O ano de 2023 foi caracterizado por uma relativa moderação nos investimentos, atribuível às instabilidades globais. Contudo, especialistas projetam uma recuperação vigorosa em 2024, com foco especial nos setores de tecnologia e consumo doméstico, segundo análise.
A turbulência geopolítica, marcada por conflitos como as guerras na Rússia e Ucrânia, somada às elevadas taxas de juros globais, influenciou significativamente o redirecionamento dos investimentos. Muitos investidores optaram pela segurança dos títulos públicos, especialmente os emitidos pelo governo americano, resultando em uma considerável alocação de recursos nos bonds dos Estados Unidos.
No Brasil, a narrativa seguiu uma trajetória similar. A taxa básica de juros (Selic) atingiu 13,75% no primeiro semestre, desencorajando investidores de fundos de private equity, que viram na renda fixa uma alternativa mais atrativa. A troca no governo federal também contribuiu para um período de cautela, que gradualmente se dissipou ao longo dos meses, observa José Augusto Teixeira, sócio do Pátria Investimentos.
O cenário para 2024 promete uma reviravolta, impulsionada pela redução das taxas de juros no Brasil e a perspectiva de cortes nas taxas americanas. Esse movimento tem o potencial de mobilizar recursos que estavam alocados em renda fixa, redirecionando-os para a economia real. A previsão é de que os cortes nos juros nos Estados Unidos tenham início até maio ou junho, enquanto no Brasil, a Selic pode encerrar o ano entre 10% e 8%.
Piero Minardi, da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), destaca que, além dos gastos do governo, uma possível pressão inflacionária são os principais obstáculos que podem interferir na trajetória de queda de juros.
Destinos Prováveis dos Investimentos:
1. Tecnologia: Empresas que oferecem soluções tecnológicas para aprimorar a produtividade emergem como alvos atrativos. O setor de tecnologia agrícola é especialmente destacado, com um enfoque na tecnificação para auxiliar pequenos e médios produtores na gestão eficiente do plantio, considerando as mudanças climáticas, conforme Luiz Felipe Cruz, sócio do Pátria Investimentos.
2. Saúde e Identificação: O segmento de saúde, com enfoque em soluções tecnológicas e inteligência artificial para redução de custos, é identificado como um polo de atração para investimentos. Tiago Galli, cofundador da aceleradora de startups Strive, ressalta a importância do desenvolvimento de aplicativos voltados para identificação, uma vez que a autenticidade de conteúdo tornou-se crucial em um contexto de crescentes golpes com inteligência artificial.
3. Fintechs e Setores Ligados ao Consumo Doméstico: A consolidação de fintechs, incluindo possíveis fusões entre bancos digitais, e a verticalização de serviços, como seguros e saúde, são esperadas no setor financeiro. Além disso, setores relacionados ao consumo doméstico, como atacarejos e supermercados regionais, estão na mira dos investidores, prevendo uma expansão em 2024.
4. Educação e Varejo Especializado: Empresas voltadas para educação, com foco no ensino básico e fundamental, são apontadas como potenciais beneficiárias do cenário de recuperação. O varejo especializado, abrangendo setores como pet, farmacêutico e de luxo, também está entre as áreas destacadas.
5. Saneamento, Energia e Infraestrutura 5G: O Novo Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2022, abre oportunidades para investimentos no setor, historicamente carente de regulamentação. Empresas de energia, especialmente as renováveis como solar e eólica, estão posicionadas para receber investimentos, assim como aquelas dedicadas ao tratamento de resíduos e lixo. A expansão das redes 5G impulsionará investimentos em torres e data centers para suportar a demanda crescente por infraestrutura e armazenamento de dados.
Em síntese, 2024 se configura como um ano de potencial recuperação econômica, marcado por uma mudança favorável no cenário de investimentos, com setores estratégicos como tecnologia e consumo doméstico liderando o caminho.