Mototáxi em São Paulo é proibido pela Justiça: Uber e 99 suspendem serviço e futuro da categoria é incerto
Regulamentação e segurança colocam em xeque o transporte por aplicativo em motocicletas na maior metrópole do Brasil
A cidade de São Paulo, conhecida por sua complexidade urbana e trânsito intenso, vive mais um capítulo decisivo em sua mobilidade urbana: a proibição do serviço de mototáxi em São Paulo por decisão judicial. A medida afeta diretamente as operações das plataformas Uber e 99, que suspenderam seus serviços de transporte de passageiros por motocicleta após determinação do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP). A controvérsia, que envolve segurança viária, regulamentação municipal e os limites do poder executivo, reacende um debate crucial sobre o papel da inovação no transporte público urbano.
Com a decisão assinada pelo desembargador Eduardo Gouvêa, da 7ª Câmara de Direito Público, o serviço de mototáxi em São Paulo foi paralisado imediatamente. O descumprimento da ordem implica em multa diária de R$ 30 mil para cada empresa envolvida, o que levou Uber e 99 a suspenderem prontamente as operações. A situação não apenas impacta motoristas e usuários, mas também pressiona a Prefeitura de São Paulo a estabelecer regras claras para essa modalidade.
Um acidente que acendeu o alerta
A decisão judicial veio apenas dois dias após um trágico acidente na Avenida Tiradentes, no centro da capital paulista, que resultou na morte de uma passageira transportada por uma motocicleta via aplicativo. O episódio reacendeu os argumentos da Prefeitura, que desde 2023 busca banir o mototáxi em São Paulo com base na fragilidade dessa modalidade em termos de segurança pública.
O caso funcionou como catalisador para endurecer a política municipal, revelando a fragilidade de um serviço que cresceu rapidamente, mas sem respaldo regulatório sólido.
Disputa judicial: da permissão à suspensão em poucos dias
A trajetória jurídica do mototáxi em São Paulo tem sido marcada por decisões e reviravoltas em curto espaço de tempo. Em 14 de maio, o juiz Josué Vilela Pimentel autorizou o funcionamento dos mototáxis por aplicativo. No entanto, dois dias depois, o desembargador Eduardo Gouvêa suspendeu a liminar e determinou que a Prefeitura crie regulamentações específicas no prazo de 90 dias.
A Uber, antecipando a decisão, havia suspendido preventivamente o serviço, enquanto a 99 optou por continuar operando até que fosse obrigada judicialmente a interromper.
Competência legal e o papel da Prefeitura
O TJ-SP fundamenta sua decisão no artigo 11-A da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que confere aos municípios a competência exclusiva para regulamentar o transporte individual privado. Com base nisso, a Prefeitura de São Paulo argumenta que o decreto de 2023, que proíbe o serviço de mototáxi em São Paulo, está dentro de suas atribuições legais.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem sustentado que a medida visa, prioritariamente, garantir a segurança dos passageiros, diante da escalada de acidentes envolvendo motocicletas de aplicativo.
A posição das plataformas Uber e 99
As gigantes da mobilidade urbana têm posturas distintas em relação ao mototáxi em São Paulo. A 99, que já realizou mais de 1 milhão de corridas na capital paulista, questiona a constitucionalidade do decreto, defendendo que a regulamentação da modalidade deveria ocorrer por meio de uma lei municipal aprovada pela Câmara, e não por decreto executivo.
Já a Uber ressalta que possui mais de 20 decisões judiciais favoráveis em outras cidades do Brasil, reforçando que a legalidade do transporte de passageiros por motocicletas é reconhecida judicialmente em diferentes contextos. Ambas as empresas destacam a necessidade de um ambiente jurídico estável e regulamentado para operar com segurança.
A urgência de regulamentar o mototáxi em São Paulo
O vácuo normativo em torno do mototáxi em São Paulo levanta preocupações. Sem regras claras, a prestação desse serviço ocorre de forma precária e insegura, afetando tanto motoristas quanto passageiros. A Justiça deu à Prefeitura o prazo de 90 dias para definir parâmetros que incluam:
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Condições técnicas para os veículos;
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Requisitos mínimos de segurança para os condutores;
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Critérios para a contratação e fiscalização dos serviços;
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Medidas de proteção e direitos dos passageiros.
Especialistas em mobilidade urbana defendem que a regulamentação pode fomentar a inovação sem comprometer a segurança pública. O desafio está em encontrar esse equilíbrio.
Segurança viária: um risco inevitável?
As motocicletas, por suas características, oferecem menos proteção em caso de acidentes. A própria estrutura das vias da cidade e a imprudência de alguns condutores agravam o risco. Dados revelam um crescimento no número de acidentes envolvendo motocicletas, o que preocupa as autoridades municipais.
Para a Prefeitura, o serviço de mototáxi em São Paulo via aplicativos ainda não apresenta garantias mínimas de segurança, como capacetes apropriados, treinamento dos condutores e seguros para passageiros.
Impactos imediatos da suspensão
A suspensão do serviço causa efeitos imediatos em diversas frentes:
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Para os usuários: milhares de passageiros que dependiam do mototáxi em São Paulo para se deslocar rapidamente enfrentam agora dificuldades e precisam buscar alternativas mais lentas e muitas vezes mais caras;
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Para os motoristas parceiros: há perda de renda, especialmente entre trabalhadores que encontraram na motocicleta uma oportunidade de sustento;
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Para a mobilidade urbana: há pressão sobre outros modais, como o transporte público e os carros de aplicativo, o que pode aumentar o tempo de deslocamento e os custos para os usuários.
O futuro do mototáxi em São Paulo
A expectativa é que, dentro dos 90 dias estipulados, a Prefeitura de São Paulo publique uma regulamentação robusta para permitir a retomada legal e segura do serviço. Contudo, o clima é de incerteza, especialmente diante da judicialização da questão e da resistência das plataformas.
Analistas afirmam que o futuro do mototáxi em São Paulo dependerá da capacidade de diálogo entre poder público, empresas de tecnologia e sociedade civil. O modelo ideal é aquele que respeita a legalidade, protege os usuários e oferece oportunidade econômica aos trabalhadores.
A proibição do mototáxi em São Paulo representa um ponto de inflexão no debate sobre mobilidade urbana, inovação e segurança pública. A decisão do TJ-SP obriga a cidade a repensar como integrar novas formas de transporte sem comprometer a vida dos cidadãos. O tempo corre, e os próximos 90 dias serão cruciais para definir o rumo dessa modalidade que, para muitos, já era parte essencial do dia a dia.