Vendas em bares e restaurantes caem 4,9% em setembro e acendem alerta no setor de alimentação fora do lar
As vendas em bares e restaurantes registraram uma queda significativa de 4,9% em setembro, segundo o Índice Abrasel-Stone, levantamento mensal desenvolvido pela Stone em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O resultado interrompe um ciclo de estabilidade que vinha sendo observado nos meses anteriores e acende um sinal de alerta para empresários do setor, que enfrentam um cenário de menor confiança do consumidor e de pressão inflacionária.
Em comparação com o mesmo período de 2024, o recuo foi de 3,9%, indicando que a desaceleração não se trata apenas de um movimento pontual, mas de uma tendência que pode impactar diretamente a rentabilidade dos estabelecimentos nos próximos meses.
Setembro decepcionou o setor de alimentação fora do lar
O mês de setembro, tradicionalmente marcado por uma movimentação mais tímida em relação a agosto — que é impulsionado pelas comemorações do Dia dos Pais, uma das principais datas para o setor —, apresentou um desempenho abaixo das expectativas.
A queda nas vendas em bares e restaurantes foi atribuída à combinação de fatores econômicos e comportamentais. A inflação continua corroendo o poder de compra da população, o endividamento das famílias segue elevado e a confiança do consumidor ainda não se recuperou completamente.
Além disso, o impacto da crise do metanol, que gerou apreensão em todo o país após casos de intoxicação por bebidas adulteradas, também contribuiu para a retração do consumo em diversos estabelecimentos, especialmente bares e botecos de menor porte.
Inflação e endividamento pressionam o consumo fora de casa
A inflação dos alimentos e bebidas tem sido um obstáculo constante para o crescimento das vendas em bares e restaurantes. Apesar de o mercado de trabalho brasileiro ainda manter uma taxa de desemprego relativamente baixa, a geração de empregos formais perdeu fôlego nos últimos meses.
Com a renda disponível limitada, muitos consumidores têm optado por reduzir gastos considerados não essenciais, como refeições fora de casa, delivery e happy hours. Esse comportamento reflete diretamente na margem de lucro dos estabelecimentos, que também enfrentam aumento nos custos operacionais — desde insumos até energia elétrica e aluguel.
Especialistas do setor apontam que o cenário atual exige planejamento financeiro rigoroso, inovação nos cardápios e o uso de tecnologia para fidelizar clientes e reduzir custos.
Crise do metanol trouxe impacto pontual, mas perceptível
Embora os casos de intoxicação por metanol tenham afetado uma parcela específica do mercado, principalmente em bares e distribuidoras, o episódio teve grande repercussão nacional e afetou a percepção de segurança do consumidor.
O medo de consumir bebidas adulteradas reduziu a frequência de clientes em diversos estabelecimentos, especialmente nos fins de semana, e levou muitos bares a reforçar seus protocolos de segurança e a investir em transparência sobre a procedência das bebidas.
Ainda que o impacto seja considerado pontual, ele contribuiu para um clima de incerteza que afetou o desempenho de setembro.
Desempenho regional revela contrastes no Brasil
O Índice Abrasel-Stone avaliou dados de 24 estados brasileiros e identificou que apenas o Maranhão (2,6%) e o Mato Grosso do Sul (1%) apresentaram crescimento nas vendas em setembro, na comparação anual.
As maiores quedas foram registradas em Roraima (-11,5%), Pará (-9,9%), Rio de Janeiro e Santa Catarina (-7,6%), além de Paraíba e Sergipe (-7%).
No estado de São Paulo, considerado o maior mercado de alimentação fora do lar do país, a retração foi de 2,7%, indicando que até mesmo as regiões mais consolidadas não ficaram imunes ao desaquecimento do setor.
Esses números refletem as diferenças regionais na recuperação econômica e no comportamento do consumidor, com estados do Norte e Nordeste apresentando maiores oscilações.
O que é o Índice Abrasel-Stone
O Índice Abrasel-Stone é um levantamento mensal que acompanha o desempenho das vendas em bares e restaurantes com base em transações financeiras registradas pela Stone em todo o território nacional.
O objetivo é oferecer um retrato atualizado e preciso sobre a performance do setor de alimentação fora do lar, apoiando empresários, investidores e formuladores de políticas públicas na tomada de decisões estratégicas.
A análise abrange 24 estados e monitora milhões de transações eletrônicas, servindo como um termômetro da atividade econômica e do consumo urbano.
Perspectivas para o último trimestre de 2025
O quarto trimestre tradicionalmente representa um período de recuperação para bares e restaurantes, impulsionado por datas comemorativas e pelo aumento natural do consumo nos meses de festas.
Eventos como Natal, Réveillon e Copa do Mundo de Clubes da FIFA — que atrai torcedores e movimenta bares esportivos — podem trazer alívio ao setor.
No entanto, especialistas alertam que a recuperação dependerá do controle da inflação, da estabilidade dos preços de insumos e da retomada da confiança do consumidor.
Empresários que investirem em promoções estratégicas, delivery eficiente e experiências diferenciadas poderão sair na frente nessa retomada.
Tecnologia e inovação como saídas para o setor
A transformação digital vem se consolidando como um dos principais caminhos para a recuperação das vendas em bares e restaurantes.
Ferramentas de gestão financeira, programas de fidelidade, marketing digital e sistemas de automação de pedidos estão ajudando empresários a melhorar margens e reduzir desperdícios.
O uso de dados de pagamento — como os fornecidos pelo próprio Índice Abrasel-Stone — permite decisões mais assertivas, com base em tendências reais de consumo.
Com o avanço das plataformas digitais e o crescimento do pagamento por aproximação, o setor tende a se tornar cada vez mais integrado ao ecossistema financeiro digital brasileiro.
Como os bares e restaurantes podem reagir à queda nas vendas
Diante da queda de 4,9% em setembro, a principal lição para os empreendedores do setor é adaptação.
Algumas estratégias destacadas por analistas incluem:
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Reforçar ações de marketing local;
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Criar promoções em dias de menor movimento;
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Diversificar o cardápio com itens de maior margem;
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Investir em treinamento de equipe;
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Focar em sustentabilidade e desperdício zero;
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Utilizar plataformas digitais para aumentar visibilidade.
Essas medidas podem não apenas compensar a retração momentânea, mas também fortalecer o negócio no médio prazo, garantindo resiliência diante das oscilações econômicas.
O papel da Abrasel na retomada do setor
A Abrasel tem desempenhado um papel essencial na defesa dos interesses de bares e restaurantes em todo o país.
Por meio de parcerias com instituições financeiras, o órgão busca melhorar o acesso ao crédito, reduzir burocracias e promover campanhas de conscientização sobre boas práticas empresariais.
A entidade também tem pressionado por políticas públicas mais equilibradas, como a redução de tributos e incentivos à formalização de micro e pequenos negócios.
Setembro acende alerta, mas recuperação é possível
A queda de 4,9% nas vendas em bares e restaurantes em setembro mostra um cenário desafiador, mas não irreversível.
O setor de alimentação fora do lar continua sendo um dos mais dinâmicos da economia brasileira, empregando milhões de pessoas e impulsionando o turismo e o entretenimento urbano.
Com inovação, planejamento e adaptação, bares e restaurantes podem transformar o atual momento de retração em uma oportunidade de modernização e crescimento sustentável.






