Sanções dos EUA: Brasil entra na mira da diplomacia americana em nova ofensiva contra o crime internacional
Comitiva liderada por David H. Gamble Jr. desembarca no Brasil com foco em articulação estratégica para combate ao tráfico e terrorismo, reacendendo tensões políticas internas
Na última segunda-feira, 5 de maio de 2025, o Brasil recebeu a visita de uma comitiva de alto escalão enviada pelo governo dos Estados Unidos, com um objetivo claro e estratégico: ampliar o alcance das sanções dos EUA contra organizações criminosas transnacionais. A delegação, liderada por David H. Gamble Jr., coordenador interino do Escritório de Coordenação de Sanções do Departamento de Estado, tem em sua agenda uma série de reuniões com representantes do governo federal e do Legislativo brasileiro.
O tema central da missão diplomática é o alinhamento entre Brasil e Estados Unidos na luta contra crimes organizados com ramificações internacionais, incluindo tráfico de drogas, terrorismo e corrupção transnacional. A visita ocorre em meio a um novo contexto político global, com o retorno de Donald Trump à presidência americana e o reposicionamento da política externa dos EUA no combate às ameaças híbridas.
Sanções dos EUA: mecanismo estratégico de pressão diplomática
As sanções dos EUA são instrumentos econômicos, financeiros e políticos utilizados por Washington para pressionar governos, empresas e indivíduos que representem riscos à segurança nacional americana. No atual contexto, essas sanções estão voltadas especialmente a combater grupos criminosos que financiam o tráfico de armas, drogas, e terrorismo internacional.
Ao trazer o tema para o solo brasileiro, o governo norte-americano sinaliza que considera o Brasil uma peça-chave no combate às redes ilícitas que operam globalmente. Não por acaso, a presença de Gamble Jr., militar e diplomata experiente, é vista como uma tentativa direta de aprofundar a cooperação bilateral no campo da segurança e da inteligência.
Quem é David H. Gamble Jr.: o arquiteto das sanções contemporâneas
David H. “Chip” Gamble Jr. não é um diplomata qualquer. Oficial da reserva do Exército dos Estados Unidos, ele serviu em zonas de conflito como Afeganistão e Coreia do Sul e possui ampla trajetória diplomática em países geopolítica e militarmente estratégicos, como Rússia, Polônia, Cazaquistão e Filipinas. Desde que Donald Trump reassumiu a presidência em 2025, Gamble comanda o Escritório para Coordenação de Sanções, uma das engrenagens mais relevantes da diplomacia americana no cenário atual.
Além da atuação no serviço público, Gamble traz em seu currículo passagens por empresas envolvidas com segurança e inteligência, como a Booz Allen — mesma consultoria associada ao escândalo global protagonizado por Edward Snowden em 2013. Essa bagagem revela um perfil técnico e militarizado, capaz de operar em contextos de alto risco e sensibilidade diplomática.
Objetivos da comitiva americana no Brasil: sanções, alianças e recados políticos
Segundo nota oficial divulgada pela Embaixada dos EUA no Brasil, a comitiva liderada por Gamble Jr. tem como objetivo articular “esforços conjuntos” no combate a organizações criminosas transnacionais. Apesar de não haver detalhamento sobre os nomes que serão alvo direto das conversas, especulações políticas surgiram após o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmar que a visita teria como foco o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A embaixada, no entanto, foi categórica ao não mencionar qualquer autoridade do Judiciário brasileiro na pauta da missão. A diplomacia americana prefere adotar um discurso técnico e pragmático, embora a movimentação tenha implicações políticas claras.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, afirmou que parlamentares da oposição devem se encontrar com Gamble em reuniões articuladas por Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores. Além disso, na noite de segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), presidente da Comissão de Segurança Pública, já esteve com os membros da comitiva.
Sanções dos EUA e interesses geopolíticos: o Brasil como campo estratégico
As sanções dos EUA não são apenas punições financeiras. Elas refletem interesses estratégicos globais. Quando aplicadas, visam cortar o fluxo de recursos de organizações que os EUA consideram perigosas, incluindo cartéis de drogas, milícias, células terroristas e até grupos políticos que ameacem a estabilidade regional.
No caso do Brasil, a crescente violência urbana, a atuação de facções criminosas com redes transnacionais e as suspeitas de financiamento político ilícito colocam o país no radar das sanções. A visita de Gamble pode ser vista como um passo na tentativa americana de “internacionalizar” a responsabilização de atores que, mesmo sem operar diretamente em território americano, afetam a segurança nacional dos EUA por meio de redes globais.
Diplomacia sancionadora: o novo braço forte da política externa americana
A política de sanções dos EUA foi intensificada desde os anos 2000 e se tornou um dos principais pilares da política externa. Sob a liderança de Donald Trump, essa estratégia se fortaleceu ainda mais, com aplicação rígida de sanções unilaterais a países e organizações consideradas hostis aos interesses norte-americanos.
Com Gamble à frente da Coordenação de Sanções, esse braço diplomático ganha uma postura mais ativa, inclusive em países tradicionalmente aliados como o Brasil. A missão atual reflete a nova diretriz americana: não apenas conter ameaças, mas também consolidar parcerias com governos que estejam dispostos a colaborar com a política sancionadora.
Impactos políticos internos: tensão entre narrativas e realidade
Apesar de a visita ter foco técnico, a repercussão política no Brasil é inevitável. A declaração de Eduardo Bolsonaro sobre uma suposta sanção a Alexandre de Moraes inflamou setores bolsonaristas, criando ruídos diplomáticos. No entanto, nenhuma autoridade brasileira — nem o Itamaraty, nem o STF — confirmou essa versão.
Analistas apontam que a verdadeira meta dos EUA é traçar um mapa de alianças no Legislativo brasileiro que possam apoiar futuras decisões sancionatórias e estratégias conjuntas. O envolvimento direto de Flávio Bolsonaro na agenda com Gamble mostra que o governo americano está disposto a ouvir setores da oposição, em uma tentativa de reposicionamento tático no Brasil.
O futuro das relações Brasil-EUA sob o eixo das sanções
Com a ampliação do uso de sanções dos EUA como ferramenta de controle global, espera-se que a relação entre os dois países se torne mais pragmática e orientada por resultados. O Brasil, por sua vez, terá que equilibrar sua soberania diplomática com a necessidade de manter boas relações comerciais e estratégicas com Washington.
A tendência é que o Brasil se torne não apenas parceiro na aplicação de sanções, mas também uma base de apoio para rastreamento de capitais ilícitos, monitoramento de criptomoedas e interceptação de redes de financiamento ao terrorismo. O papel da Polícia Federal, do COAF e das agências de inteligência brasileiras será essencial para viabilizar essa colaboração.