As taxas de juros negociadas no mercado futuro brasileiro abriram esta sexta-feira (2) em alta, em um movimento influenciado tanto pelo cenário externo — com os rendimentos dos Treasuries subindo após a divulgação do payroll nos Estados Unidos — quanto por fatores domésticos, como declarações recentes do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Payroll forte nos EUA impulsiona juros globais
O relatório de empregos dos Estados Unidos, conhecido como payroll, veio acima das expectativas, indicando que o mercado de trabalho americano continua aquecido. Esse dado reduz os temores de uma recessão e aumenta as chances de manutenção dos juros elevados pelo Federal Reserve (Fed) ao longo dos próximos meses.
Segundo Luis Felipe Laudisio, cogestor da mesa de títulos da Warren Investimentos, a alta dos Treasuries pode estar relacionada ao desmonte de posições defensivas no mercado internacional. “O mercado parece estar ajustando expectativas após o payroll forte. Isso tem impacto direto na curva de juros brasileira”, explica.
Juros futuros sobem mesmo antes do payroll
De acordo com Eduardo Velho, economista-chefe da Equator Investimentos, a curva de juros já mostrava elevação antes mesmo da divulgação do dado americano. Ele aponta que declarações recentes de Gabriel Galípolo reforçaram a percepção de que as expectativas de inflação seguem desancoradas da meta, o que limita o espaço para cortes adicionais na Selic.
“Há uma resistência nas taxas futuras que se sustenta com base nas incertezas em torno do comportamento da inflação e da política monetária”, afirmou Velho.
Cotações dos contratos DI
Às 11h12 desta sexta-feira, os principais contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) apresentavam os seguintes desempenhos:
DI Jan/2026: 14,705% (ante 14,662% no ajuste anterior)
DI Jan/2027: 13,955% (contra 13,877%)
DI Jan/2030: 13,71% (acima de 13,66%)
A elevação das taxas indica que o mercado vê menos espaço para flexibilização da política monetária nos próximos anos, especialmente diante da combinação de risco fiscal, expectativas de inflação elevadas e cenário externo desfavorável.
Fatores internos também preocupam
Além do payroll, investidores monitoram com atenção o ambiente doméstico. A recente sinalização do governo sobre possível mudança na meta fiscal para 2025 gerou incertezas, pressionando os prêmios de risco na curva de juros. A confiança na condução da política econômica e no compromisso com o equilíbrio fiscal são fundamentais para aliviar a pressão sobre os juros futuros.
Outro ponto de preocupação é o comportamento das expectativas de inflação para 2025 e 2026, que continuam acima da meta, desafiando o Banco Central a manter sua credibilidade perante os agentes econômicos.
Perspectivas para os juros futuros
Com o cenário internacional ainda volátil e o ambiente fiscal e inflacionário doméstico instável, a curva de juros tende a manter-se pressionada no curto prazo. A expectativa do mercado é que apenas uma combinação de inflação sob controle, política fiscal crível e melhora no cenário externo possa trazer alívio aos contratos de juros futuros.