O economista Gabriel Galípolo foi formalmente indicado para suceder Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC) na quarta-feira, 28 de agosto de 2024. A indicação, que surpreendeu pouco o mercado financeiro, marca um novo capítulo na política monetária brasileira, trazendo à tona uma série de expectativas e preocupações entre investidores e analistas. O processo de sucessão exige que Galípolo seja sabatinado pelo Senado nas próximas semanas, o que definirá seu futuro à frente da autarquia.
Trajetória e Experiência
Gabriel Galípolo, atualmente diretor de Política Monetária do BC, possui uma extensa trajetória acadêmica e profissional. Graduado e mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde também atuou como professor, Galípolo é associado a uma abordagem econômica mais heterodoxa. A PUC-SP é conhecida por sua tolerância a maiores gastos públicos e maior intervenção estatal na economia.
Antes de sua atuação no Banco Central, Galípolo ocupou cargos importantes na administração pública, incluindo a Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda no início do terceiro governo Lula. Sua experiência inclui também trabalho na Secretaria de Transportes de São Paulo, na gestão de José Serra, e na Secretaria de Economia e Planejamento, onde lidou com projetos de concessão e parcerias público-privadas (PPPs).
Entre 2009 e 2017, Galípolo fundou e dirigiu a Galípolo Consultoria, estruturando investimentos significativos em diversas áreas como mobilidade urbana, rodovias, saneamento, habitação e saúde. Ele também atuou como CEO do banco Fator e como conselheiro de várias instituições, incluindo a Fiesp e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Expectativas do Mercado
A indicação de Galípolo para a presidência do Banco Central é recebida com uma mistura de expectativa e ceticismo no mercado financeiro. Segundo Paulo Henrique Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos, “Suas declarações sobre juros serão monitoradas com lupa”. Duarte ressalta que o mercado está aguardando a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para avaliar a postura de Galípolo em relação à política monetária.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, considera a experiência prévia de Galípolo positiva, destacando que ele já foi testado em suas opiniões sobre política monetária. Cruz também enfatiza a necessidade de observar como Galípolo lidará com a questão da interferência no câmbio e as críticas que o governo atual fez a Campos Neto por permitir uma valorização excessiva da moeda.
Evandro Buccini, sócio da Rio Bravo Investimentos, sugere que Galípolo pode adotar uma postura mais ortodoxa inicialmente para ganhar credibilidade. “É provável que, para ganhar credibilidade, ele vote a favor de um aumento na Selic na próxima reunião”, afirma Buccini, destacando a incerteza sobre se essa postura será mantida a longo prazo.
Desafios e Perspectivas
A nomeação de Galípolo para a presidência do Banco Central representa um ponto de interseção entre demandas ortodoxas do mercado e as expectativas desenvolvimentistas do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se referido a Galípolo como o “menino de ouro”, uma referência ao reconhecimento de sua capacidade e proximidade com o governo.
No entanto, o equilíbrio entre as demandas do mercado e as diretrizes desenvolvimentistas será crucial para o sucesso de Galípolo no cargo. A sua abordagem heterodoxa pode influenciar suas decisões sobre política monetária e fiscal, o que pode gerar volatilidade e incerteza no mercado financeiro.
A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central marca um momento significativo para a economia brasileira. Sua extensa experiência e abordagem econômica heterodoxa levantam questões sobre como ele lidará com as pressões do mercado e as demandas do governo. A sabatina no Senado e suas primeiras ações à frente do BC serão observadas de perto por investidores e analistas, que aguardam sinais claros sobre a direção futura da política monetária no Brasil.