A Swift, rede global de mensagens bancárias, anunciou que realizará testes de transações reais de ativos tokenizados e moedas digitais em 2024. A iniciativa é parte de um movimento mais amplo que visa a integração desses ativos no sistema financeiro global. A adoção de tecnologias como blockchain e moedas digitais de banco central (CBDCs) tem avançado, ainda que de forma lenta, e a Swift desempenha um papel central nesse processo, conectando o sistema bancário tradicional a inovações financeiras emergentes.
A Tokenização de Ativos no Sistema Financeiro
A tokenização de ativos financeiros tradicionais, como títulos de dívida, tem sido objeto de estudo por bancos e gestores de ativos há vários anos. Esse processo envolve a conversão de ativos físicos ou financeiros em tokens digitais, que podem ser negociados em plataformas blockchain. A ideia por trás da tokenização é tornar as transações mais rápidas, eficientes e baratas, eliminando intermediários que aumentam os custos e o tempo das negociações.
Esses tokens digitais, baseados em blockchain, representam uma fração de um ativo real e podem ser trocados em mercados digitais. Isso reduz a burocracia e os custos associados à intermediação. Contudo, apesar das promessas de eficiência e redução de custos, a adoção em larga escala desses ativos ainda é limitada, com poucas iniciativas ultrapassando o estágio de teste em ambientes controlados.
Swift e a Integração com Moedas Digitais e Ativos Tokenizados
A Swift tem sido uma das principais facilitadoras da infraestrutura bancária global e, nos últimos anos, tem intensificado seus esforços para integrar as novas tecnologias digitais no sistema financeiro. Em março de 2023, a empresa anunciou o lançamento de uma nova plataforma para conectar as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) ao sistema bancário tradicional. Essa plataforma é projetada para criar uma ponte entre as moedas digitais emergentes e as operações financeiras já estabelecidas, permitindo uma transição mais suave para o uso desses ativos.
No entanto, a Swift reconhece que a implementação dessas tecnologias enfrenta desafios significativos. De acordo com Nick Kerigan, chefe de inovação da Swift, o setor financeiro está agora demandando que as transações de ativos digitais evoluam do estágio de testes para operações reais. “Estamos nos movendo para o estágio em que veremos um ativo digital se movimentar em uma transação real, com uma contraparte pagando em dinheiro real”, disse Kerigan. A previsão é que isso ocorra em 2024, ainda que de maneira controlada.
O Potencial e os Desafios da Fragmentação do Mercado
A adoção de ativos tokenizados e moedas digitais no sistema financeiro enfrenta desafios consideráveis, principalmente devido à fragmentação do mercado. Embora o potencial dessas tecnologias seja enorme, com promessas de maior eficiência e inclusão financeira, sua implementação prática tem sido lenta. Grande parte dos avanços ocorre dentro dos sistemas internos dos próprios bancos, o que limita a interoperabilidade e a adoção em larga escala.
Além disso, o desenvolvimento de moedas digitais de banco central (CBDCs) tem sido tímido e fragmentado. Cerca de 90% das autoridades monetárias globais estão atualmente testando essas moedas digitais, que funcionam como versões digitais das moedas fiduciárias tradicionais. No entanto, esses testes têm se concentrado em pequenos grupos de bancos centrais e em transações de atacado, especialmente para pagamentos internacionais. Isso limita o alcance dessas iniciativas e dificulta sua plena integração no sistema financeiro global.
A Importância dos Depósitos Tokenizados e das CBDCs
Um dos principais desafios para a negociação de ativos tokenizados é a necessidade de liquidez. Para que uma transação de ativos tokenizados ocorra, é necessário que haja uma contrapartida em dinheiro real ou em CBDCs. Sem essa contrapartida, a transação não pode ser concluída. É por isso que a Swift está testando a combinação de diferentes tipos de ativos digitais, incluindo depósitos tokenizados e CBDCs, para garantir que haja liquidez suficiente para sustentar essas operações.
Nick Kerigan explicou que não é suficiente ter apenas a entrega do ativo tokenizado; é necessário que também haja o pagamento correspondente. “Você precisa de ambos”, afirmou Kerigan, destacando a importância de uma infraestrutura robusta que suporte tanto a liquidação de ativos tokenizados quanto o pagamento em dinheiro digital ou depósitos tokenizados.
O Papel das Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs)
As CBDCs desempenham um papel crucial no futuro das transações financeiras digitais. Diferentes bancos centrais estão testando essas moedas digitais para entender como elas podem ser integradas aos sistemas financeiros existentes. As CBDCs são versões digitais das moedas fiduciárias e são emitidas diretamente pelos bancos centrais. Elas podem ser usadas para transações internacionais, liquidações de ativos tokenizados e, eventualmente, para transações do dia a dia entre consumidores e empresas.
Ao conectar as CBDCs ao sistema financeiro global por meio de sua nova plataforma, a Swift está criando um caminho para que esses ativos digitais possam ser usados de maneira mais ampla. Essa integração será fundamental para o sucesso da tokenização de ativos e para a adoção em larga escala de moedas digitais no sistema financeiro global.
A Swift está à frente de um movimento global que busca integrar ativos tokenizados e moedas digitais no sistema financeiro tradicional. Com testes programados para 2024, o grupo está pronto para dar o próximo passo na negociação de ativos digitais reais, envolvendo tanto títulos tokenizados quanto moedas digitais de bancos centrais. Embora o potencial dessas tecnologias seja promissor, a fragmentação do mercado e a necessidade de uma infraestrutura de pagamento robusta são desafios que ainda precisam ser superados.
À medida que o setor financeiro continua a evoluir, é provável que a adoção de ativos digitais se expanda, impulsionada por iniciativas como a da Swift. A transição para um sistema financeiro mais digitalizado pode oferecer maior eficiência, custos mais baixos e inclusão financeira, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que essas inovações sejam amplamente adotadas.