A China está acelerando sua cooperação nuclear civil com o Paquistão para buscar clientes de exportação em um mercado dominado pela Rússia e pelo Ocidente.
Um acordo de energia nuclear que o Paquistão assinou com a China em junho, no valor de US$ 4,8 bilhões, pode parecer um movimento curioso da parte de Pequim. A China já teve uma trajetória turbulenta no setor de energia do Paquistão, onde as usinas operadas a carvão sofreram com uma crise de caixa debilitante devido à escassez de divisas no país do sul da Ásia.
No entanto, especialistas dizem que o novo arranjo é mais sobre as ambições estratégicas da China do que sobre economia.
“A China quer continuar a construir usinas nucleares no Paquistão para formar um histórico para a indústria chinesa entrar em outros mercados de energia nuclear, talvez mais lucrativos e menos cativos”, disse Mark Hibbs, membro sênior não residente do Programa de Política Nuclear do Carnegie Endowment for International Peace.
Sob o acordo, a China construirá uma usina de 1.200 megawatts no complexo nuclear de Chashma, no centro do Paquistão. Ele apresentará o que Pequim diz ser seu primeiro reator nuclear civil nativo, o Hualong One, um reator de água pressurizada de terceira geração desenvolvido em conjunto pela China National Nuclear Corporation e pelo China General Nuclear Power Group.
A nova unidade será a quinta do complexo, que foi construído com assistência chinesa e atualmente fornece 1.230 MW para a rede nacional.
A China já fornecia esse tipo de reator para uma usina nuclear na cidade portuária de Karachi, no sul. A construção de duas unidades – que entraram em operação nos últimos dois anos, somando 2.200 MW combinados – coincidiu aproximadamente com a instalação dos primeiros Hualong Ones na China, em Fuqing.
Incluindo projetos domésticos, a China se tornou um dos construtores mais prolíficos de usinas nucleares. Mas além do Paquistão, seus planos de exportação são em grande parte ambiciosos, com autoridades sugerindo que até 2030 a China poderá construir 30 reatores no exterior em países participantes de sua iniciativa de infraestrutura conhecida como Rota da Seda.
No ano passado, a China assinou um acordo para construir uma instalação nuclear em outro país economicamente em apuros: a Argentina.
“Este projeto faz parte do nosso plano de segurança energética para diversificar o mix de energia com foco em garantir o fornecimento de eletricidade barata para a indústria e alívio para o homem comum”, tuitou o primeiro-ministro paquistanês, Shahbaz Sharif, em 20 de junho, após o acordo nuclear. Segundo ele, o projeto “será construído com investimento chinês de US$ 3,48 bilhões”.
O primeiro-ministro também disse que a China forneceu um “desconto” de US$ 100 milhões, apesar de enfrentar atrasos durante o mandato do governo anterior do Paquistão, do partido Tehreek-e-Insaf, liderado pelo primeiro-ministro deposto Imran Khan.