B3 recebe auto de infração da Receita Federal e prepara defesa sobre amortização de ágio
A B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) informou que recebeu um auto de infração da Receita Federal, referente aos exercícios fiscais de 2021 e 2022, em um processo que envolve a amortização de ágio decorrente da incorporação das ações da Bovespa Holding S.A. pela antiga BM&FBOVESPA. A companhia destacou que irá apresentar impugnação dentro do prazo regulamentar, reafirmando a legalidade de todos os procedimentos realizados.
Entenda o caso: o que motivou o auto de infração
O auto de infração emitido pela Receita Federal questiona o aproveitamento do ágio contábil resultante da operação de incorporação entre a Bovespa Holding e a BM&FBOVESPA, concluída antes da formação da B3. Esse tipo de ágio ocorre quando há diferença entre o valor contábil e o preço pago pelas ações durante processos de fusão ou aquisição.
Segundo a empresa, toda a operação foi estruturada de acordo com a legislação fiscal vigente, obedecendo às regras aplicáveis sobre amortização de ágio. A B3 ressalta que o procedimento seguiu o mesmo entendimento jurídico reconhecido em decisões anteriores favoráveis no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão responsável por analisar contestações tributárias em última instância administrativa.
Decisões anteriores fortalecem a defesa da B3
Nos últimos anos, a B3 obteve duas decisões definitivas no Carf, em 2024 e 2025, que anularam autos de infração semelhantes referentes ao mesmo tema. Esses julgamentos reforçam o argumento da companhia de que o ágio foi constituído e amortizado corretamente, sem irregularidades tributárias.
Essas decisões, consideradas transitadas em julgado no âmbito administrativo, são um precedente importante para a nova disputa. Especialistas em direito tributário afirmam que o histórico favorável pode servir de base sólida para anular o novo auto de infração, caso o mesmo repita a interpretação já descartada pelo conselho.
Impacto financeiro e fiscal para a B3
A B3 informou que não houve aproveitamento significativo de prejuízos fiscais relacionados à amortização do ágio após 2022. Isso significa que, mesmo que houvesse algum questionamento por parte da Receita Federal, o impacto financeiro seria limitado, uma vez que os efeitos práticos da amortização foram reduzidos nos exercícios seguintes.
Além disso, a companhia reforçou seu compromisso com a transparência contábil e a conformidade fiscal, destacando que todas as demonstrações financeiras são auditadas e divulgadas conforme as normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e padrões internacionais de contabilidade (IFRS).
Contexto histórico: fusão que deu origem à B3
O ágio amortizado que está no centro da disputa fiscal teve origem na incorporação da Bovespa Holding S.A. pela BM&FBOVESPA, concluída antes da criação da B3. A fusão foi parte do movimento de consolidação das bolsas brasileiras, culminando na formação da atual B3 – Brasil, Bolsa, Balcão, uma das maiores infraestruturas de mercado financeiro da América Latina.
À época, a operação seguiu todas as regras da legislação tributária, que permite o reconhecimento e a amortização do ágio em determinadas condições, especialmente quando há sinergia econômica e ganho de mercado decorrente da fusão.
Defesa da companhia e próximos passos
A B3 declarou que apresentará impugnação formal ao auto de infração dentro do prazo regulamentar e reafirmará seu entendimento jurídico sobre a regularidade da operação. A empresa também reiterou que o ágio foi constituído conforme as normas fiscais e que não há indícios de irregularidades.
O processo agora seguirá para análise administrativa, onde a Receita Federal poderá revisar sua posição. Caso o órgão mantenha a autuação, a B3 ainda poderá recorrer novamente ao Carf, instância na qual já possui precedentes favoráveis.
Repercussão no mercado e percepção dos investidores
A notícia do auto de infração da Receita Federal tende a gerar atenção temporária entre investidores, especialmente em relação a potenciais contingências tributárias. No entanto, como o impacto financeiro é considerado não relevante, analistas de mercado acreditam que não há risco material para os resultados ou para o desempenho das ações da B3 no curto prazo.
Investidores institucionais avaliam que, dado o histórico de vitórias no Carf, o risco jurídico é baixo e o episódio não deve comprometer a credibilidade da empresa junto ao mercado.
Análise jurídica: o debate sobre amortização de ágio
A controvérsia sobre amortização de ágio é antiga no ambiente tributário brasileiro. O ponto central está na interpretação da Receita Federal sobre quando e como esse benefício pode ser aplicado após fusões e aquisições. Para o Fisco, em muitos casos, o ágio não reflete ganho econômico real, mas uma manobra para reduzir o pagamento de impostos.
Empresas e tributaristas, por outro lado, argumentam que o ágio é um instrumento legítimo, reconhecido pela legislação e necessário para refletir o valor econômico agregado em processos de incorporação. A jurisprudência do Carf tem oscilado ao longo dos anos, mas, em casos recentes, o conselho tem validado a amortização quando há comprovação de propósito negocial e aderência às normas fiscais.
Transparência e governança corporativa
A B3 reforça que mantém uma política rigorosa de governança corporativa e que segue práticas de compliance tributário alinhadas aos mais altos padrões do mercado. A empresa possui controles internos auditados e processos internos que visam garantir total aderência à legislação fiscal e contábil.
A postura de divulgar rapidamente o recebimento do auto de infração à CVM é um sinal de transparência e responsabilidade com o investidor, assegurando que o mercado tenha acesso a informações relevantes de maneira tempestiva e clara.
Perspectivas futuras
Com base nas decisões anteriores do Carf e na ausência de impacto fiscal relevante, a expectativa é de que o caso seja resolvido sem efeitos significativos sobre o balanço da B3. A empresa segue confiante de que seu entendimento jurídico prevalecerá e que o ágio amortizado será reconhecido como legítimo.
O episódio reforça a importância do debate sobre segurança jurídica e estabilidade tributária no Brasil — temas centrais para o ambiente de negócios e para o fortalecimento do mercado de capitais.






