Rejeição à anistia a Bolsonaro atinge 61% e pode definir eleições de 2026
Cenário político de 2026 se molda à sombra da anistia a Bolsonaro, segundo pesquisa Datafolha
A disputa eleitoral para 2026 já começou a ser desenhada por movimentos políticos, discursos ideológicos e pela memória dos eventos ocorridos em 8 de janeiro de 2023. De acordo com uma pesquisa do Instituto Datafolha, a promessa de anistia a Bolsonaro tem se tornado uma das pautas mais polêmicas e rejeitadas pelo eleitorado. O levantamento revelou que 61% dos brasileiros afirmam que não votariam “de jeito nenhum” em um candidato que prometesse anistiar Jair Bolsonaro e outros envolvidos na tentativa de golpe e nos atos de vandalismo contra os Três Poderes em Brasília.
Essa estatística escancara o desafio enfrentado por lideranças políticas da direita brasileira, especialmente aquelas associadas ao ex-presidente. O dado coloca um freio na estratégia de pré-candidatos que cogitavam usar a pauta da anistia a Bolsonaro como ferramenta de fidelização do eleitorado bolsonarista. Ao contrário do que previam, a tática pode afastar boa parte dos eleitores moderados e indecisos.
Eleitores reagem negativamente à promessa de anistia a Bolsonaro
Segundo a pesquisa, apenas 19% dos entrevistados votariam com certeza em um político que defendesse a anistia a Bolsonaro, enquanto 14% disseram que “talvez” considerariam a possibilidade. Outros 6% afirmaram não saber. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. A pesquisa foi conduzida com 2.004 eleitores em 130 municípios de todo o país.
A polarização ainda existe, mas é evidente que a maior parte da população não deseja ver o ex-presidente isento de responsabilidade pelos atos golpistas de 2023. As imagens da depredação no Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto ainda estão vivas na memória do eleitorado, e prometer anistia a Bolsonaro é, para muitos, sinônimo de impunidade.
Impacto na corrida eleitoral de 2026
A eleição de 2026 está distante no calendário, mas já começou nas movimentações dos partidos e nas falas públicas de possíveis candidatos. Políticos como Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro e até o próprio Jair Bolsonaro — apesar de inelegível — permanecem como figuras centrais do debate público.
O dado de 61% de rejeição à anistia a Bolsonaro deve funcionar como uma advertência a qualquer pré-candidato que esteja tentando herdar o eleitorado bolsonarista. O que se vê, na prática, é que mesmo entre os apoiadores de Jair Bolsonaro, há divisões quanto à forma de lidar com os desdobramentos legais do 8 de janeiro.
Efeitos da anistia a Bolsonaro no Congresso
A discussão sobre uma eventual anistia a Bolsonaro não está restrita ao campo eleitoral. No Congresso Nacional, projetos e discursos em defesa do perdão aos envolvidos nos atos golpistas têm ganhado espaço. Parte da bancada evangélica, do agronegócio e das forças de segurança apoia publicamente a anistia, argumentando que os envolvidos foram vítimas de perseguição judicial.
Contudo, os números da pesquisa Datafolha podem esfriar essas iniciativas. O custo político de defender abertamente a anistia a Bolsonaro pode ser alto demais para os parlamentares em busca da reeleição ou de novos cargos em 2026. A estratégia de blindar Bolsonaro, portanto, pode gerar efeito contrário ao desejado.
A imagem de Bolsonaro em 2025
Desde o fim de seu mandato, Jair Bolsonaro tem enfrentado uma série de investigações, denúncias e decisões judiciais. Entre elas, a que o tornou inelegível por oito anos e as medidas cautelares que o obrigam a usar tornozeleira eletrônica e evitam contato com diplomatas estrangeiros.
Mesmo fora da corrida eleitoral, Bolsonaro permanece como figura influente, com poder de mobilização e impacto na formação de alianças. No entanto, a anistia a Bolsonaro, além de ser rejeitada pela maioria da população, poderia representar um retorno a um passado de instabilidade e tensão institucional, o que eleitores parecem não querer reviver.
8 de janeiro: um divisor de águas
Os ataques aos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023 não foram apenas um episódio isolado. Eles marcaram o ponto mais crítico da crise democrática no Brasil desde a redemocratização. Ao depredarem os principais símbolos institucionais do país, os manifestantes deixaram claro que não se tratava apenas de protesto, mas de um ato golpista.
Prometer anistia a Bolsonaro é, para muitos brasileiros, ignorar a gravidade desse momento. A pesquisa mostra que esse tipo de proposta pode afastar os eleitores que defendem o Estado de Direito e a responsabilização por crimes políticos.
O bolsonarismo e suas alternativas
A pesquisa também revela um dilema para o bolsonarismo. Para manter a base engajada, é necessário defender Bolsonaro — inclusive por meio de projetos de anistia. No entanto, para conquistar o eleitor médio e moderado, é preciso mostrar distanciamento dos episódios mais controversos do ex-presidente.
Nomes como Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro terão que decidir se manterão a fidelidade total ao ex-presidente ou se tentarão trilhar caminhos próprios. A promessa de anistia a Bolsonaro poderá se tornar uma armadilha retórica difícil de sustentar em palanques e debates.
Estratégia da oposição
Para a oposição ao bolsonarismo, o resultado da pesquisa é um trunfo estratégico. A esquerda e o centro podem usar esses dados para reforçar a narrativa de que o país rejeita a impunidade e deseja justiça. A oposição pode explorar o tema para desestabilizar os candidatos bolsonaristas e ampliar a rejeição aos seus projetos.
Além disso, reforça-se a percepção de que há um consenso democrático mínimo que ainda vigora na sociedade brasileira: atos antidemocráticos não devem ser tolerados, e seus responsáveis devem ser punidos, independentemente de filiação ideológica.
A promessa de anistia a Bolsonaro se tornou um divisor de águas na política brasileira. Com 61% da população rejeitando veementemente essa possibilidade, qualquer candidato que insista nesse caminho poderá encontrar dificuldades em conquistar o eleitorado mais amplo. A pesquisa Datafolha funciona como um termômetro da opinião pública e um alerta para os partidos e lideranças que ainda apostam em uma agenda revisionista sobre os acontecimentos de 2023.
A eleição de 2026 será decidida não apenas por propostas econômicas e sociais, mas também pela forma como os candidatos se posicionam em relação à democracia e à responsabilidade institucional. E a anistia a Bolsonaro pode ser o tema que definirá quem vence — e quem perde — essa disputa.






