STF abre processo contra Jair Bolsonaro: entenda a ação penal que pode levar o ex-presidente à prisão
Início do processo penal formaliza denúncia da PGR e coloca Bolsonaro e aliados como réus em trama golpista
Em mais um capítulo decisivo da política e da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu início ao processo contra Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, e mais sete envolvidos no que é apontado como uma tentativa de golpe de Estado. A ação penal, que tramita sob o número 2.668, foi oficialmente aberta nesta sexta-feira, 11 de abril de 2025, marcando o avanço da fase de responsabilização judicial dos integrantes do chamado núcleo 1 do inquérito.
A decisão do STF representa um marco na história recente do Brasil e atende à solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que denunciou os acusados por crimes gravíssimos. Entre eles, estão organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, além da deterioração de patrimônio tombado.
O que significa a abertura do processo penal contra Bolsonaro?
A abertura do processo contra Jair Bolsonaro é uma formalidade jurídica que confirma a decisão da Primeira Turma do STF em aceitar a denúncia apresentada pela PGR. Com isso, o ex-presidente e seus aliados passam a ser formalmente réus. Essa fase inicia a instrução processual, etapa essencial para a coleta e análise de provas, oitiva de testemunhas e os interrogatórios dos acusados.
A relatoria do caso está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, que já vinha conduzindo os inquéritos relacionados aos atos antidemocráticos desde os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Quem são os réus no processo penal?
Além de Jair Bolsonaro, o processo penal envolve figuras-chave do alto escalão do governo anterior, todas diretamente ligadas à estrutura de poder:
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Walter Braga Netto: general do Exército, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022;
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Augusto Heleno: ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
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Alexandre Ramagem: ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
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Anderson Torres: ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
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Almir Garnier: ex-comandante da Marinha;
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Paulo Sérgio Nogueira: ex-ministro da Defesa e general do Exército;
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Mauro Cid: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, atualmente colaborador da Justiça.
Esses nomes formam o chamado “núcleo 1”, grupo que teria atuado diretamente na articulação para minar as instituições democráticas do país e manter Bolsonaro no poder mesmo após sua derrota nas urnas.
Quais os crimes imputados a Bolsonaro e aos demais réus?
Os crimes pelos quais Jair Bolsonaro e os demais réus foram denunciados pela PGR e aceitos pelo STF são considerados de extrema gravidade. Veja a seguir:
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Organização criminosa armada: prevê penas mais severas quando há uso de armamento ou envolvimento de agentes públicos.
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Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito: crime contra o regime democrático, tipificado na legislação brasileira pós-ditadura.
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Golpe de Estado: um dos crimes mais graves contra a ordem constitucional.
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Dano qualificado pela violência e grave ameaça: refere-se aos prejuízos materiais e simbólicos causados, especialmente nas sedes dos Três Poderes em Brasília.
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Deterioração de patrimônio tombado: diz respeito à destruição de bens protegidos por lei, como os imóveis históricos do Congresso Nacional e STF.
As penas somadas podem ultrapassar 30 anos de reclusão, caso os acusados sejam condenados por todos os crimes.
Como será conduzida a instrução processual?
A instrução processual será a fase determinante para o desfecho do processo contra Jair Bolsonaro. Nessa etapa, os advogados de defesa apresentarão testemunhas e poderão requerer novas diligências. O objetivo será construir uma narrativa capaz de desmontar a acusação da PGR. Ao final dessa fase, os acusados serão interrogados.
Com base nas provas colhidas, o STF julgará se os réus devem ser condenados ou absolvidos. Ainda não há uma data definida para o julgamento, mas a expectativa é que ele ocorra até o final do segundo semestre de 2025.
Núcleos da trama golpista: o que ainda está por vir?
O inquérito que levou ao processo contra Jair Bolsonaro é dividido em três núcleos:
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Núcleo 1: já transformado em ação penal, reúne Bolsonaro e seus principais ministros e militares de confiança.
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Núcleo 2: será julgado nos dias 22 e 23 de abril de 2025. Trata-se de um grupo de seis acusados de planejar ações de sustentação política e institucional para manter Bolsonaro no cargo.
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Núcleo 3: julgamento marcado para os dias 20 e 21 de maio. O grupo, formado por 11 militares do Exército e um policial federal, é acusado de arquitetar táticas para viabilizar o golpe.
Repercussões políticas e jurídicas do processo contra Jair Bolsonaro
A abertura do processo contra Jair Bolsonaro acirra o cenário político nacional. A direita conservadora permanece dividida entre os que defendem o ex-presidente a qualquer custo e os que buscam uma alternativa política menos radical para 2026. Por outro lado, partidos do centro e da esquerda interpretam o avanço da ação penal como um passo fundamental para a preservação do Estado Democrático de Direito.
No campo jurídico, o caso tem potencial para se tornar um divisor de águas. Trata-se da primeira vez que um ex-presidente da República responde criminalmente por tentativa de golpe de Estado no Brasil pós-redemocratização. Especialistas apontam que o julgamento pode fixar precedentes importantes sobre a responsabilização de autoridades públicas que atentam contra a Constituição.
Qual o impacto de uma possível condenação de Bolsonaro?
Caso seja condenado, Jair Bolsonaro pode ser preso e ficará inelegível por tempo indeterminado, encerrando sua trajetória política de forma definitiva. Além disso, as implicações de uma sentença condenatória para os demais réus, que são figuras de destaque nas Forças Armadas e na antiga estrutura de segurança do Estado, podem gerar desdobramentos institucionais importantes.
Ainda que os recursos legais permitam prorrogações do processo, o andamento célere determinado pelo STF mostra que há uma determinação clara de julgar os fatos com responsabilidade, mas sem lentidão.
O Brasil diante de uma encruzilhada histórica
O processo contra Jair Bolsonaro representa um momento histórico de profunda reflexão para o Brasil. Ao julgar um ex-presidente e seus aliados por crimes contra a democracia, o STF sinaliza ao país — e ao mundo — que os pilares constitucionais não podem ser violados sem consequências.
Enquanto os réus se preparam para defender-se das acusações, o país acompanha cada movimento do Judiciário com atenção redobrada. O desfecho desse processo pode redefinir os rumos da política brasileira e consolidar, de forma definitiva, o compromisso com a democracia e o Estado de Direito.