Exportações da China para os EUA caem 27% em setembro e ampliam tensões comerciais com Donald Trump
As exportações da China para os Estados Unidos caíram 27% em setembro em comparação ao mesmo período de 2024, marcando o sexto mês consecutivo de retração no comércio bilateral entre as duas maiores economias do mundo. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (13) pela Administração Geral das Alfândegas da China e refletem o agravamento das tensões comerciais que voltaram a se intensificar após as recentes declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre novas tarifas a produtos chineses.
Apesar da forte queda nas vendas destinadas ao mercado americano, as exportações globais da China registraram um avanço de 8,3% em setembro, somando US$ 328,5 bilhões, o maior crescimento em seis meses e acima das expectativas dos analistas. O resultado indica que o país conseguiu compensar parte da perda de mercado nos EUA com o aumento de embarques para outras regiões, como América Latina, Europa e Sudeste Asiático.
Tensões comerciais voltam a escalar com novas tarifas
O recuo das exportações chinesas para os Estados Unidos ocorre em um momento de forte deterioração nas relações comerciais entre Pequim e Washington. Na sexta-feira, Trump anunciou a intenção de impor tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses importados, medida que reacendeu a guerra comercial que havia sido parcialmente interrompida durante o primeiro semestre.
Em resposta, o governo chinês anunciou novas taxas portuárias sobre embarcações americanas e restrições à exportação de baterias de íon-lítio e minerais raros, insumos fundamentais para a indústria de tecnologia e veículos elétricos. As medidas ampliam as incertezas sobre o comércio internacional e afetam diretamente cadeias produtivas de setores estratégicos, como eletrônicos, automotivo e energia limpa.
Especialistas avaliam que as declarações de Trump e a retaliação chinesa podem desencadear um novo ciclo de volatilidade nos mercados globais, especialmente em commodities e moedas emergentes. O aumento da aversão ao risco também impacta o comportamento dos investidores, que tendem a buscar ativos considerados mais seguros, como ouro e dólar americano.
Exportações chinesas mostram força fora do mercado americano
Mesmo com a redução expressiva das exportações para os EUA, o resultado geral de setembro mostra que a China conseguiu expandir sua presença em outros mercados internacionais. Segundo a Administração Geral das Alfândegas, o aumento de 8,3% nas vendas externas foi impulsionado, principalmente, por maiores embarques para países do Sudeste Asiático e do Oriente Médio, além de uma recuperação gradual na Europa.
Entre os setores que mais contribuíram para o crescimento estão o de equipamentos industriais, semicondutores, painéis solares e veículos elétricos. esses segmentos vêm se beneficiando da estratégia chinesa de diversificação comercial, que busca reduzir a dependência do mercado norte-americano e fortalecer laços com economias emergentes e parceiras dentro da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI).
Para o governo chinês, os dados reforçam a necessidade de acelerar acordos bilaterais e regionais, como o RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente), considerado o maior tratado de livre-comércio do mundo, que reúne 15 países da Ásia e do Pacífico.
Importações chinesas também avançam e superam previsões
As importações da China cresceram 7,4% em setembro, superando com folga o aumento de 1,3% registrado em agosto e ficando acima das expectativas do mercado. O desempenho é um sinal positivo para o comércio internacional, embora analistas alertem que a fraqueza da economia doméstica e a crise no setor imobiliário chinês continuam a limitar o potencial de recuperação da demanda interna.
Entre os produtos importados que mais cresceram estão commodities energéticas, como petróleo e gás natural liquefeito (GNL), além de alimentos e produtos agrícolas, necessários para suprir a demanda interna diante de problemas climáticos e restrições logísticas.
Apesar do avanço, o consumo doméstico ainda é considerado frágil, com níveis de confiança do consumidor em patamares historicamente baixos e um mercado imobiliário que continua pressionando bancos e construtoras.
Impactos na economia global e no comércio bilateral
A queda nas exportações da China para os EUA é vista por economistas como um sinal de enfraquecimento estrutural do comércio entre as duas potências, que vem se deteriorando desde o início da guerra comercial em 2018. Mesmo após tentativas de reaproximação, a relação comercial continua marcada por sanções tecnológicas, restrições a investimentos e medidas de segurança nacional impostas por ambos os lados.
Os efeitos são sentidos em toda a economia global. O setor de tecnologia, que depende fortemente de insumos chineses, enfrenta aumento de custos e atrasos logísticos, enquanto fabricantes americanos de bens de consumo sofrem com a elevação de tarifas e a redução da competitividade.
Para analistas do mercado financeiro, o cenário tende a se agravar caso Trump mantenha a postura de confronto e avance com as novas tarifas prometidas para novembro. “Uma escalada nas medidas protecionistas pode afetar não apenas a balança comercial, mas também o crescimento global, que já apresenta sinais de desaceleração”, alertam economistas ouvidos por agências internacionais.
China busca fortalecer parcerias e ampliar influência comercial
Diante da pressão americana, a China tem intensificado esforços para diversificar suas rotas comerciais e expandir sua influência econômica. O país vem ampliando acordos com nações do Sul Global, investindo em infraestrutura, energia renovável e logística portuária.
Essas iniciativas fazem parte da estratégia de Pequim para consolidar a “Nova Rota da Seda”, projeto geopolítico que busca aumentar o fluxo de mercadorias, tecnologia e investimentos chineses pelo mundo, reduzindo a dependência das rotas tradicionais dominadas pelo Ocidente.
O governo chinês também aposta em incentivos fiscais e políticas industriais voltadas à inovação, especialmente nos setores de inteligência artificial, semicondutores e veículos elétricos, áreas consideradas essenciais para manter a liderança tecnológica e sustentar o crescimento econômico nos próximos anos.
Relação entre China e EUA deve permanecer tensa
Analistas políticos afirmam que a relação entre China e Estados Unidos deve continuar marcada por instabilidade e desconfiança mútua, mesmo com eventuais tentativas de diálogo. A retórica protecionista de Trump e as medidas de contenção tecnológica impostas contra empresas chinesas, como a Huawei e a BYD, indicam que o embate comercial tende a se prolongar.
A China, por sua vez, tem respondido com retaliações seletivas e políticas de autossuficiência, buscando reduzir a exposição a sanções americanas. O governo de Pequim reforça que a cooperação deve ser baseada em “respeito mútuo e benefício recíproco”, mas alerta que não aceitará coerção econômica.
O resultado de setembro, portanto, reforça o desafio de restabelecer a estabilidade no comércio internacional. Mesmo com o crescimento das exportações globais, a queda acentuada nas vendas para os EUA mostra que o conflito entre as duas maiores potências do mundo ainda está longe de uma solução definitiva.






