Taxa do DI sobe em contratos longos e sinaliza aumento na percepção de risco fiscal
As movimentações no mercado de juros futuros ganharam destaque nesta segunda-feira, 9 de junho, com oscilações relevantes nas principais taxas de Depósito Interfinanceiro (DI), sobretudo nos contratos com vencimentos mais longos. Enquanto o curto prazo ainda repercute as recentes mudanças fiscais anunciadas pelo governo federal, os vencimentos mais distantes passaram a embutir maior percepção de risco — um reflexo direto da leitura do mercado sobre a sustentabilidade da política econômica e o cenário fiscal do país.
O que é a taxa do DI e por que ela importa
Antes de mergulharmos nas movimentações recentes, vale contextualizar o papel da taxa do DI no mercado financeiro. Ela representa a média dos juros praticados entre instituições financeiras em operações de curtíssimo prazo, geralmente de um dia. Essa taxa serve como referência para contratos futuros e outros produtos financeiros, influenciando diretamente o custo do crédito e os rendimentos das aplicações.
No mercado futuro, os contratos de DI são instrumentos usados para antecipar as expectativas sobre a taxa Selic e, portanto, refletem com precisão a leitura do mercado quanto à condução da política monetária. Alterações nas taxas do DI funcionam como termômetro do humor dos investidores e da percepção de risco diante de eventos econômicos ou políticos.
Movimentações da taxa do DI em 9 de junho
A abertura do mercado nesta segunda-feira trouxe inicialmente uma queda generalizada nas taxas do DI ao longo de toda a curva, reflexo direto das medidas alternativas anunciadas pelo governo para compensar a perda de arrecadação após a retirada do aumento do IOF. No entanto, esse movimento logo se reverteu parcialmente.
Por volta das 10h28:
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O contrato de DI com vencimento em janeiro de 2026 registrava uma taxa de 14,885%, abaixo dos 14,920% registrados no ajuste da última sexta-feira.
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O DI para janeiro de 2027 atingia 14,29%, levemente inferior aos 14,32% do ajuste anterior.
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O vencimento para janeiro de 2029 estava em 13,76%, frente aos 13,73% da sexta-feira, apontando leve alta.
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Na ponta mais longa, o contrato com vencimento em janeiro de 2031 subia para 13,93%, contra os 13,85% registrados anteriormente — o maior valor do dia.
Essas variações, especialmente nas pontas mais longas da curva, sugerem um aumento da percepção de risco fiscal por parte dos investidores, que ainda esperam por medidas estruturantes mais robustas do governo.
Impactos das medidas fiscais sobre o mercado
No domingo anterior, o governo anunciou um pacote de medidas alternativas para compensar o fim da alta do IOF. A reação do mercado foi imediata. Embora as mudanças tenham ajudado a reduzir a pressão na parte curta da curva de juros, o mercado segue preocupado com a ausência de medidas mais profundas e estruturais.
Essa preocupação é refletida na taxa do DI de longo prazo, que subiu, indicando maior prêmio de risco embutido nos contratos. Em outras palavras, os investidores exigem taxas mais altas para assumir riscos em prazos mais longos, dado o cenário de incerteza fiscal.
Selic em foco: o que o DI revela sobre os próximos passos
O movimento da taxa do DI também evidencia uma expectativa de alta na taxa Selic. Com o fim do aumento do IOF, o mercado entende que o Banco Central pode ter que agir para compensar o efeito anti-inflacionário da medida, elevando os juros básicos da economia.
Se a Selic subir, o custo do crédito também aumenta, o que impacta diretamente o consumo, os investimentos e o crescimento econômico. Assim, a curva de juros se ajusta rapidamente para incorporar essas novas expectativas.
Percepção de risco e confiança dos investidores
O comportamento da taxa do DI serve como um espelho da confiança dos investidores na condução da política econômica. Quando os vencimentos longos sobem mesmo em um cenário de curto prazo aparentemente controlado, é um sinal de alerta.
Isso significa que o mercado não enxerga com otimismo a trajetória fiscal do país no médio e longo prazo. A ausência de reformas estruturantes, aliada a gastos crescentes e fontes de arrecadação instáveis, contribui para esse cenário de maior incerteza.
Cenário internacional e seus efeitos
Além do noticiário interno, o mercado também acompanha com atenção o cenário internacional. A volatilidade nos juros dos títulos do Tesouro dos EUA, as decisões dos bancos centrais globais e os dados de inflação internacionais impactam diretamente a percepção de risco nos países emergentes, como o Brasil.
Portanto, a elevação da taxa do DI nos vencimentos longos também reflete o ambiente global desafiador, que exige maior cautela dos investidores.
Expectativas para os próximos dias
O comportamento da taxa do DI deve continuar sendo influenciado por três principais fatores:
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Decisões de política monetária do Banco Central – Sinais de que a Selic pode subir novamente são rapidamente absorvidos pela curva.
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Evolução do cenário fiscal – A apresentação de propostas concretas para contenção de gastos e reformas pode ajudar a reduzir o prêmio de risco embutido nas taxas futuras.
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Noticiário internacional – Qualquer instabilidade externa pode provocar fuga de capitais e pressão adicional nas taxas de juros brasileiras.
Enquanto esses pontos permanecerem indefinidos, é provável que o mercado continue reagindo com volatilidade, especialmente nos contratos mais longos de DI.
Atenção total à taxa do DI
A taxa do DI é um indicador fundamental para entender as expectativas do mercado financeiro. Suas variações revelam não apenas a percepção sobre a política monetária, mas também a confiança (ou a falta dela) nas ações do governo.
As movimentações observadas nesta segunda-feira confirmam o alerta: os investidores continuam atentos às incertezas fiscais e ao cenário de juros. Nesse contexto, acompanhar a evolução da taxa do DI é essencial para quem investe, para gestores de fundos e também para os formuladores de política econômica.






