A mineradora brasileira Vale (VALE3) anunciou uma parceria estratégica com a empresa europeia de hidrogênio Green Energy Park (GEP), visando desenvolver soluções de descarbonização para o setor siderúrgico global. O acordo, revelado na terça-feira (1º), envolve estudos de viabilidade para a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio verde no Brasil. Este projeto é um passo crucial para a criação de um Mega Hub industrial focado na fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono no país.
Um novo caminho para a produção de aço sustentável
A parceria entre a Vale e a GEP tem como objetivo transformar o Brasil em um polo de produção de hidrogênio verde e aço de baixo carbono. O hidrogênio verde, que será produzido nessa nova unidade, servirá como agente redutor na fabricação de hot-briquetted iron (HBI), também conhecido como ferro-esponja, um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço. O uso de hidrogênio verde como redutor no processo de fabricação de aço tem o potencial de reduzir drasticamente as emissões de carbono, trazendo benefícios não apenas para a indústria siderúrgica brasileira, mas também para empresas globais interessadas em aderir à descarbonização.
A Vale já está em processo de negociação com várias empresas internacionais do setor de aço para a criação desse Mega Hub. Esse complexo industrial permitirá a produção de HBI com o uso de fontes de energia renovável e minério de ferro de alta qualidade, ambas vantagens competitivas do Brasil. “Estamos aproveitando as vantagens competitivas do Brasil, como minério de ferro de alta qualidade e energia renovável abundante, para potencialmente desenvolver o fornecimento de hidrogênio verde”, afirmou a diretora de Energia e Descarbonização da Vale.
A parceria e os benefícios para a economia e o meio ambiente
De acordo com Bart Biebuyck, CEO da Green Energy Park, a colaboração com a Vale é um marco importante na jornada da GEP rumo à meta de alcançar a neutralidade de carbono (Net Zero). “Estamos entusiasmados em trazer nossa tecnologia de hidrogênio verde para a vanguarda dos setores mais difíceis de descarbonizar, como a indústria do aço. A produção de HBI com hidrogênio verde representa uma oportunidade única para reduzir as emissões de carbono em uma escala global”, declarou Biebuyck.
Essa colaboração pode ser considerada um grande avanço para a Vale, que há anos busca formas de reduzir sua pegada de carbono. O setor de ferro e aço é responsável por cerca de 8% das emissões globais de dióxido de carbono, principalmente devido ao uso intensivo de carvão nos altos-fornos. O carvão é o principal combustível utilizado para reduzir o minério de ferro em aço, mas também é o maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa desse processo.
O impacto ambiental da produção de aço
Atualmente, a produção de aço por meio de altos-fornos emite cerca de 2 toneladas de CO2 equivalente para cada tonelada de aço produzido. No entanto, ao usar hidrogênio verde como agente redutor na produção de HBI, essa quantidade pode ser reduzida drasticamente. Quando o HBI é utilizado em fornos elétricos a arco (EAFs), as emissões caem para aproximadamente 0,4 tonelada de CO2 por tonelada de aço, uma redução de 80% nas emissões de carbono em comparação ao processo tradicional.
Essa inovação na produção de aço é fundamental para que a indústria siderúrgica global alcance as metas de descarbonização estabelecidas no Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. A colaboração entre a Vale e a GEP promete acelerar a produção de aço de baixo carbono, também conhecido como “aço verde”, que será essencial para uma economia global neutra em carbono até 2050.
O papel do Brasil no futuro da descarbonização global
Com uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo e uma infraestrutura energética que favorece o uso de fontes renováveis, o Brasil está em uma posição privilegiada para se tornar um líder na produção de aço verde. A instalação de um Mega Hub no país será uma plataforma aberta para parcerias internacionais, oferecendo às siderúrgicas globais a oportunidade de produzir e adquirir HBI verde diretamente no Brasil.
Para a Vale, esse projeto não apenas reforça sua liderança no setor de mineração, mas também demonstra o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a inovação. A empresa tem investido significativamente em tecnologia e parcerias que promovem a transição para uma economia de baixo carbono. Além da parceria com a Green Energy Park, a Vale está envolvida em vários projetos voltados para a redução das emissões de carbono e a implementação de energias renováveis em suas operações.
Desafios e oportunidades para a indústria siderúrgica
A transição para uma produção de aço de baixo carbono não será fácil. O setor siderúrgico é uma das indústrias mais difíceis de descarbonizar devido à sua dependência de altos-fornos movidos a carvão. No entanto, a parceria entre a Vale e a GEP oferece uma solução promissora para enfrentar esse desafio. A produção de hidrogênio verde no Brasil, aliada ao uso de fornos elétricos a arco, pode ser a chave para reduzir drasticamente as emissões de carbono na produção de aço.
Além dos benefícios ambientais, a produção de aço verde representa uma oportunidade econômica significativa para o Brasil. Com a demanda crescente por aço de baixo carbono, impulsionada pelas regulamentações ambientais e pela conscientização do consumidor, o Mega Hub brasileiro pode se tornar um fornecedor global de produtos siderúrgicos sustentáveis.
A parceria entre a Vale e a Green Energy Park marca um passo importante na descarbonização da indústria siderúrgica global. Ao explorar o potencial do hidrogênio verde e criar um Mega Hub industrial no Brasil, as empresas estão abrindo caminho para uma produção de aço sustentável, reduzindo drasticamente as emissões de carbono e promovendo a inovação no setor. Esse projeto não apenas beneficiará o meio ambiente, mas também colocará o Brasil em destaque como um dos principais fornecedores de aço verde no cenário global.