WePink: MP de Goiás aciona empresa de Virginia Fonseca por práticas abusivas contra consumidores
Nos últimos meses, a WePink, empresa de cosméticos fundada pela influenciadora Virginia Fonseca, tem chamado atenção não apenas pelo sucesso inicial de suas vendas, mas também por problemas graves no relacionamento com consumidores. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) ingressou com uma Ação Civil Pública contra a marca, apontando diversas práticas abusivas que afetam milhares de clientes em todo o país.
A situação levanta questões sobre ética empresarial, cumprimento do Código de Defesa do Consumidor e responsabilidade no comércio digital, especialmente para empresas que crescem rapidamente e utilizam estratégias agressivas de marketing.
Acúmulo de reclamações e denúncias formais
Dados fornecidos pelo MP-GO indicam que a WePink acumulou mais de 94 mil reclamações no site Reclame Aqui nos últimos 12 meses, refletindo a insatisfação de uma base significativa de clientes. Além disso, entre 2024 e 2025, foram registradas 340 denúncias formais no Procon Goiás, mostrando que o problema extrapola o ambiente digital e se torna uma questão de ordem pública.
Segundo o Ministério Público, os problemas se concentram em seis irregularidades principais:
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Falta de entrega de produtos: milhares de clientes pagaram por itens que nunca chegaram às suas casas, mesmo após longos períodos de espera, alguns ultrapassando sete meses.
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Descumprimento de prazos: atrasos recorrentes que indicam falhas sistêmicas na logística da empresa.
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Dificuldade de reembolso: resistência da marca em devolver valores pagos, gerando frustração e prejuízo financeiro aos consumidores.
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Atendimento ineficiente: o suporte automatizado da empresa não resolve problemas, obrigando clientes a múltiplas tentativas de contato.
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Censura de críticas: exclusão de comentários negativos nas redes sociais, o que pode configurar manipulação da opinião pública.
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Produtos com defeito: envio de cosméticos deteriorados ou diferentes do anunciado, prejudicando a experiência de compra.
Essa lista evidencia a gravidade das acusações e aponta para possíveis violações ao Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), que garante direitos básicos como entrega de produtos, atendimento eficiente e reembolso imediato em caso de falhas.
Confissão parcial e crescimento acelerado da WePink
Um dos sócios da WePink, Thiago Stabile, reconheceu em live pública que a empresa realizou vendas sem possuir os produtos em estoque. Segundo ele, o crescimento rápido do faturamento – que passou de R$ 200 mil para R$ 400 mil por mês – causou problemas de abastecimento.
Essa situação levanta um ponto crucial: a empresa manteve vendas mesmo sabendo que não conseguiria cumprir os prazos prometidos. Para o MP-GO, isso caracteriza má-fé contratual e publicidade enganosa, uma vez que a empresa explorou a expectativa dos consumidores para manter o crescimento financeiro.
Especialistas em direito do consumidor apontam que, quando uma empresa vende produtos indisponíveis ou não consegue cumprir prazos, ela se expõe a ações judiciais e sanções administrativas. Além disso, a prática prejudica a confiança do público, elemento essencial para a sustentabilidade de qualquer marca no varejo digital.
Medidas exigidas pelo Ministério Público
A Ação Civil Pública movida pelo MP-GO pede uma série de medidas urgentes para proteger os consumidores e regularizar a atuação da WePink:
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Entrega imediata de todos os produtos pagos, garantindo que clientes recebam os itens adquiridos sem novos atrasos.
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Suspensão das lives promocionais, impedindo que a empresa realize novas vendas enquanto o problema não for resolvido.
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Criação de canal de atendimento humano, com respostas em até 24 horas, para facilitar resolução de dúvidas e reclamações.
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Implementação de mecanismo de cancelamento e reembolso, garantindo devolução em até sete dias.
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Multa diária de R$ 1 mil para cada descumprimento das determinações da Justiça.
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Indenização por dano moral coletivo de R$ 5 milhões, revertida ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor (FEDC).
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Responsabilidade solidária dos sócios, que participaram das estratégias promocionais e manutenção de vendas mesmo cientes das falhas.
Crítica ao marketing de “ofertas-relâmpago”
O promotor Élvio Vicente da Silva também criticou o uso constante de “ofertas-relâmpago” pela WePink, prática que estimula compras impulsivas e explora a vulnerabilidade psicológica do consumidor. Esse tipo de estratégia, embora eficaz para aumentar vendas, é considerado abusivo quando prejudica os direitos dos clientes, podendo gerar ações judiciais e multas administrativas.
Especialistas em marketing de e-commerce alertam que técnicas de venda agressivas devem ser acompanhadas de logística eficiente e atendimento ao consumidor bem estruturado, sob pena de comprometer a reputação da marca.
Repercussão e ausência de posicionamento da influenciadora
Até o momento, nem a WePink nem a influenciadora Virginia Fonseca se manifestaram publicamente sobre a Ação Civil Pública. A ausência de posicionamento oficial contribui para o aumento da desconfiança e insatisfação do público.
Enquanto isso, consumidores seguem sem respostas claras e enfrentam dificuldades para receber produtos ou reembolsos, tornando o caso um alerta sobre a importância de transparência e responsabilidade no varejo digital.
Impacto no mercado de cosméticos e e-commerce
O caso da WePink evidencia riscos do crescimento rápido no mercado de cosméticos e e-commerce. Empresas que expandem rapidamente sem estrutura adequada de estoque, logística e atendimento correm sério risco de enfrentar litígios e danos à reputação.
Especialistas destacam que a legislação brasileira protege o consumidor e impõe obrigações claras às empresas:
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Cumprimento de prazos de entrega;
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Atendimento eficiente e humanizado;
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Garantia de produtos conforme anunciado;
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Reembolso imediato em caso de falhas.
Ignorar essas regras pode resultar não apenas em sanções judiciais, mas também na perda de confiança do público, fator crítico para marcas digitais que dependem de reputação para crescer.
A Ação Civil Pública contra a WePink reforça a necessidade de práticas empresariais éticas e transparentes. O caso mostra que o sucesso financeiro não deve se sobrepor aos direitos do consumidor, especialmente em setores competitivos como cosméticos e e-commerce.
O desfecho da ação será um indicativo importante sobre a atuação do MP-GO na proteção do consumidor e sobre a responsabilidade de influenciadores que usam suas plataformas para promover produtos.
Enquanto a Justiça analisa as demandas, o alerta é claro: empresas que priorizam vendas rápidas sem planejamento logístico e atendimento adequado arriscam sua imagem, enfrentam sanções legais e colocam em risco a confiança dos consumidores.






