Raízen (RAIZ4) mantém rating AAA.br pela Moody’s, mas enfrenta perspectiva negativa e pressão no mercado
A Raízen (RAIZ4) teve o rating AAA.br mantido pela Moody’s Local Brasil, mas a perspectiva foi alterada de estável para negativa, refletindo preocupações com o aumento do endividamento e a deterioração das métricas de crédito. A decisão, divulgada na noite de quarta-feira (12), ocorre em um momento de forte pressão nas ações da companhia, que acumulam queda de mais de 50% em 2025 e permanecem há quase 30 pregões abaixo de R$ 1 na B3, aproximando-se da classificação de penny stock.
A mudança na perspectiva acende um alerta sobre o desempenho financeiro e a governança da Raízen, uma das maiores empresas de energia do país, controlada pela Cosan (CSAN3) e pela Shell. Apesar da revisão negativa, o rating AAA.br — a nota máxima na escala nacional — ainda indica alta capacidade de pagamento e perfil de crédito sólido, sustentado pela diversificação das operações e pela liderança nos setores de açúcar, etanol e combustíveis.
Moody’s mantém rating, mas alerta para deterioração financeira
Segundo a Moody’s Local Brasil, a mudança da perspectiva reflete a deterioração significativa das métricas de crédito da Raízen nos últimos trimestres, resultado de um cenário operacional mais fraco e aumento do endividamento bruto.
A agência avalia que, embora a companhia mantenha uma posição competitiva robusta, sua estrutura de capital precisa ser fortalecida por meio de desinvestimentos e aportes de capital. No entanto, as incertezas sobre o montante, o formato e o timing dessas medidas elevam o risco de execução e dificultam a redução da alavancagem financeira no curto prazo.
Na visão da Moody’s, a Raízen (RAIZ4) ainda apresenta um perfil de negócios sólido, apoiado em elevada escala operacional, diversificação geográfica e forte presença no mercado de biocombustíveis. o relatório destaca que o segmento sucroenergético continua sendo uma importante fonte de rentabilidade, embora sujeito à volatilidade de preços internacionais.
Setores de atuação e diversificação sustentam a nota máxima
A manutenção do rating AAA.br demonstra a confiança da Moody’s na capacidade da Raízen de atravessar o momento de instabilidade. A empresa atua em três pilares estratégicos — açúcar e etanol, energia renovável e distribuição de combustíveis — o que reduz a exposição a riscos setoriais concentrados.
O segmento de combustíveis, responsável por parte relevante da receita, continua sendo o mais estável em geração de caixa, compensando parcialmente a volatilidade do mercado sucroalcooleiro. Já o negócio de bioenergia, impulsionado pela produção de etanol de segunda geração (E2G) e pela geração de energia elétrica a partir do bagaço da cana, representa o futuro estratégico da companhia dentro do contexto da transição energética global.
No entanto, a queda das margens no refino, aliada ao aumento dos custos de operação e logística, afetou o desempenho consolidado da companhia.
Resultados operacionais e desafios financeiros
A Raízen (RAIZ4) tem enfrentado dificuldades em converter expansão de receita em lucro. Apesar do aumento do faturamento, os custos de produção, transporte e insumos agrícolas pressionaram a rentabilidade.
De acordo com estimativas de mercado, a XP Investimentos projeta prejuízo de R$ 427 milhões no segundo trimestre da safra 2025/2026, com receita líquida de cerca de R$ 59 bilhões, abaixo dos R$ 63 bilhões esperados pelo consenso.
Esse resultado, se confirmado, reforçará o cenário de queda de rentabilidade e aumento da dívida, dois fatores centrais para a decisão da Moody’s de revisar a perspectiva.
Ainda assim, a XP mantém recomendação de compra para as ações da Raízen, com preço-alvo de R$ 2,40, sustentando que a empresa continua sendo líder em um setor estratégico e possui ativos de alta qualidade com potencial de valorização no médio prazo.
Risco de penny stock e impacto na B3
Na B3, as ações da Raízen (RAIZ4) completaram 28 pregões consecutivos abaixo de R$ 1, patamar crítico que, se mantido por mais dois dias, caracterizará o papel como penny stock — denominação usada para empresas com ações negociadas a valores inferiores a R$ 1.
De acordo com o regulamento da bolsa, companhias nessa situação podem sofrer sanções, incluindo a retirada de índices de referência, como o Ibovespa, e o rebaixamento de classificação de governança corporativa.
Desde o IPO, os papéis acumulam queda de quase 90%, refletindo a perda de confiança dos investidores e a percepção de deterioração estrutural nos resultados.
Raízen Energia e sinergias internas
A Raízen Energia, subsidiária voltada à produção e comercialização de açúcar, etanol e bioenergia, também teve seu rating reafirmado em AAA.br, com base na forte integração com a controladora. A Moody’s ressalta os vínculos implícitos e explícitos entre as duas entidades, que compartilham recursos financeiros, estratégias de gestão e estruturas operacionais.
A sinergia entre as unidades é considerada um dos principais pontos de resiliência da Raízen, especialmente em períodos de volatilidade de mercado. Além disso, a integração vertical — que vai do plantio da cana até a distribuição de combustíveis — confere à empresa vantagem competitiva frente a concorrentes que atuam em segmentos isolados.
Perspectiva negativa e desafios para 2026
A perspectiva negativa atribuída pela Moody’s indica que o rating AAA.br pode ser revisado para baixo caso a companhia não apresente melhora consistente nas métricas de crédito ou não avance nos planos de desalavancagem.
Os analistas apontam que a Raízen precisará acelerar vendas de ativos não estratégicos, atrair novos aportes de capital e otimizar a gestão de caixa para reverter a tendência de enfraquecimento financeiro.
A companhia vem avaliando parcerias e desinvestimentos seletivos, especialmente em áreas com menor retorno, como parte de sua estratégia de ajuste estrutural. O objetivo é reduzir a dívida líquida e aumentar a geração de caixa operacional, mantendo investimentos focados em bioenergia e transição energética.
A força da diversificação e o papel da sustentabilidade
Mesmo diante das dificuldades, a Raízen (RAIZ4) segue sendo um dos maiores conglomerados de energia renovável do mundo, com papel relevante no processo de descarbonização.
A companhia é responsável por mais de 20% da produção global de etanol de cana-de-açúcar e vem expandindo seus projetos em etanol de segunda geração (E2G), biogás e energia elétrica a partir de biomassa. Esses segmentos são considerados estratégicos para o futuro do setor energético brasileiro, especialmente em um contexto de busca por fontes limpas e renováveis.
Esse posicionamento deve continuar atraindo investidores com foco ESG (Ambiental, Social e Governança), mesmo diante de oscilações no curto prazo.
Raízen enfrenta pressão, mas mantém fundamentos sólidos
A decisão da Moody’s Local Brasil de manter o rating AAA.br da Raízen (RAIZ4), mesmo com a mudança da perspectiva para negativa, reflete a dualidade do momento vivido pela companhia: por um lado, há robustez operacional e relevância estratégica; por outro, desafios financeiros e de execução que precisam ser endereçados com rapidez.
O desempenho das ações e o risco de rebaixamento da classificação refletem um ambiente de cautela entre investidores, mas também oportunidades de recuperação caso a empresa consiga reforçar o caixa e melhorar margens.
A Raízen, com sua presença dominante em biocombustíveis, açúcar e distribuição de combustíveis, segue sendo um ativo-chave na transição energética brasileira. O foco agora está em recuperar confiança no mercado e estabilizar resultados, garantindo sustentabilidade financeira e operacional no longo prazo.






