- Bolsas europeias recuam com ações de defesa em queda antes da reunião Trump-Putin
Clima de cautela domina os mercados antes de negociações sobre a guerra na Ucrânia
As Bolsas europeias abriram a semana em terreno negativo nesta segunda-feira (11), refletindo uma combinação de fatores geopolíticos e corporativos que pressionaram o apetite por risco. O recuo interrompeu o ímpeto positivo observado na semana anterior e teve como principal vetor a forte queda das ações do setor de defesa, em meio à possibilidade de um acordo de cessar-fogo na Ucrânia, que vem sendo discutido entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin.
A reunião entre os dois líderes está marcada para sexta-feira (15), no Alasca, e deverá discutir diretamente o fim da guerra que já dura três anos e meio. Lideranças europeias vêm defendendo a inclusão do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas negociações de paz, o que aumenta as expectativas e as tensões nos mercados.
Stoxx 600 estável, mas com setores pressionados
Por volta das 6h35 (horário de Brasília), o índice pan-europeu Stoxx 600 registrava estabilidade, marcando 547,06 pontos. Apesar da variação modesta no índice agregado, a composição setorial mostrava quedas relevantes em companhias ligadas à indústria bélica, especialmente na Alemanha.
Em Frankfurt, as ações da Rheinmetall recuavam 4,2%, enquanto a Renk caía quase 3% e a Hensoldt perdia 1%. O movimento reflete o temor de que um cessar-fogo reduza a demanda por equipamentos militares, afetando receitas futuras e projeções de crescimento dessas empresas.
Orsted lidera perdas após anúncio bilionário
O destaque negativo do pregão, contudo, veio do setor de energia renovável. A dinamarquesa Orsted despencava 28% na Bolsa de Copenhague após anunciar planos para uma emissão de direitos equivalente a US$ 9,4 bilhões. A medida, segundo a empresa, é necessária para reforçar seu balanço diante das dificuldades no mercado de energia eólica offshore dos Estados Unidos, onde enfrenta atrasos em projetos e aumento de custos.
Essa queda expressiva da Orsted impactou fortemente o subíndice de utilities do Stoxx 600, adicionando mais pressão sobre o desempenho geral das Bolsas europeias.
Desempenho das principais praças
Às 6h50 (de Brasília), o comportamento das Bolsas europeias era o seguinte:
Paris (CAC 40): queda de 0,18%
Frankfurt (DAX): recuo de 0,15%
Londres (FTSE 100): alta de 0,21%
Madri (Ibex 35): queda de 0,47%
Lisboa (PSI 20): queda de 0,66%
Milão (FTSE MIB): alta de 0,12%
Essa divergência nos resultados reflete as especificidades econômicas e corporativas de cada mercado, além da influência diferenciada da expectativa de cessar-fogo sobre os setores de defesa e energia.
Geopolítica como fator de risco e oportunidade
Os investidores permanecem atentos à agenda internacional, especialmente aos desdobramentos da reunião Trump-Putin. Caso o encontro resulte em avanços concretos para um acordo de paz na Ucrânia, o impacto imediato poderá ser negativo para ações de defesa, mas positivo para setores como infraestrutura, agricultura e transporte, que seriam beneficiados pela normalização das cadeias de suprimentos.
No entanto, analistas alertam que, mesmo em um cenário de cessar-fogo, a recuperação econômica e a estabilização geopolítica podem levar tempo, mantendo a volatilidade nas Bolsas europeias no curto prazo.
Alemanha sob tensão política
Além das questões externas, o mercado alemão também enfrenta incertezas internas. Na semana passada, o líder conservador e chanceler designado, Friedrich Merz, não conseguiu obter maioria na primeira votação do Bundestag para assumir oficialmente o cargo de chanceler. O revés inesperado adicionou volatilidade ao DAX, que chegou a cair cerca de 1% no pregão seguinte ao anúncio.
Esse impasse político reforça a percepção de que a maior economia da Europa atravessa um período delicado, com riscos que vão além da conjuntura internacional.
Perspectivas para o curto prazo
Especialistas consultados por casas de análise preveem que a semana será marcada por oscilações moderadas, com investidores adotando postura mais defensiva até que haja clareza sobre o resultado da reunião entre Trump e Putin. A divulgação de indicadores econômicos relevantes na Europa e nos EUA também poderá influenciar o humor dos mercados.
Entre os dados esperados estão as novas projeções do Banco Central Europeu (BCE) e os números de inflação ao consumidor na zona do euro, que serão divulgados ainda nesta semana. Qualquer sinal de que a política monetária poderá se manter restritiva por mais tempo tende a impactar negativamente as Bolsas europeias.
Setores a serem observados
No curto prazo, analistas recomendam atenção especial a:
Empresas de defesa: sensíveis a mudanças no cenário geopolítico.
Energia renovável: ainda enfrentando desafios de custos e investimentos.
Bancos europeus: monitorando política monetária e risco de crédito.
Tecnologia: setores de crescimento podem ser afetados por juros mais altos.
O recuo das Bolsas europeias nesta segunda-feira ilustra como a combinação de fatores geopolíticos, corporativos e macroeconômicos influencia diretamente a tomada de decisão dos investidores. A expectativa por um cessar-fogo na Ucrânia, somada a questões internas como a instabilidade política alemã e as dificuldades no setor de energia renovável, cria um cenário de cautela que deve persistir até a reunião entre Trump e Putin.
Enquanto isso, o mercado seguirá buscando sinais que permitam calibrar as apostas para o restante de agosto, um mês que tradicionalmente apresenta menor liquidez, mas elevada sensibilidade a eventos inesperados.






