Opinião pública resiste à anistia aos golpistas
A anistia aos golpistas voltou ao centro do debate político nacional após a divulgação da nova pesquisa Genial Quaest, que ouviu 2.004 brasileiros entre os dias 2 e 5 de outubro de 2025. O levantamento mostra que 47% da população rejeita a proposta de perdoar os condenados pelos ataques de 8 de janeiro, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de incitar o movimento golpista.
Em contrapartida, 35% dos entrevistados se declararam favoráveis ao perdão judicial tanto a Bolsonaro quanto aos demais condenados. Outros 8% apoiam apenas o perdão para quem participou dos atos em Brasília, e 10% não souberam ou preferiram não opinar.
O resultado da pesquisa evidencia que, apesar da mobilização de parlamentares de direita em defesa da anistia, a sociedade brasileira ainda mantém uma visão crítica sobre os eventos de 8 de janeiro, marcados pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Redução de penas também enfrenta resistência
Além de medir a percepção pública sobre o perdão total, a pesquisa Quaest avaliou também a reação dos eleitores à proposta de redução de penas dos condenados. A medida, que vem sendo discutida no Congresso Nacional, prevê abrandar as sentenças impostas tanto aos envolvidos diretamente nos atos quanto ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o levantamento, 52% dos brasileiros consideram justas as condenações aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, portanto, são contrários à redução de penas. Outros 37% apoiam a proposta, e 11% não responderam.
Esses números reforçam o isolamento da pauta de anistia dentro da própria opinião pública, revelando que mais da metade dos brasileiros apoia o rigor judicial nas punições aplicadas aos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.
A força política e simbólica da anistia
Historicamente, o termo “anistia” carrega forte carga simbólica no Brasil, especialmente pela Lei da Anistia de 1979, que marcou a transição da ditadura militar para a democracia. No entanto, ao contrário daquele momento histórico — que buscava reconciliar o país após anos de repressão —, a atual proposta de anistia aos golpistas é vista por parte expressiva da população como um retrocesso institucional.
A ideia de conceder perdão aos condenados pelo STF é defendida por parlamentares alinhados a Bolsonaro e grupos conservadores que afirmam que os participantes dos atos teriam sido “injustiçados”. Já setores mais moderados da direita, assim como partidos do centro e da esquerda, enxergam a proposta como um desafio direto à autoridade do Judiciário e ao Estado Democrático de Direito.
O papel de Bolsonaro no debate sobre anistia
O ex-presidente Jair Bolsonaro é figura central no debate sobre a anistia aos golpistas. Mesmo não tendo sido condenado pelos atos de 8 de janeiro, ele é investigado por suposta incitação e omissão diante dos ataques. Seus aliados políticos defendem que qualquer perdão judicial deve incluir o ex-presidente, argumentando que a estabilidade política depende da “pacificação nacional”.
Entretanto, para grande parte da sociedade e para juristas, a inclusão de Bolsonaro na proposta de anistia configuraria impunidade e abriria precedente perigoso. O discurso da “pacificação” é interpretado como uma tentativa de enfraquecer o sistema judicial e minimizar os impactos de um dos maiores atentados à democracia brasileira desde a redemocratização.
STF mantém posição firme contra o perdão
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem reiterado, em diferentes ocasiões, que os atos de 8 de janeiro não foram manifestações políticas, mas crimes contra o Estado Democrático de Direito. A corte considera que conceder anistia a tais atos seria equivalente a validar a tentativa de golpe e comprometer a autoridade das instituições.
Ministros do STF defendem que as punições impostas — que variam de 4 a 17 anos de prisão — foram proporcionais à gravidade dos crimes cometidos, incluindo dano ao patrimônio público, abolição violenta do Estado de Direito e tentativa de subversão da ordem constitucional.
Nesse contexto, qualquer tentativa de reduzir as penas ou conceder perdão coletivo é vista como uma afronta direta ao Judiciário e ao equilíbrio entre os poderes.
Congresso dividido: disputa entre pressão política e responsabilidade institucional
No Congresso Nacional, a MP da anistia e os projetos correlatos que buscam reduzir as penas enfrentam resistência crescente. Parlamentares da base governista e do centro avaliam que ceder à pressão de grupos radicais da direita poderia desgastar a imagem do Legislativo e comprometer o equilíbrio fiscal e institucional do país.
Por outro lado, deputados e senadores bolsonaristas mantêm a bandeira da anistia como instrumento de mobilização política, especialmente com a aproximação das eleições municipais de 2026. O tema passou a ser usado como palco de disputa ideológica, reacendendo a polarização política e ampliando o clima de tensão entre o Congresso e o STF.
O impacto político da rejeição popular
A rejeição majoritária à anistia aos golpistas pode representar um ponto de inflexão na estratégia da oposição. Analistas políticos avaliam que insistir em uma pauta com baixa adesão popular tende a isolar ainda mais os partidos de extrema direita e fortalecer a imagem de firmeza do governo e do Judiciário.
Além disso, o resultado da pesquisa Quaest indica que o eleitorado brasileiro valoriza o respeito à democracia e às instituições, mesmo entre aqueles que não apoiam diretamente o governo federal. Esse cenário sugere que a sociedade não está disposta a tolerar atos de ruptura ou concessões que coloquem em risco o Estado de Direito.
O desafio do governo Lula
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha o debate sobre a anistia com cautela. Embora se posicione contra qualquer tentativa de perdão aos condenados, o Palácio do Planalto busca evitar que o tema acirre ainda mais a polarização política.
Assessores próximos ao presidente afirmam que o foco do governo deve continuar sendo a agenda econômica e social, com ênfase no controle fiscal, na geração de empregos e no fortalecimento das instituições democráticas. Ainda assim, a discussão sobre anistia mantém o ambiente político em ebulição, servindo como termômetro das tensões entre direita e esquerda.
Anistia, democracia e memória nacional
Mais do que uma questão jurídica, a anistia aos golpistas se tornou um debate sobre memória e justiça. A sociedade brasileira se vê novamente diante do dilema entre perdoar e punir, entre esquecer e preservar a verdade histórica.
Especialistas em ciência política alertam que a impunidade em casos de ataques à democracia pode enfraquecer a confiança nas instituições e estimular novos episódios de radicalização. Por outro lado, manter o rigor das condenações reforça o compromisso do país com os valores democráticos e o império da lei.
Assim, a rejeição popular à anistia não é apenas um dado de pesquisa, mas um posicionamento simbólico de defesa da democracia — um recado direto ao Congresso e aos movimentos extremistas.
A mensagem das urnas e das ruas
A nova pesquisa Quaest revela mais do que números. Mostra que, dois anos após os ataques de 8 de janeiro, a sociedade brasileira segue atenta à preservação da democracia.
A anistia aos golpistas pode até ser uma pauta ruidosa, mas não encontra eco na maioria da população. O recado é claro: o Brasil quer justiça, não esquecimento.






