Com a chegada de setembro e o último trimestre de 2024, o Brasil enfrenta uma crise energética sem precedentes, marcada pela pior seca da história recente. Esta situação crítica não apenas ameaça o abastecimento de energia, mas também pode ter consequências significativas para a economia nacional e o bolso dos consumidores. Neste artigo, exploramos os impactos da seca no setor energético brasileiro, as medidas tomadas pelo governo, e o papel das fontes renováveis no cenário atual.
A Seca e Seus Efeitos no Setor Energético
O Brasil atravessa um período de forte estiagem, que tem afetado severamente as reservas hídricas e a capacidade de geração de energia hidrelétrica. Com a previsão de que a baixa nos níveis dos reservatórios persista até pelo menos novembro, o sistema de abastecimento energético do país está em alerta. A crise atual pode evocar memórias da grave crise energética de 2021, quando a seca provocou um aumento significativo nas tarifas de energia elétrica, impactando diretamente o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e elevando-o a 10,06%, o maior nível desde 2015.
Em 2021, a seca e a alta demanda energética, exacerbada pela pandemia, resultaram em um aumento de 21,21% na energia elétrica residencial. Embora o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assegure que as condições de abastecimento deste ano são diferentes e não levarão a um cenário tão extremo quanto o visto anteriormente, o risco de impactos econômicos permanece elevado.
Medidas do Governo e Perspectivas para a Tarifa de Energia
Em resposta à crise, o governo tem adotado medidas para mitigar os impactos no bolso dos brasileiros. A bandeira tarifária vermelha 1 foi confirmada recentemente, o que indica um aumento nas tarifas de energia, mas em menor escala do que a bandeira vermelha 2 inicialmente prevista. De acordo com a estimativa do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, a pressão inflacionária com a bandeira vermelha 1 será de aproximadamente 0,2 ponto percentual, em comparação com 0,4 ponto percentual caso a bandeira vermelha 2 tivesse sido aplicada. Isso implica um aumento de cerca de 5% na conta de energia, em vez dos 10% esperados com a bandeira mais alta.
A decisão de reverter para a bandeira vermelha 1 foi motivada por uma revisão de cálculos realizada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que identificou um erro na avaliação do despacho de usinas. O ministro Silveira também indicou que a conta bandeira está superavitária, o que permite uma revisão para níveis menores de cobrança e a possibilidade de manter bandeiras mais baixas por algum tempo.
O Desafio das Fontes Renováveis e a Dependência da Energia Hidrelétrica
Apesar da ampla oferta de energia renovável no Brasil, que representa 84% da matriz energética nacional — muito superior à média global de 28% —, o país enfrenta desafios significativos relacionados à dependência das hidrelétricas. As energias eólica e solar, embora em crescimento, ainda representam uma fração pequena da matriz energética. O especialista Emerson Carvalho, professor da Unicamp, observa que a contribuição dessas fontes alternativas é atualmente insuficiente para garantir a segurança energética necessária.
A geração solar, por exemplo, deixa de fornecer energia ao pôr do sol, exatamente quando o consumo atinge seu pico, por volta das 18h. A mesma limitação ocorre com a energia eólica e, futuramente, poderá se estender à energia hidrelétrica, considerando a seca prolongada que afeta até mesmo regiões como Manaus.
A Visão do Governo e a Necessidade de Equilíbrio
O ministro Alexandre Silveira reconhece a necessidade de equilibrar a modicidade tarifária com a segurança energética. Embora as energias renováveis estejam em desenvolvimento e apresentem um custo acessível, ainda não oferecem a confiabilidade necessária para substituir as hidrelétricas de forma significativa no curto prazo. A estratégia do governo é continuar com investimentos de médio e longo prazo em fontes renováveis enquanto gerencia a crise atual com medidas temporárias.
A dificuldade em avançar com alternativas viáveis é um desafio crítico. A geração solar e eólica precisa de décadas para alcançar uma contribuição significativa para a matriz energética, conforme as projeções climáticas. Em paralelo, o governo deve garantir que todos os instrumentos necessários para manter a segurança energética estejam disponíveis, evitando a necessidade de acionar usinas termelétricas mais caras que possam aumentar ainda mais a conta de energia dos brasileiros.
O Brasil enfrenta um cenário energético desafiador devido à pior seca dos últimos anos, que impacta diretamente a geração de energia e a inflação. As medidas adotadas pelo governo, como a manutenção da bandeira vermelha 1 e a revisão de cálculos pela CCEE, visam mitigar os impactos financeiros sobre os consumidores. No entanto, a dependência das hidrelétricas e a limitação das fontes renováveis destacam a necessidade urgente de diversificação e investimentos em novas tecnologias energéticas.
A crise atual serve como um alerta para a importância de continuar avançando nas alternativas de energia renovável e na gestão eficiente dos recursos hídricos. Enquanto isso, o governo e os especialistas trabalham para equilibrar a modicidade tarifária com a segurança energética, buscando soluções que garantam um fornecimento estável e sustentável para o futuro.