A Stellantis, gigante automotiva que detém marcas como Fiat, Jeep, Chrysler e Peugeot, deu início ao processo de busca por um sucessor para o atual CEO Carlos Tavares. Com contrato vigente até o início de 2026, Tavares enfrenta pressão crescente em meio ao fraco desempenho da empresa no mercado norte-americano, o maior para a montadora. A decisão de iniciar o planejamento de sucessão foi confirmada pela Stellantis à Bloomberg News, destacando que essa busca faz parte da política regular da empresa e visa garantir uma transição organizada.
A trajetória de Carlos Tavares e os desafios atuais
Carlos Tavares, atualmente com 66 anos, assumiu o cargo de CEO da Stellantis em 2021, após a fusão entre a Fiat Chrysler e a francesa PSA. Desde então, o executivo implementou uma série de cortes de custos e ajustes operacionais que ajudaram a otimizar a lucratividade do grupo, especialmente durante os meses pós-pandemia, quando a demanda por veículos aumentou significativamente. No entanto, nos últimos meses, a Stellantis tem enfrentado desafios consideráveis, especialmente no mercado dos Estados Unidos.
Entre os problemas enfrentados pela montadora estão os altos níveis de estoque, declínio da participação de mercado e questões de qualidade em suas fábricas. Isso gerou insatisfação entre concessionários, principalmente com as marcas Ram e Dodge, que registraram queda de vendas e acúmulo de veículos antigos em seus lotes. O primeiro semestre de 2024 foi especialmente difícil para a Stellantis nos EUA, com uma queda de quase 50% nos lucros líquidos da empresa.
A busca por um sucessor
O presidente do conselho da Stellantis, John Elkann, é o responsável por liderar a busca por um substituto para Tavares. Elkann, que também é CEO da holding Exor, a maior acionista da Stellantis, não pretende realizar uma mudança imediata, mas está insatisfeito com os resultados recentes da montadora no mercado norte-americano. Fontes próximas ao processo indicam que Tavares, embora esteja envolvido na busca, poderá ser substituído antes de 2026 caso a situação nos EUA não melhore substancialmente.
Pressões internas e externas
A Stellantis enfrenta pressão não apenas no mercado norte-americano, mas também na Europa, onde a concorrência com fabricantes chineses de carros elétricos está se intensificando. A demanda por veículos elétricos diminuiu e as margens de lucro estão sendo impactadas pela concorrência de preços mais baixos vindos da China. Esse cenário levou Tavares a adotar uma postura ainda mais conservadora em relação aos gastos, exigindo cortes adicionais no orçamento da empresa para proteger a lucratividade.
Entretanto, essa estratégia de redução de custos está gerando preocupação entre acionistas e analistas do setor, que temem que a obsessão por eficiência comprometa projetos de longo prazo e enfraqueça marcas importantes dentro do portfólio da Stellantis. Além disso, a montadora pode enfrentar greves tanto nos EUA quanto na Itália nas próximas semanas, o que traria mais complicações ao cenário.
Investimentos e desafios na América do Norte
A diretora financeira da Stellantis, Natalie Knight, afirmou recentemente que a solução dos problemas enfrentados nos EUA é uma prioridade para a empresa até o final deste ano. Para enfrentar a crise, a Stellantis anunciou um investimento de US$ 406 milhões em três fábricas no estado de Michigan. A expectativa é que esses investimentos ajudem a aliviar as críticas sobre a gestão de Tavares no mercado norte-americano.
No entanto, a situação está longe de ser resolvida. A Stellantis vem cortando empregos e reduzindo a capacidade de suas fábricas nos EUA desde o início de 2024, e a administração já indicou que pode vender ativos e até se desfazer de algumas das 14 marcas que fazem parte do conglomerado para proteger os lucros.
O impacto das greves e a postura dos concessionários
As tensões trabalhistas também são um ponto crítico. A Stellantis está sob ameaça de greves nos EUA e na Itália, o que pode gerar ainda mais incertezas para a empresa. A pressão para aumentar os investimentos e melhorar a oferta de produtos também é intensa, com concessionários norte-americanos criticando abertamente a administração de Tavares por presidir uma “rápida degradação” das marcas Ram e Dodge.
Concessionários da Stellantis pediram mais recursos para limpar os estoques antigos e relataram dificuldades com a qualidade dos novos veículos. O cenário é ainda mais delicado para a Stellantis, já que as ações da empresa caíram mais de um terço no mercado em 2024, refletindo as preocupações dos investidores com o futuro da empresa.
Planejamento de longo prazo e sucessão
Embora a busca por um sucessor para Tavares tenha começado, a Stellantis ainda não determinou quem poderá ser o próximo CEO. Tavares foi elogiado por sua habilidade em cortar custos e otimizar a operação da empresa nos primeiros anos após a fusão. Porém, as mudanças no mercado automotivo global exigem uma liderança que possa equilibrar eficiência com investimentos estratégicos, especialmente em um cenário de transição para carros elétricos e desafios econômicos na Europa e América do Norte.
A reunião do conselho de administração da Stellantis, marcada para os dias 9 e 10 de outubro nos EUA, será crucial para definir os próximos passos da empresa. Espera-se que o conselho avalie o progresso das iniciativas de recuperação do mercado norte-americano e as estratégias futuras para melhorar a performance da montadora.
A Stellantis está em um momento de transição crucial. Enquanto a busca por um sucessor para o CEO Carlos Tavares já está em andamento, a montadora enfrenta desafios significativos tanto no mercado dos Estados Unidos quanto na Europa. A pressão por resultados rápidos e a necessidade de se adaptar a um mercado automotivo em transformação exigem que a Stellantis equilibre eficiência operacional com investimentos de longo prazo, a fim de garantir sua posição de liderança global.