Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira (7) que concluíram a destruição de suas últimas reservas de armas químicas, um marco importante globalmente, indicando que nenhum país possui arsenais declarados desse tipo. Logo após o anúncio, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) confirmou que todos os arsenais declarados de armas químicas no mundo foram “irreversivelmente destruídos.
“Por mais de 30 anos, os Estados Unidos trabalharam incansavelmente para eliminar seu inventário de armas químicas. Hoje, tenho orgulho em anunciar que os Estados Unidos destruíram de forma segura o último estoque dessas munições, nos aproximando mais de um mundo livre dos horrores das armas químicas”, disse o presidente Joe Biden em comunicado.
O líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, anunciou nesta sexta-feira que o depósito “Blue Grass”, uma instalação militar no estado de Kentucky, recentemente concluiu a eliminação de cerca de 500 toneladas de agentes químicos letais após uma missão de quatro anos. Essas reservas eram as últimas sob posse das forças armadas dos Estados Unidos, que por décadas armazenaram projéteis de artilharia e foguetes contendo gás mostarda, bem como agentes nervosos e vesicantes extremamente tóxicos, como VX e sarin. Com sede em Haia, a Opaq informou que a medida tomada pelos Estados Unidos significa que “todos os estoques declarados de armas químicas foram verificados como destruídos de forma irreversível.
Mas o uso recente destas armas significa que o mundo ainda deve ficar alerta, ressaltou a organização, que, nos últimos anos, culpou a Síria por recorrer a armas químicas durante sua guerra civil e investigou o uso de agentes nervosos da era soviética contra um ex-espião russo no Reino Unido e contra o opositor do Kremlin Alexei Navalny. “O uso recente e as ameaças de uso de agentes químicos tóxicos como armas mostram que prevenir o ressurgimento continuará sendo uma prioridade para a organização”, disse o chefe da organização, Fernando Arias, em nota.
Em maio deste ano, a Opaq havia apontado que apenas os Estados Unidos ainda não haviam concluído a destruição de suas reservas e acrescentou que mais de “70 mil toneladas das substâncias venenosas mais perigosas do mundo” foram eliminadas sob supervisão da organização.
Armas como essas foram amplamente condenadas após seu uso com terríveis resultados nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. No entanto, muitos países as mantiveram e as desenvolveram ainda mais nos anos seguintes.
A Convenção sobre Armas Químicas, acordada em 1993 e em vigor desde 1997, deu aos Estados Unidos até setembro deste ano para destruir todo o seu estoque de munições com agentes químicos.
De acordo com a Associação de Controle de Armas dos EUA (Association of Arms Control of the United States), em 1990 o país tinha cerca de 28.600 toneladas de armas químicas, o segundo maior estoque do mundo, atrás apenas da Rússia.
Com o declínio da Guerra Fria, as superpotências e outros países se uniram para negociar a Convenção sobre Armas Químicas.
Eliminar o estoque é duplamente perigoso, pois implica neutralizar não apenas os agentes químicos, mas também conter o poder das munições que os contêm. Isso explica por que o desarmamento é um processo tão lento.
A Rússia concluiu a destruição de seu arsenal declarado em 2017. Em abril de 2022, os Estados Unidos estavam a menos de 600 toneladas da meta zero. “Embora o uso dessas armas letais seja para sempre uma mancha indelével na História, nossa nação finalmente cumpriu sua promessa de nos livrar desse flagelo”, disse McConnell em comunicado.
Em seu comunicado, o presidente Biden também instou o restante do mundo a assinar a Convenção de 1997 para que “a proibição global de armas químicas alcance todo o seu potencial”. “A Rússia e a Síria devem mais uma vez cumprir a Convenção e reconhecer seus programas não declarados, que têm sido utilizados para cometer atrocidades e infames atentados”, afirmou o presidente dos Estados Unidos.