonelada.
Outro reajuste, também de US$ 30 por tonelada na Ásia, foi anunciado para os pedidos em julho. Ainda assim, analistas que acompanham a indústria seguem cautelosos quanto ao curto prazo, em razão do volume crescente de celulose adicional no mercado e da demanda fraca, na ponta, nos principais mercados.
Entre um anúncio e outro de aumento, a Suzano informou que planeja reduzir em cerca de 4% o volume produzido de celulose de mercado em 2023, em comparação à capacidade produtiva nominal de cerca de 11 milhões de toneladas. “Essa decisão se baseia no fato que tal volume não traria retorno adequado à companhia em um momento de mercado de celulose mais complexo”, justificou.
Além dos preços em patamares historicamente baixos, a expectativa de volume crescente de oferta no decorrer do segundo semestre deve ter pesado na decisão da líder de mercado. Apenas dois projetos, de expansão da Arauco e uma nova fábrica da UPM, vão adicionar, gradualmente, mais de 3,5 milhões de toneladas por ano de celulose de fibra curta no mercado global a partir de 2023.
A companhia chilena deu a partida no início do ano ao projeto Mapa, e vai elevar em 1,56 milhão de toneladas a disponibilidade da matéria-prima assim que for cumprida a curva de aprendizado. A UPM inaugurou no dia 6 a unidade Paso de Los Toros, no Uruguai, com capacidade nominal de 2,1 milhões de toneladas por ano. A demanda global, por sua vez, deve crescer entre 1 milhão e 1,5 milhão de toneladas por ano.
Considerando-se a taxa de ocupação progressiva das novas linhas de produção, o impacto mais significativo no mercado deve ocorrer no segundo semestre. E, em tese, a oferta desse tipo de celulose poderia ser maior que a demanda já em 2023.
Mas, como lembraram em relatório do dia 16 os analistas Caio Ribeiro, Leonardo Neratika e Guilherme Rosito, do Bank of America (BofA), não é incomum que paradas não programadas em fábricas superem as estimativas e retirem do mercado volumes acima do esperado. Na média dos cinco últimos anos, esse volume ficou em 1,5 milhão de toneladas anuais.
“A RISI estima interrupções no fornecimento chegando a cerca de 900 mil toneladas de janeiro a maio deste ano, levando a um volume anualizado de 2,2 milhões de toneladas, contra nossa estimativa de 500 mil toneladas para 2023”, escreveram. Nesse ambiente, a decisão da Suzano de reduzir produção em 2023 também pode contribuir para um mercado mais equilibrado no segundo semestre.
Na Europa, os preços da fibra curta seguem em correção no mercado físico e chegaram a US$ 960,72 por tonelada na semana passada. Segundo a StoneX, os derivativos de celulose base Europa operaram basicamente estáveis na Norexeco. “No curto prazo, as curvas futuras mantêm formato invertido/backwardation (preços futuros mais baixos) de -7,5% entre maio e julho de 2023 no caso da BHKP”, apontou a trading, acrescentando que as curvas futuras assumem perfil estável até dezembro e de alta a partir de janeiro. O preço referencial da BHKP para o quatro trimestre é de US$ 915 por tonelada.