Brasil e Indonésia assinam acordos de cooperação em energia, agricultura e comércio durante visita de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) consolidou um novo marco nas relações diplomáticas entre Brasil e Indonésia, com a assinatura de uma série de acordos de cooperação bilateral nas áreas de energia, mineração, agricultura, ciência, tecnologia, estatística e comércio. O encontro, realizado nesta quinta-feira (23/10) no Palácio Merdeka, em Jacarta, contou com a presença do presidente indonésio Prabowo Subianto, além de ministros e representantes do setor empresarial de ambos os países.
Com esse movimento estratégico, o Brasil busca ampliar sua presença econômica no sudeste asiático, ao mesmo tempo em que fortalece laços políticos e comerciais com uma das economias mais dinâmicas da região. A Indonésia, por sua vez, vê no Brasil um parceiro essencial na segurança alimentar e energética, reforçando a cooperação Sul-Sul e o papel dos países em desenvolvimento na nova ordem global.
Acordos fortalecem parceria entre Brasil e Indonésia
Entre os principais atos firmados, destacam-se os memorandos de entendimento nas áreas de energia, mineração e agricultura, considerados pilares centrais da parceria estratégica.
O presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, assinou um memorando de entendimento com a Câmara de Comércio e Indústria da Indonésia (Kadin), com o objetivo de ampliar o fluxo de exportações e investimentos bilaterais.
O documento estabelece mecanismos de cooperação para estimular negócios entre empresas dos dois países, especialmente nos setores de infraestrutura, biocombustíveis, alimentos, tecnologia e inovação.
Além disso, o empresário Wesley Batista, representante da JBS, fechou um acordo voltado à exportação de proteína animal brasileira para o mercado indonésio — um passo importante para diversificar o destino das exportações brasileiras e reduzir a dependência de mercados como China e União Europeia.
Parceria estratégica na agricultura e proteína animal
Um dos pontos mais relevantes da visita foi o avanço nas negociações sobre a exportação de carne bovina e de frango do Brasil para a Indonésia.
O acordo com a JBS abre caminho para a entrada definitiva da proteína animal brasileira em um dos mercados mais populosos do mundo, com mais de 275 milhões de habitantes e uma demanda crescente por alimentos.
A Indonésia é o quarto país mais populoso do planeta e apresenta um mercado em expansão para produtos de origem animal, especialmente diante da urbanização acelerada e da ampliação da renda média.
Para o Brasil, o acordo representa oportunidades bilionárias para o agronegócio, consolidando o país como fornecedor global de alimentos e ampliando sua presença no mercado asiático.
Especialistas ressaltam que, além da exportação de carnes, o memorando pode abrir espaço para futuras parcerias em soja, milho, café, açúcar e etanol, produtos em que o Brasil é referência mundial.
Energia e mineração: novos horizontes de cooperação
Outra frente de destaque dos acordos é o setor energético e mineral, com foco em fontes renováveis, biocombustíveis e tecnologias de baixo carbono.
A Indonésia, rica em reservas de níquel e cobre, busca acelerar sua transição energética e expandir o uso de biocombustíveis — área em que o Brasil é líder mundial, graças à experiência acumulada com o etanol e o biodiesel.
Nesse contexto, os dois países concordaram em desenvolver projetos conjuntos de pesquisa e inovação tecnológica, além de promover investimentos cruzados em cadeias produtivas sustentáveis.
O acordo prevê ainda o intercâmbio técnico entre agências reguladoras e empresas estatais, permitindo que especialistas brasileiros e indonésios compartilhem conhecimento sobre exploração responsável de recursos naturais, transição energética e regulação ambiental.
Comércio e investimentos bilaterais em expansão
O comércio entre Brasil e Indonésia vem crescendo de forma consistente nos últimos anos, mas ainda há potencial inexplorado. Em 2024, o fluxo comercial entre os dois países ultrapassou US$ 5 bilhões, com superávit para o Brasil impulsionado pela exportação de óleo de soja, milho e carne bovina.
Com os novos acordos, a expectativa é de que esse volume cresça significativamente a partir de 2026, com maior diversificação de produtos e ampliação de investimentos em infraestrutura logística e digital.
O memorando assinado pela ApexBrasil também prevê missões empresariais regulares, feiras de negócios e rodadas de investimento, fortalecendo o intercâmbio entre empresários brasileiros e indonésios.
De acordo com Jorge Viana, a parceria com a Kadin marca o início de uma nova fase das relações econômicas bilaterais, baseada em sustentabilidade, inovação e geração de empregos.
Cooperação científica e tecnológica
Além dos setores produtivos, Brasil e Indonésia também firmaram memorandos de cooperação científica e tecnológica, com foco em pesquisa agrícola, estatística, inteligência artificial e biotecnologia.
As universidades e centros de pesquisa dos dois países deverão desenvolver projetos conjuntos em áreas como monitoramento climático, uso sustentável da Amazônia e biotecnologia aplicada à agricultura tropical.
Essa aproximação científica é estratégica para ambos os países, que possuem biomas tropicais ricos e desafios semelhantes na conservação ambiental e no uso de tecnologias verdes.
O acordo também prevê intercâmbio de estudantes, pesquisadores e técnicos, com o objetivo de fortalecer o conhecimento mútuo e a formação de mão de obra qualificada.
Lula reforça política externa de cooperação Sul-Sul
Durante o evento, o presidente Lula destacou que o Brasil busca reconstruir sua política externa baseada no diálogo, na diplomacia e na integração entre países em desenvolvimento.
O encontro com Prabowo Subianto reforça a retomada da agenda de cooperação Sul-Sul, um dos pilares históricos da diplomacia brasileira.
Desde o início de seu mandato, Lula tem priorizado a reaproximação com países da Ásia, África e Oriente Médio, com o objetivo de diversificar parceiros comerciais e reduzir a dependência de mercados tradicionais como os Estados Unidos e a União Europeia.
Analistas apontam que a aproximação com a Indonésia — maior economia do Sudeste Asiático e membro do G20 — fortalece o papel do Brasil como líder regional e ator global relevante em temas como sustentabilidade, segurança alimentar e transição energética.
O papel da Indonésia na estratégia brasileira
A Indonésia é vista como parceiro estratégico para o Brasil por várias razões:
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É a maior economia do Sudeste Asiático e membro da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN);
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Possui uma população de mais de 275 milhões de habitantes, representando um mercado consumidor em rápido crescimento;
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É grande importadora de alimentos e energia, setores em que o Brasil se destaca como potência global;
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Atua como ponte entre a Ásia e o Pacífico, o que amplia as oportunidades logísticas para o comércio brasileiro.
O fortalecimento da relação bilateral também pode facilitar negociações futuras entre o Mercosul e a ASEAN, ampliando a presença do bloco sul-americano em um dos mercados mais promissores do mundo.
A diplomacia econômica e os desafios do futuro
Os novos acordos entre Brasil e Indonésia sinalizam um avanço concreto na estratégia de internacionalização da economia brasileira.
O governo aposta em uma diplomacia econômica ativa, combinando atração de investimentos, diversificação de parceiros e promoção de exportações de alto valor agregado.
No entanto, especialistas alertam que o sucesso dessa aproximação dependerá de avanços logísticos, redução da burocracia e estabilidade regulatória no Brasil, fatores essenciais para atrair investidores estrangeiros de longo prazo.
A expectativa é que, nos próximos meses, os governos de Lula e Subianto estabeleçam grupos de trabalho permanentes para monitorar a execução dos acordos e definir metas concretas de cooperação, com foco em crescimento sustentável e inovação tecnológica.
Significado geopolítico da visita
A visita de Lula à Indonésia não é apenas um evento econômico, mas também um gesto simbólico de reposicionamento do Brasil no cenário global.
Ao estreitar laços com uma das maiores democracias do mundo islâmico, o Brasil fortalece sua imagem como país moderador e parceiro confiável, capaz de dialogar com diferentes blocos políticos e culturais.
O movimento também ocorre em um momento em que potências ocidentais disputam influência na Ásia — e a presença de Lula sinaliza que o Brasil pretende atuar de forma autônoma e pragmática, buscando parcerias baseadas em interesses mútuos e cooperação entre iguais.






